terça-feira, 22 de março de 2022

TIB

 

Terça-feira, 22 de março de 2022
Um bom ano para a estreia

Olá,

Uma eleição não é uma disputa de partida única. Não me refiro aos dois turnos. Uma eleição está mais para um campeonato longo, disputado em muitas frentes, com diversos jogadores. 

A eleição de 2022, sem dúvida, já começou. Ela já é jogada nos editoriais dos grandes jornais, nos almoços e jantares entre políticos e empresários, nas patacoadas do MBL e na tosca projeção de Sergio Moro. Isso é evidente. 

Acontece que aqui e acolá, discretamente, como quem não quer nada, a eleição também aparece em outras frentes. 

Quero falar hoje do documentário sobre a morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. Trata-se de uma série que estreou, sem muito alarde, em janeiro na Globoplay .

João Filho, nosso colunista, tratou desse assunto há alguns dias num ótimo texto. Não vou reproduzir tudo aqui, mas vale esse trecho:

Apesar de colocar novamente o assunto em evidência em um ano de eleição, o documentário tem a pretensão de ser imparcial ao apresentar igualmente as versões de crime político e crime comum. Mas a imparcialidade ficou só na pretensão mesmo. Apesar de não defender nenhuma tese, a série coloca a versão dos irmãos de Celso Daniel, sem nenhuma prova, baseada apenas em ilações colhidas aqui e acolá, em pé de igualdade com o que concluiu as profundas investigações da polícia – estas, sim, baseadas em provas e testemunhas. Ao longo dos episódios, a chama da dúvida da participação do PT no crime permanece acesa.

Antes de prosseguirmos, é importante repetir, mais uma vez, o que é publicamente sabido sobre a morte de Celso Daniel: o crime foi investigado, a polícia encontrou os responsáveis e eles foram presos. Quando o Ministério Público tentou reabrir o caso, sem fatos novos que justificassem tal ação, apenas baseado em depoimentos da família, a iniciativa foi rejeitada por absoluta falta de provas. Ao longo dos últimos 20 anos, esse caso foi mexido e remexido e não há nenhum indício concreto que aponte para algo maior do que foi concluído na investigação policial. 

Então, o que há?

Trata-se de uma história amplamente usada por diversos setores da direita para sugerir envolvimento do PT no crime. E é uma estratégia tão rocambolesca que o assassinato do ex-prefeito aparece em situações sem qualquer relação aparente. O caso foi parar na CPI dos Bingos. Foi relacionado aos desvios da Petrobras — Celso Daniel morreu antes do início do primeiro governo Lula. Falou "Foro de São Paulo"? Tem Celso Daniel no meio. Mensalão? Também!

Daí a pergunta: diante desses fatos, por que explorar o caso em ano de eleição? 

O documentário estreou de maneira tímida. Apareceu pouco na mídia e também nas redes sociais. Mas não é impossível que nos próximos meses tenha trechos tirados de contexto e publicados em canais no Telegram como se fossem "provas". Você sabe como funciona essa engrenagem de desinformação e mentira da internet. 

Fiz questão de escrever este e-mail para te mostrar a força dessa engrenagem e como ela passará meses rodando. Estamos falando de agentes políticos com muitos recursos disponíveis e muito poder. Ou seja: essa é uma disputa desigual.

O nosso trabalho existe justamente para tentar equilibrar essa balança. O Intercept já nasceu nadando contra a corrente, indo pra cima dos poderosos, fazendo jornalismo sem medo de dizer a verdade. Começamos cobrindo o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, compramos briga com grandes veículos de mídia, com multinacionais, com empresários. Começamos a cobrir milícias e com isso chegamos à família Bolsonaro. Fizemos a Vaza Jato e viramos a política nacional de cabeça para baixo. Você sabe bem do que somos capazes!

Para continuar publicando reportagens decisivas e investigações realmente úteis e que mexem com as estruturas, nós precisamos da sua ajuda. Não temos um grande grupo de mídia por trás, não contamos com anunciantes. Nossos recursos vêm do apoio de pessoas como você. Não estou exagerando: a gente precisa hoje do seu apoio para fazer jornalismo realmente independente e confrontar o poder. 

QUERO INVESTIGAÇÕES QUE REALMENTE IMPORTAM →  

Um abraço,

Táia Rocha
Analista de Arrecadação
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