segunda-feira, 8 de março de 2021

O ano em que o WikiLeaks mudou o mundo Episódio 11 – O fim.

 

Julian Assange e filho - Ilustração: Helton Mattei/Agência Pública

O ano em que o WikiLeaks mudou o mundo


Caro leitor, Chegamos ao capítulo final desta newsletter, que eu espero que tenha sido tão renovadora para vocês como foi para mim. Rememorar, viajar nas memórias de um tempo em que acreditávamos no futuro tem sido um enorme curativo em um tempo em que qualquer esperança parece vã. Recebi muitos e-mails de leitores sugerindo que a minha história vire um livro ou podcast; por ora, convido quem quiser seguir me lendo a acompanhar o lançamento do meu livro “Dano Colateral”, que sai pela Editora Objetiva em junho, sobre um assunto completamente diferente: a intervenção dos militares na segurança pública e na política. Também os convido a assinar a newsletter semanal da Pública, que eu escrevo junto com os demais diretores, toda sexta-feira. Agora, vamos para nosso último episódio!
8 de março de 2021

Episódio 11 – O fim.

De volta a São Paulo, eu tive pouco tempo para pensar nos eventos que se seguiram ao aniversário de Julian, porque a Agência Pública começava a tomar corpo e forma, e minha relação com Kristinn caminhava muito bem, obrigada. Nos comunicávamos a cada dois dias, por Skype, email, mensagem de Facebook ou telefone – o Whatsapp ainda não era uma realidade naquela época. 

Não demorou quase nada, e Kristinn me convenceu a viajar de novo para encontrá-lo. Ele aceitara um convite para comparecer a uma conferência no Chile – fizera isso pela proximidade com o Brasil – e convencera os organizadores a pagar minha viagem como sua “assistente” ou “secretária”.  O papel não me agradava, obviamente; por eu ser uma jornalista com minha própria trajetória, mas também pela incômoda sensação que aquela não era a primeira vez que ele fazia aquilo. Mas, na pindaíba como sempre, e com muita saudade, tomei o avião em 23 de agosto rumo a Santiago, onde Kristinn era um dos palestrantes mais esperados no encontro organizado pelo Grupo de Diarios América (GDA), que inclui vários jornalões do continente, como O Globo, El Universal, do México, La Nación, da Costa Rica, El Tiempo, da Colômbia e El Mercurio, do Chile, periódico que seria o anfitrião aquele ano. 

Mas havia algo errado com Kristinn naquela tarde, algo de um tamanho que eu nunca tinha visto antes. Seu pensamento estava longe, e isso só transparecia mais quando ele se desdobrava em atenções mecânicas, na tentativa de esconder algo. Eu cheguei eufórica ao aeroporto de Santiago naquela manhã para a primeira viagem que faríamos juntos, mas ele simplesmente não apareceu no aeroporto. Ele tampouco atendia ao telefone (Kris sempre andava com o seu número da Islândia onde quer que fosse). Pra fugir do mau humor, optei por pegar um ônibus rumo ao hotel, reconhecendo o caminho de uma das minhas cidades favoritas na América Latina com vagar, até o hotel. Ali, procurei-o no quarto, ele não estava. Até que finalmente o encontrei no bar do hotel dando uma entrevista para uma repórter da TV local. 

Kristinn levantou-se de imediato: “O que você faz aqui? Estava esperando que me ligasse!” E eu expliquei que liguei, liguei diversas vezes e tive que vir de ônibus, porra, e a jornalista se desculpou para chamar a atenção do porta-voz, “se tiverem algum material, adoraríamos ser parceiros”, como todos diziam àquela altura. Finalmente, mais calmos e longe dos olhares da imprensa local, nos abraçamos no elevador. Eu estava tão feliz que o puxei para o quarto, rapidamente, mas ele se afastou quando entramos. Foi até a janela, acendeu um cigarro, e ficou com o olhar parado entre as cortinas brancas. Lá fora, os prédios charmosos, baixos, e as ruas tranquilas de Santiago. Já começava a anoitecer. “Eu posso confiar em você, Natalia?”

A pergunta foi um raio que me atingiu, me dilacerou. Quis sair correndo. “Que porra é essa? Estou aqui no seu hotel, viajei mais de 3 mil quilômetros, como você tem coragem?” 

