A semana termina com a trágica notícia de que o Brasil atingiu a marca de 400 mil mortos por Covid. O assunto é destaque na imprensa brasileira e internacional – estampa as manchetes da Folha, Estadão, O Globo e El País Brasil e está na capa da revista Focus Brasil, editada semanalmente pela Fundação Perseu Abramo. Le Monde fala em onipresença da morte no país.
O tema ganha projeção no exterior por conta de despachos das agências internacionais, como Reuters e Associated Press, e do trabalho de correspondentes de jornais influentes – o americano Washington Post, o francês Le Mondee o português Diário de Notícias, bem como o alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung. A volta da fome no Brasil também chama a atenção da imprensa alemã.
"Vamos ter que conviver com o vírus, até porque muda cada vez mais. Esperamos que não haja uma terceira vaga por aí, pedimos a Deus que não haja, mas temos que enfrentar. (...) Se continuar a política de lockdown, igual à do prefeito de Araraquara [cidade em São Paulo], vai levar a sociedade à miséria", disse o genocida.
Em outra frente de desgaste para o governo: o presidente foi alvo de duras no Parlamento Europeu sobre sua condução da pandemia. Segundo despacho da France Presse, eurodeputados criticaram 'negacionismo' e 'necropolítica' do presidente do Brasil em sessão sobre América Latina. O objetivo da audiência era discutir o impacto da Covid na região e as possibilidades de ajuda da União Europeia aos esforços dos governos para enfrentar a crise sanitária.
Nas semanais, só a Focus trata da pandemia na capa. A revista Carta Capital traz na manchete denúncia de crime cometido pelo ministro do Meio Ambiente: A boiada de Salles. "As 721 medidas do ministro que afrouxaram o sistema de fiscalização ambiental e incentivaram o crime", aponta a revista, que traz ainda um entrevista com o ex-prefeito Fernando Haddad em que aponta Lula como o líder capaz de tirar o Brasil da crise. A revista também noticia as manifestações do 1º de Maio, convocada pelas centrais sindicais.
IstoÉ vai na mesma linha: A máfia da madeira ilegal. A revista teve acesso aos documentos da investigação sobre o tráfico ilegal de madeira. Os dados mostram os principais envolvidos, como operam e os laços com Salles. "O relatório da Polícia Federal, autorizado pelo STF, indica que o ministro pode ter agido em conluio com as famílias controladoras do esquema para obter vantagens", destaca a revista.
Já a revista Época trata do efeito Bolsonaro, mostrando por que tantos investidores estrangeiros estão de mau humor com o Brasil. "Negacionismo, vacinas atrasadas, populismo, intervenções em estatais, atrasos nas privatizações, ameaça de descontrole fiscal, baixo crescimento econômico, instabilidade política... Todas as razões para os investidores estrangeiros estarem reticentes em relação ao Brasil", aponta.
Veja sai com reportagem de capa sobre as doações filantrópicas e mostra que a "corrente do bem" provocada pela crise da Covid-19 está em expansão inédita no Brasil. "Valor das doações na pandemia chega a R$ 6,9 bilhões, o dobro do registrado durante todo o ano de 2018", aponta a revista. E curiosamente, diz que a benemerência é quem pode reduzir a iniquidade social brasileira: "Movimento pode mudar de forma radical a maneira como se combate a desigualdade no país".
O projeto foi aprovado na noite de quinta-feira, 29, e suspende a proteção de patentes para vacinas, testes e medicamentos para Covid durante a pandemia. A proposta foi enviada à Câmara para apreciação e possíveis emendas e foi aprovada por 55 votos a 19. "O objetivo, segundo o senador Paulo Paim, é agilizar a produção de vacinas para acelerar as inoculações", diz a agência.
Na cena internacional, duas notícias retratam os contrastes entre Estados Unidos e Europa. A mídia americana bomba nas manchetes as notícias de recuperação da economia dos EUA, que cresceu fortemente no primeiro trimestre. O produto interno bruto cresceu a uma taxa anual de 6,4% no primeiro trimestre, com o governo distribuindo trilhões de dólares em estímulos da Covid-19 e os consumidores aumentando os gastos.
O assunto ganha as manchetes do New York Times, Wall Street Journal, Washington Post e Financial Times. O NYTimes fala em "ano estelar". Efeito dos cheques de alívio que impulsionaram os gastos do consumidor em bens no primeiro trimestre. A demanda reprimida por serviços pode ser a chave daqui para frente. A renda das famílias americanas cresceu. É o efeito dos 100 dias de Joe Biden na Casa Branca.
NA GRINGA
Bolsonaro insultou grande parte do mundo. Agora o Brasil precisa de ajuda. Esta é a manchete de página do Washington Post, que coloca numa lupa a crise política e sanitária brasileira. O correspondente Terrence McCoy aborda o isolamento do Brasil na comunidade internacional, que esta semana mostrou solidariedade à Índia, que agora mantém taxas recordes de infecção, dando dinheiro, medicamentos e oxigênio, enquanto o gigante latino americano ficou de mãos abanando. O jornal fala em "resposta internacional silenciosa". Culpa do líder extremista brasileiro.
