sábado, 1 de maio de 2021

O troll da Oracle

 


sam. 1 mai à 11:00

Sábado, 1 de maio de 2021
O troll da Oracle

Vice-presidente da empresa bilionária ataca nossas jornalistas. 

Pouco mais de um mês atrás, nós publicamos uma reportagem sobre a gigante Oracle (lucro de US$ 10 bi no último trimestre de 2020).
 
“A Oracle vendeu softwares de análise de dados e para equipar forças policiais de vários países – entre eles, o Brasil e regimes autoritários, como a China. Segundo documentos da própria Oracle, as tecnologias prometem fazer até o que se chama de “policiamento preditivo” – cruzar dados para tentar prever crimes – e usar conteúdo de redes sociais para fazer análises comportamentais. Especialistas em segurança alertam que os sistemas podem ajudar a aumentar o aparato de repressão política em locais como a China e a fortalecer o racismo sistêmico presente na polícia brasileira, por exemplo.
 
A Polícia Civil do Rio de Janeiro foi um dos clientes. Em 2013, comprou um enorme pacote de serviços de infraestrutura e softwares capazes de fazer cruzamentos e analisar grandes volumes de dados. Alguns contratos ainda estão em vigor.”
 
E então fomos pegos de surpresa. Em resposta à nossa cobertura (que inclui outros textos graças ao trabalho de Tatiana Dias e Mara Hvistendahl), o vice-presidente executivo e lobista da empresa Ken Glueck escreveu dois posts no blog da própria Oracle atacando nosso jornalismo. O posicionamento de Glueck pode ser tranquilamente classificado como delinquência corporativa e doxing – assédio virtual. E a Oracle deu guarida a isso.
 
Glueck publicou o endereço de e-mail e o número de zap da repórter Mara Hvistendahl. Depois, ele pediu que as pessoas que tinham informações sobre nossa jornalista as enviassem a ele. Mais tarde, Glueck postou no Twitter as informações de contato de Hvistendahl – a rede social suspendeu temporariamente Glueck por violar seus termos de serviço.
 
Eu vou reforçar: trata-se do vice-presidente executivo de uma das maiores empresas do planeta. O jogo sujo que as empresas de tecnologia fazem nos bastidores – enquanto pagam de descoladas para o público – parece estar dando lugar ao banditismo rasteiro da internet à luz do dia. Ken Glueck é um troll. Seu lugar bem que poderia ser a podreira dos chans. Pessoas cometendo doxing são frequentemente vistas nas sarjetas da internet.
 
Mara Hvistendahl é uma jornalista veterana e ex-correspondente estrangeira baseada na China que há muito cobre o setor de tecnologia e cujo trabalho foi indicado ao Prêmio Pulitzer. Tatiana Dias é editora sênior do TIB e responsável, ao longo dos últimos anos, pela mais sólida e impactante cobertura sobre empresas de tecnologia e mau gerenciamento de dados no país.

Qual precedente o troll institucional da Oracle pode abrir? Já estávamos acostumados com políticos fazendo isso. Empresas ainda mantém o verniz corporativo. É gravíssimo que isso esteja acontecendo. Nessas horas, até mesmo a hipocrisia é um valor a ser salvo. Nos últimos anos, com a falência do modelo de negócios que sustentou o jornalismo por décadas, empresas de tecnologia têm se aproximado cada vez mais das redações – no Brasil, mais notadamente Google e Facebook. Se aproximado com dinheiro, comprando influência enquanto financiam projetos de jornalismo. Muitas empresas independentes recorrem a esses financiamentos por não encontrarem outros meios de sobreviver. Graças a milhares de apoiadores, nós aqui no Intercept não precisamos do techmoney. Vamos seguir investigando. Para azar deles.

Leandro Demori
Editor-Executivo 
 

 

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