“Tem uma coisa, eu não devia te contar, mas não vou conseguir mesmo”, disse, e sentou-a na cama. “Julian me diz que todos os documentos vão vazar”.

– Como assim? Todos os 250 mil documentos?
– Todos. É complicado. O Guardian publicou no seu livro as chaves para um arquivo seguro que está disponível na internet. O arquivo está acessível para qualquer um, com uma criptografia forte, mas com a chave qualquer um pode acessá-lo.
– Mas como assim? Com todos os nomes, sem edição?
– Sim.

O leitor que me acompanha nesse relato sabe o quanto todos nós fizemos um enorme esforço para retirar aqueles nomes dos documentos que seriam publicados no site do WikiLeaks. Que todos os jornais eram obrigados pelo acordo assinado a ler e retirar quaisquer nomes que pudessem sofrer represálias. Que eu mesma lera, sozinha, mais de 3 mil documentos durante noites e noites em claro, caramba! “Mas e todos os nomes que a gente retirou, todos os milhares de documentos que a gente reviu antes de publicar”, perguntei. “Todos vão ser publicados”, disse Krrstinn. “E você não sabia disso?”, perguntei. “Não, disse ele, tragando fundo o cigarro”.  

Era o começo do fim, eu senti com uma pontada que eu não saberia explicar até muitos anos depois. Eu me sentia traída: afinal, a criptografia do WikiLeaks não era assim tão super-poderosa? Mas não era tão simples assim. Kristinn simplesmente olhava para mim. “Vamos ver no que vai dar. Talvez ainda consigam reverter isso”.

Continuamos um bom tempo em silêncio até que Kris foi chamado para uma reunião por Skype e eu fui terminar um frila que tinha que entregar naquela noite. Passaram-se algumas horas antes que ele me pedisse desculpas pela péssima recepção, já no jantar em uma das ruelinhas boêmias e cheias de bares do centro de Santiago. E decidimos seguir, juntos.

No dia 25 de agosto, Julian Assange e Sarah Harrison tentaram alertar o Departamento de Estado americano. A cena foi capturada pelas lentes da documentarista Laura Poitras, diretora de “Risk”, e tem um quê de patético. Nela, Sarah liga para o departamento de Estado e diz, secamente: “Eu gostaria de falar com Hillary Clinton”. Depois de muitos leva a traz, ela tem que explicar para Assange, do outro lado da mesa redonda de Ellingham Hall: “Você não está no mesmo nível dela”. No dia seguinte, dia 26, eles receberam a ligação de um advogado do Departamento de Estado, Cliff Johnson. O improvável diálogo foi transcrito pelo WikiLeaks e pode ser lido aqui

Eis a história. O jornal alemão Freitag havia publicado uma reportagem anunciando ter acessado o conteúdo integral de todos os documentos do WikiLeaks a partir de um arquivo criptografado disponível na internet. Eles conseguiram isso graças a um ex-funcionário e agora arqui-inimigo de Julian, o alemão Daniel Domscheit-Berg, que avisou a eles como acessar o arquivo para provar que o site do Wikileaks não era tão confiável e seguro quanto Assange dizia. O arquivo funcionaria como uma espécie de “seguro” caso acontecesse algo com Asssange ou o WikiLeaks. Só tinha um problema: a chave para a criptografia havia se tornado pública, pois havia sido publicada pelo editor do Guardian David Leigh, em seu livro (não apenas no seu livro; era o título de um dos capítulos). 

Uma sequência de trapalhadas típica dos três Patetas, só que na era digital.

Ao telefone com o advogado do governo americano, Julian pede que eles avisem e protejam todos os seus informantes; é direto: “Nós não temos um problema, vocês têm um problema”. Em seguida, Assange avisa que tentou refrear a publicação da informação sobre a localização dos arquivos junto ao jornal alemão, mas sem sucesso. E sugere que o Departamento de Estado tente exercer pressão sobre o jornal para não publicar os detalhes, um pedido que soa até esquisito vindo de Assange.      

O fato é que naqueles dias a coisa toda dava sinais de que ia explodir. No final daquela semana, no dia 30 de Agosto, o porta-voz do Departamento de Estado diria para a AP que “qualquer serviço de segurança de um governo autocrático” provavelmente já estaria com as mãos no arquivo. 

