Um feriado sem folga para o Palácio do Planalto, que enfrenta múltiplas frentes de problemas. No plano interno, a CPI da Covid amplia a pressão sobre Bolsonaro. No front externo, o início da Cúpula do Clima coloca todas as atenções do planeta sobre a condução da política ambiental do líder da extrema-direita brasileira. Enquanto isso, a miséria aumenta e as dificuldades para os pobres crescem à medida que a pandemia se aprofunda. São esses os principais temas dos quatro grandes jornais que circulam nesta quarta, 21 de abril.
As articulações em torno da CPI continuam, com viés de baixa para o Palácio do Planalto. No Globo, Míriam Leitão escreve que apesar dos esforços do governo, a relatoria de Renan Calheiros na CPI da Covid está "consolidada". Os ataques a Renan só azedaram os humores dos partidos que integram a CPI.
O entreguismo de Bolsonaro sobre o patrimônio público avança de maneira escancarada. Folha reporta que o governo reduziu em 70% preço de áreas do pré-sal que irão a segundo leilão. A oferta de dois blocos que não tiveram interessados em 2019 está prevista para dezembro. Será o primeiro leilão de oportunidades no pré-sal após o início da pandemia. As áreas, chamadas Atapu e Sépia, foram oferecidas em evento que ficou conhecido como o megaleilão do pré-sal, no qual o governo arrecadou R$ 69,9 bilhões com a concessão de outras duas áreas à Petrobras em parceria com estatais chinesas. Atapu e Sépia foram oferecidas, respectivamente, por R$ 13,7 bilhões e R$ 22,9 bilhões em 2019. Em reunião, o Conselho Nacional de Política Energética anunciou que na nova oferta os bônus serão de R$ 4 bilhões e R$ 7,1 bilhões.
Sobre os militares, o ministro da Defesa, General Braga Netto, surge no Estadão defendendo Bolsonaro. Ele diz que é preciso 'respeitar projeto escolhido pela maioria dos brasileiros'. Em evento de troca de comando do Exército, ministro disse que o país precisa estar unido contra qualquer iniciativa de 'desestabilização institucional' que altere o 'equilíbrio entre os Poderes'. Folha foi na mesma linha.
No Globo, Bernardo Mello Franco critica Braga Neto: "Ministro da Defesa faz de eventos das Forças Armadas comícios bolsonaristas". Na Folha, Bruno Boghossian vai na mesma linha ao dizer que militares mantêm escolta política e retórica golpista de Bolsonaro. "Novo ministro da Defesa indica que vai seguir discurso de intimidação do presidente", observa o colunista.
Parece que o racha nas FFAA está se aprofundando. Em posição diametralmente oposta a Braga Neto, o ex-comandante do Exército Edson Pujol parece se dar conta de que o embarque dos militares no governo Bolsonaro feriu a imagem da instituição. Ancelmo Góis, no Globo, informa que Pujol se queixou da atuação do ex-ministro da Saúde General Eduardo Pazuello. "Ferrou o Exército". A crítica teria sido feita por conta do episódio da compra de vacinas contra Covid-19.
LSN
Jornais relatam que a Câmara dos Deputados aprovou urgência e acelera projeto para substituir Lei de Segurança Nacional. A proposta para substituir legislação da ditadura deve contemplar prisão por uso de robôs para disparos em massa com notícias falsas nas eleições. A proposta deve contemplar prisão de até cinco anos e multa para quem usar robôs para fazer disparos em massa com notícias falsas que possam comprometer o processo eleitoral no país. A urgência foi aprovada por 386 votos a 57.
ELEIÇÕES 2022
Sobre o cenário eleitoral, a colunista Rosângela Bittar, do Estadão, sofre com a possibilidade de se repetir em 2022 o cenário com Lula disputando a Presidência com Bolsonaro. "Decisão do Supremo tornou possível o revival, a mesma urna de dois anos atrás", lamenta. "O risco do futuro é repetir o passado indesejado. Ou, diante da urna eletrônica de 2022, os eleitores viverem a mesma perplexidade que experimentaram em 2018".