Escreve McCoy: "Para o Brasil, que enterrou cerca de 140.000 vítimas de coronavírus nos últimos dois meses, a resposta internacional foi silenciosa. O presidente Jair Bolsonaro em março pediu a ajuda de organizações internacionais. Um grupo de governadores de estado pediu 'ajuda humanitária' às Nações Unidas. O embaixador do Brasil na União Europeia implorou há duas semanas por ajuda: 'É uma corrida contra o tempo para salvar muitas vidas no Brasil'".
"O contraste entre a forma como a comunidade internacional lidou com as crises na Índia e no Brasil mostra como as crescentes lutas diplomáticas de Brasília complicaram a resposta do país ao coronavírus. A imagem internacional que passou décadas cultivando – com enfoque ambiental, amigável, multilateral – foi prejudicada por um presidente cujo governo insultou grande parte do mundo no momento em que mais precisava de sua ajuda", aponta.
"A pergunta não para de voltar: como ele consegue se segurar? Jair Bolsonaro é certamente um homem acostumado às tempestades. Mas enquanto o Brasil, devastado pela variante P1, banido no cenário internacional, tem mais de 400 mil mortos da Covid-19 e afunda cada vez mais na carnificina humanitária, todos se perguntam sobre a surpreendente capacidade de resiliência do líder da extrema direita", diz o texto. "Sua responsabilidade no drama em curso é, no entanto, edificante: Jair Bolsonaro negou sucessivamente a epidemia, impediu qualquer medida de contenção, recusou-se a negociar vacinas, atrasou os planos de imunização. Em qualquer outra democracia, é difícil imaginar um líder assim permanecendo à frente do comando do Estado. E, no entanto, contra todas as probabilidades, aqui está o presidente ainda firmemente ancorado no poder, com uma popularidade intacta entre 25% a 30% da população e uma sólida maioria no Parlamento".
O alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung noticia a crescente raiva dos brasileiros. "Medicamentos ineficazes, hospitais sem oxigênio: auase 400.000 pessoas já morreram de Covid-19 no Brasil. Foi constituída uma comissão de inquérito contra o presidente Bolsonaro", relata o correspondente Tjerk Brühwiller. Ele escreve que a CPI é chamada de "Comitê da morte" pelos críticos do governo e vai investigar, entre outras coisas, por que o governo patrocinou tratamentos com medicamentos ineficazes, por que três ministros da saúde foram depostos durante a pandemia e como o sistema de saúde da Amazônia pode entrar em colapso em janeiro.
"O senador Renan Calheiros , que comanda a comissão, encontrou palavras claras: 'Existem culpados e eles serão responsabilizados'", escreve o jornalista. "Além de Calheiros, a comissão de inquérito tem outros dez senadores majoritários independentes ou de oposição". O titular e os três ex-ministros da saúde provavelmente serão ouvidos pelo comitê nos próximos dias. A CPI está particularmente preocupada com o papel do ex-ministro e General do Exército Eduardo Pazuello, substituído há poucas semanas.
"Abril foi o mês mais mortal da pandemia no Brasil, com milhares de pessoas perdendo suas vidas diariamente em hospitais lotados", escreve Maurício Savarese, correspondente no Rio da AP. "Especialistas alertaram que o número diário de vítimas pode permanecer alto por vários meses devido à lentidão das vacinações e ao afrouxamento das restrições sociais", informa a outra agência.
O diário Sueddeutsche Zeitung replica o despacho da agência alemã DPA destacando que a fome voltou a assolar o Brasil com força total em meio à pandemia descontrolada no país: 116,8 milhões de brasileiros não têm acesso pleno e permanente aos alimentos e 19 milhões deles passam fome, segundo estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Segurança Alimentar (Rede PENSSAN) com dados de dezembro. Isso afeta mais de 55% das famílias, um aumento de 54% em relação a 2018. Na pandemia da Covid-19, o país ultrapassou a marca de 400 mil mortes na quinta-feira.
O argentino Página 12 repercute a denúncia da Sputnik V de que a Anvisa divulga notícias falsas sobre a vacina russa. A agência reguladora brasileira proibiu sua importação sem ao menos testar o imunizante. "Enquanto Jair Bolsonaro insiste em evitar restrições para controlar a pandemia em um Brasil em colapso, a agência reguladora de saúde daquele país, a Anvisa, enfrenta processo por difamação de ninguém menos que os fabricantes da vacina Sputnik V, confirmado pelo Fundo Russo de Investimento Direto", relata.
AS MANCHETES DO DIA
Carta Capital: A boiada de Salles. As 721 medidas do ministro que afrouxaram o sistema de fiscalização ambiental e incentivaram o crime
Época: O efeito Bolsonaro. Por que tantos investidores estrangeiros estão de mau humor com o Brasil
Focus Brasil: 400 mil mortos. Brasil estabelece novo recorde de óbitos, enquanto patina na campanha de vacinação. Acuado, Palácio do Planalto continua a apostar no caos, mas CPI tem início e vai investigar resposta do governo à pandemia
IstoÉ: A máfia da madeira ilegal. IstoÉ teve acesso aos documentos da investigação sobre o tráfico ilegal de madeira, que mostram quem são os principais envolvidos, como eles operam e seus laços com o ministro do Meo Ambiente, Ricardo Salles. O relatório da Polícia Federal, autorizado pelo STF, indica que o ministro pode ter agido em conluio com as famílias controladoras do esquema para obter vantagens
Veja: Corrente do bem. A pandemia do coronavírus levou a uma expansão inédita nas ações de filantropia, movimento que pode mudar de forma radical a maneira como se combate a desigualdade no país
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