Quando acordamos no dia seguinte, Kristinn parecia ser outra pessoa. Durante sua palestra, manteve sua postura altiva, capaz de arrancar palmas da plateia no meio de suas falas dramáticas. Disse que o  WikiLeaks mudou o papel do jornalismo e “tornou os jornalistas mais corajosos”. 

Ali havia uma congregação dos executivos de alguns dos mais conservadores veículos da América Latina, que avidamente queriam saber como se beneficiar dessa onda de popularidade que o Wikileaks obteve, e como podiam se acercar da mina de ouro de documentos secretos. “Vocês terão mais parceiros latino-americanos?”, encerrou a palestra uma jornalista, e Kristinn, diplomaticamente, respondeu que “sim, claro, vocês estão na nossa lista”, antes de sair para o coffee break e não voltar mais – nós saímos de fininho porque, a poucas quadras dali, explodiam protestos estudantis contra os contra o alto custo da educação superior no país, privatizada na época da ditadura de Pinochet, cujas leis seguiam intactas, que estava tomando toda a cidade e era isso que ambos, repórteres de alma, queríamos ver. Como os estudantes, chamados “penguinos”, fomos recebidos com jato d'água com spray de pimenta pelas ruas; eu caí no chão e fui espancada com o cassetete da repressão de um guarda chileno ao agachar para me proteger. As porradas foram nas costelas e no joelho, com precisão. Mais adiante, o mesmo guarda não teve coragem de baixar o cassetete contra o alto e grisalho islandês, que o interrompeu quando levantava o braço gritando: “how dare you?”. 

Voltei mancando, e publicamos uma reportagem no site da pública com meu texto e o vídeo que Kristinn filmou naquela tarde. Kristinn revoltado com meu espancamento, voltou o caminho todo xingando a polícia e a desastrosamente conservadora cobertura do El Mercurio, o jornal que era  anfitrião do Congresso, cuja manchete no dia seguinte dizia que doze policiais haviam sido feridos pela turba de delinquentes, ou algo que o valha. Naquela noite, o diretor do jornal chileno nos levou a uma chiquérrimo jantar de despedida e propôs um brinde à maravilhosa Santiago, insistindo que geralmente não são assim as ruas da cidade, são muito mais agradáveis, esqueçam esses moleques arruaceiros, mas isso logo vai passar, graças a deus, pediu desculpas e ergueu sua taça de bom vinho de uva Carmenére. Eu coloquei um vestido bem longo pra não transparecer as marcas dos cassetetes tão apoiados por aqueles senhores. E sorri amarelo durante todo o jantar.  

Quando cheguei em casa, em São Paulo, a internet já estava em polvorosa com o boato sobre um vazamento total dos documentos. “Kris, mas eu achei que o problema ia ser solucionado”, escrevi em um chat. “Não, vai acontecer”, disse ele, numa calma que me deu calafrios. “Vai ser nos próximos dias”.

Em Ellingham Hall a notícia gerara revolta, ira, e com o tempo uma enorme sensação de tristeza. “Como está você?”, perguntei numa madrugada pelo chat criptografado, a Sarah Harrison. “Mal. As coisas estão muito ruins”, respondeu ela.  

No dia 1 de setembro, o WikiLeaks publicou uma nota à imprensa explicando a história e acusando o Guardian de negligência ao publicar a senha. 

E no dia seguinte Julian, de maneira corajosa, devo dizer, e bastante pouco convencional, como não poderia deixar de ser, decidiu publicar no site do WikiLeaks todos os 251.287 documentos das embaixadas americanas provenientes de todo o mundo. Sua lógica era a seguinte: apenas o WikiLeaks poderia garantir a autenticidade e veracidade das informações dos documentos diplomáticos. Se ele não publicasse todo o arquivo, e logo, documentos poderiam ser forjados e, aí, sim, usados para atacar pessoas e organizações que não tinham nada a ver com o pato. Hoje eu percebo que Assange sabia que estava se entregando em sacrifício com essa decisão. Dez anos depois, é a publicação dos arquivos com todos os nomes que sustenta as principais acusações contra Julian e o mantém na prisão há um ano e meio e onde dizem que ele está perdendo suas capacidades mentais. Seu raciocínio brilhante.     