ORÇAMENTO
Na economia, Estadão alerta que o acordo do governo com o Congresso para destravar o Orçamento de 2021 abre brecha para 'pedalada' no final do ano. Por conta do projeto aprovado na segunda-feira que modificou a LDO, surgiu a possibilidade de o governo jogar para 2022 gastos que teriam de ser executados ainda este ano. A medida seria feita por meio da Despesa de Exercícios Anteriores (DEA). Com acordo entre governo e Congresso, emendas parlamentares ficam em R$ 37 bilhões.
No briefing distribuído a assinantes, o New York Times aborda a crise sanitária brasileira. Diz que o país está em uma situação terrível na pandemia. A variante P.1, mais contagiosa, levou os casos a níveis recordes nas últimas semanas e sobrecarregou os hospitais. "A média diária de mortes no país é agora a mais alta do mundo", destaca o jornal.
O Times traz o relato de Ernesto Londoño, chefe da sucursal do NYTimes no Brasil. Ele não poupa Bolsonaro. "O que vimos no ano passado foi essencialmente uma guerra entre o presidente Bolsonaro e muitas autoridades eleitas nos níveis estadual e municipal sobre questões básicas como distanciamento social, uso de máscaras, bloqueios e até mesmo quais drogas o governo deveria promover", descreve.
E fala das investigações da CPI: "Bolsonaro está enfrentando um novo inquérito do Congresso, que será lançado esta semana, que deve analisar amplamente a resposta do governo à pandemia. Seu governo também nunca assumiu qualquer responsabilidade, por exemplo, por deixar de ser proativo e diligente ao solicitar vacinas no ano passado, quando muitos países ao redor do mundo estavam se esforçando para ser os primeiros na fila. Portanto, por causa disso, o lançamento da vacina tem sido incrivelmente lento".
Sobre a política brasileira, o Página 12 traz artigo de Eduardo Sincoksky ressaltando que o establishment brasileiro está em busca de candidato. "O tsunami que provocou o retorno de Lula ao centro da cena política, somado à tragédia pandêmica que cada vez mais veste o Bolsonaro, colocaram o establishment local em alerta. Acontece que, para os 'donos do PIB', a crescente polarização entre Lula e Bolsonaro os coloca em situação incômoda. Mas, principalmente, incomoda-os saber que – para 2022 – estão numa 'reprise' de um filme que já viram e não querem repetir. Não porque se arrependam de seu antipetismo ou se encarregam de suas trevas. Eles se juntam ao medo de imaginar Lula como presidente".
Sobre a economia brasileira, o Washington Post reproduz despacho da Bloomberg sobre o acordo do governo com o Congresso brasileiro em torno do impasse orçamentário. "A equipe econômica do governo brasileiro e os legisladores chegaram a um acordo para vetar partes do controverso projeto de lei orçamentária, ao mesmo tempo em que cortam alguns gastos em questões relacionadas à pandemia", diz o texto.
"Como parte do acordo, o Congresso aprovou na noite de segunda-feira um projeto de lei que altera as diretrizes orçamentárias do país para 2021", informa. O projeto abre espaço para que o governo recrie um programa de proteção ao emprego e dê apoio financeiro às pequenas empresas afetadas pela pandemia. Também permite que o governo exclua parte dos gastos públicos contra a pandemia da meta fiscal para 2021.
O New York Times destaca também em longa reportagem a degradação social na Argentina, com o aumento da miséria provocada pela pandemia. "Ficamos sem nada", destaca o jornal. A economia do país contraiu quase 10% no ano passado, o terceiro ano de recessão, e o país enfrenta um acerto de contas com o FMI de mais de US $ 45 bilhões em dívidas. "A pandemia acelerou o êxodo de investimentos estrangeiros, que derrubou o valor do peso argentino. Isso aumentou os custos das importações, como alimentos e fertilizantes, e manteve a taxa de inflação acima de 40%. Mais de quatro em cada dez argentinos estão atolados na pobreza", informa o diário.
Também ganha destaque o discurso do presidente russo, Vladimir Putin, à nação no pronunciamento anual à Assembleia Federal, enquanto as tensões aumentam em casa e no exterior. O discurso de Putin aos legisladores e chefes regionais ocorre horas antes dos protestos planejados em todo o país em apoio ao crítico do Kremlin em greve de fome, Alexei Navalny, cuja saúde precária na prisão atraiu preocupação em todo o mundo.
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