A publicação aconteceu no dia 2 de setembro de 2011. Logo depois, em um comunicado conjunto, os primeiros parceiros do WikiLeaks – o Guardian, o El País, o Der Spiegel e o Le Monde – “deploraram” a publicação dos documentos pelo site, afirmando que “pode colocar vidas em risco”. “Não podemos defender a publicação desnecessária do conjunto inteiro de documentos – estamos todos unidos, na verdade, ao condená-la”, diz o comunicado. 

Foi um final melancólico para o vazamentos de documentos mais significativos da história do jornalismo. Um divisor de águas. 

Na minha vida, existe um antes e um depois do Cablegate. 

Eu não sabia disso na época, claro. Embora as parcerias editoriais tenham rareado, segui acompanhando o WikiLeaks por mais um ano e meio, enquanto durou meu relacionamento com Kristinn. Fomos juntos para o Primeiro Encontro Internacional de Blogueiros, na Usina de Itaipu – ele aceitou o convite para poder me ver – onde ele de fato foi um pop-star, de tal maneira que eu tive que fazer as vezes de segurança, empurrando a multidão que queria um autógrafo, um pedaço dele a qualquer custo. 

Também ali, em Foz do Iguaçu, eu vi os olhos azuis de um velho islandês brilharem quando ele viu pela primeira vez uma tempestade tropical, arrancando árvores e objetos e folhas e tudo pelo caminho. Ao ver aquilo da janela – me lembro como se fosse hoje – Kris gargalhava como uma criança. Visitamos alguns países, passamos férias juntos, conheci sua família e ele a minha, afeiçoei-me demais dos seus filhos e da Islândia, que visitei no alto inverno e no alto verão – parecia que tudo, até mesmo as pessoas, eram completamente diferentes em uma estação e na outra, mas o pôr do sol, que se perpetuava por horas a fio, permanecia colorido, fosse no solstício de verão fosse no solstício de inverno.

Não vi a aurora boreal. Mas conheci a Björk (juro!), uma das minhas cantoras favoritas, numa noite em um pub e até consegui travar uma boa conversa com ela – ela estava vindo para uma turnê na Argentina, e foi simpaticíssima com a namorada do Kris, que ela conhecia de alguma escola em que estudaram juntos.             

Meu coração apertou e pensei antes de tudo no Kris quando soube que Julian Assange tinha entrado na embaixada do Equador em 19 de junho de 2012. Liguei na hora, e encontrei o meu querido islandês, mais uma vez, irritadíssimo e totalmente surpreso. Acalmei-o, daquela vez. Se eles tinham certeza que quem estava por trás do caso da Suécia era o governo americano, não havia muito mais o que fazer. Cinco dias antes, a Corte Suprema do Reino Unido havia decidido que Assange deveria ser extraditado para a Suécia e ponto final. Não cabia mais recurso. Ao pedir asilo ao Equador, Assange conseguiu atrasar seu embate final com os Estados Unidos por mais 8 anos. 

E ele sempre teve razão.     

Mas mesmo naquele curto telefonema algo estava diferente, talvez dentro de mim. Meu coração estava em outro lugar, de onde na verdade jamais saíra: aqui, na América Latina. No dia seguinte ao que Assange entrava na embaixada do Equador, uma comitiva de chanceleres dos países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) saíram às pressas da Conferência Rio + 20, onde eu estava, para tentar convencer o congresso do Paraguai a não proceder com um processo de impeachment contra o presidente, o bispo progressista Fernando Lugo, um processo fraudulento e sem base legal, que começou e terminou em menos de 24 horas. Em vão. 

Pouco depois eu fui investigar esses eventos que levaram ao impeachment. A instabilidade batia à porta de minha casa, nossa casa. Quatro anos depois, o impeachment de Dilma completava esse ciclo que começara lá atrás. E abriu-se uma caixa de pandora. 

No ano seguinte, quando Julian Assange ainda estava em contato com o mundo exterior de dentro da embaixada equatoriana em Londres, conversei com ele no dia de Natal. Dentro da embaixada, a temporada de férias sempre foi um desafio para o líder do Wikileaks. Com todos voltando para suas famílias e a internet ficando significativamente mais lenta, Assange ficava sozinho com seus pensamentos. Eu costumava ouvir muitos de seus amigos íntimos expressando preocupação com sua saúde durante esta época do ano.

Mas naquela tarde Assange me disse que estava bem. “Acabei de passar algum tempo olhando a biblioteca PlusD”, disse ele. “E fiquei orgulhoso do que fiz”. PlusD é a enorme biblioteca online construída pelo Wikileaks com cabos diplomáticos que datam da era Kissinger, mas também com 250.000 os vazamentos de cabos da embaixada dos EUA.

Eu guardei a sua resposta na memória. Não era o tom de autocongratulação que se poderia esperar de um homem que foi repetidamente retratado como um ativista arrogante. Era simples e claro. E verdadeiro. O trabalho que Assange fez na última década é, sem dúvida, notável.

Naquele fim de ano de 2013, eu havia viajado para um recanto esquecido da América Latina para escrever esse relato, que agora compartilho com vocês, depois de um ano especialmente conturbado. O Brasil ardia em chamas, algo estranho pairava no ar, e eu queria ficar sozinha. O WikiLeaks já não era nem sombra do que havia sido, e a Agência Pública me obrigava a cumprir funções que eu jamais havia sonhado para mim, como executiva e administradora de uma organização. 

Eu decidi escrever porque sonhava em, um dia, transformar essa história em livro. Talvez assim preenchesse o silêncio que ficou na minha vida quando Kristinn, em uma manhã qualquer no começo daquele ano, me enviou um email curto e seco. Ele disse que eu jamais seria feliz na Islândia, e ele não podia ficar longe dos filhos. “Tenho que seguir o que diz meu instinto”, escreveu.  E nunca mais falou comigo. 

Era um dia quente de verão e passei a tarde um pouco zonza. À noite, chovia torrencialmente, deitei-me na laje da minha casa, sob a chuva, esperando aquilo tudo passar junto com aquela aguaceira.

Tanta coisa aconteceu desde então; tudo passou. 

As principais pessoas com quem trabalhei acabaram se afastando do dia a dia do WikiLeaks, bastante exaustas; algumas seguiram no ativismo pela liberdade da informação ou fazendo  jornalismo investigativo de qualidade. Sempre que há um novo julgamento dentro dessa interminável e torturante trama jurídica para manter Assange preso, nos falamos, nos apoiamos. Visitei Julian Assange apenas uma vez na embaixada, e depois tentei vê-lo de novo, mas recebi a resposta que ele estava “com a agenda cheia”. 

Mas no ano passado, eu relembrei com ternura do tempo que passei com ele, e de todos os nossos embates, quando soube, ao mesmo tempo que toda a imprensa mundial, que Julian, mesmo preso e vigiado 24 horas por dia na embaixada do Equador pelo governo de Lenin Moreno – há acusações de que Lenin vendeu Julian aos EUA em troca de um empréstimo do FMI  – se abriu para os olhares persistentes de Stella Morris, e com ela teve dois filhos. 

O mais velho, Gabriel, é a cara do Julian. Não conversei com Stella – não a vejo há mais de sete anos – mas em uma entrevista para o programa 60 minutes, da TV americana ela disse: “ele é tão Julian”. Ele é. 

Pensei no meu amigo que conseguiu construir uma história tão sublime mesmo dentro dessa enlouquecedora prisão. E lembrei do que Julian nos disse, para mim, Eliza e Lino, quando o entrevistamos em 2011 para a Revista Trip. A pergunta era trivial, “como você se sente sendo a pessoa do mundo com mais segredos”, ou algo assim. 

Temos materiais em nossas mãos que podem influenciar o resultado de eleições, o curso de revoluções. É uma tremenda responsabilidade, e de certa maneira um fardo,  mas também, é algo que faz com que você viva a vida com intensidade”, ele disse.

“Nós só vivemos uma vez”. We only live once. 

Obrigada por acompanhar esta série. Se perdeu algum episódio, você pode encontrá-los em nosso arquivo.

E se quiser mais jornalismo de qualidade, assine as Newsletter da Agência Pública e do Meio.

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