sábado, 13 de agosto de 2022

A tempestade terminou?

 

A tempestade terminou?

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Manifestação pela democracia durante leitura da Carta às Brasileiras e Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito - Pedro Stropasolas
Seja no topo ou na base da pirâmide social, é a economia quem vai definir a eleição

Olá! O sol não nasce para todos. Bolsonaro e o PIB comemoram a calmaria na economia, enquanto os mais pobres vivem dias de tormenta. E a ressaca vem só em janeiro.

.Marolinha e tsunami. Depois de dois anos ininterruptos de inflação crescente, o país registrou uma deflação, a queda dos preços, no mês de julho. O índice de 0,68% é irrisório diante do acumulado de 10% de inflação no ano, mas obviamente foi comemorado pelo governo, já que foram os preços dos combustíveis e da energia que pressionaram os números para baixo. O clima é de otimismo também no sistema financeiro, afinal graças à política de taxas de juros altas, os bancos tiveram um lucro inédito e histórico de R$132 bilhões no ano passado, um crescimento de 49% em relação a 2020. Somado ao início dos pagamentos dos novos benefícios sociais, incluindo os auxílios para caminhoneiros e taxistas, o Planalto espera passar a ideia de que o pior já passou e ter um céu de brigadeiro pela frente que levante Bolsonaro nas pesquisas. O que já estaria fazendo efeito, pelo menos em São Paulo onde a pesquisa Genial/Quaest registrou empate técnico entre Lula e Bolsonaro pela primeira vez. Mas a alegria da cobertura passa longe da situação nos andares mais baixos. O preço dos alimentos continuou crescendo - 1,3% em julho e 14,72% em doze meses. Ao mesmo tempo, agrava-se a falta de medicamentos básicos no SUS, enquanto a redução do ICMS sobre os combustíveis deve prejudicar os investimentos em educação e saúde nos estados. O outro lado da política de juros altos é o maior endividamento da população dos últimos 12 anos, com um em cada quatro brasileiros sem poder pagar as contas. Além disso, o salário mínimo continua há quatro anos sem reajuste e todos sabemos que as medidas sociais do governo têm data de validade até a eleição e depois a pobreza volta aos números reais. Resultado: 20 milhões de brasileiros nas metrópoles estão em situação de extrema pobreza. Só na região metropolitana de São Paulo, o número de extremamente pobres passou de 381 mil para mais de 1 milhão de pessoas em sete anos

.Quem vai ficar com o PIB? Seja no topo ou na base da pirâmide social, é a economia quem vai definir a eleição. Com uma previsão de recessão global a caminho, as eleições também vão definir quem estará à frente do país na próxima crise global logo ali. A adesão de banqueiros e representantes do agronegócio à carta em defesa da Democracia da Faculdade de Direito da USP e a iniciativa semelhante da FIESP acenderam o sinal de alerta na campanha de Bolsonaro. O encontro com a FEBRABAN seria uma tentativa de recuperar terreno perdido, mas acabou sendo mais um palanque para o surrado discurso contra as urnas, o comunismo e as cartas pela democracia. Por sua vez, a campanha de Lula deve aprofundar a busca pelo eleitor de centro e direita e pelo empresariado. Nesta semana, Lula teve encontros com a FIESP e com Instituto para o Desenvolvimento do Varejo, com um discurso que prometeu estabilidade e previsibilidade. Bem longe das preocupações democráticas, dois temas são o fiel da balança com o alto PIB: o que virá no lugar do teto de gastos e a política de preços da Petrobras. Se um setor mais pragmático do empresariado já flerta com Lula, outro, mais ideológico, permanece fiel a Bolsonaro. É o caso do Centro das Indústrias de São Paulo, que não assinou o manifesto da FIESP. E, principalmente, o agronegócio. Sem melindres, o encontro da Confederação da Agricultura (CNA) foi claramente um comício em apoio a Bolsonaro. Para garantir a fidelidade do agro, o capitão aposta na pauta dos agrotóxicos e na promessa de combater sem terras e indígenas. Mesmo assim, Lula tem esperanças que Geraldo Alckmin e o ex-presidente da Associação dos Produtores de Soja, o senador licenciado Carlos Fávaro (PSD-MT), derrubem a resistência dos ruralistas.

.Fechou o tempo em Copacabana. Como se esperava, a leitura pública da Carta pela democracia na Faculdade de Direito da USP na quinta-feira (11), alimentou manifestações nas principais cidades do país. Ainda que mais simbólicos do que massivos, os atos obrigaram uma parte da sociedade, incluindo as elites, a condenar qualquer tentativa de golpe. Mas o embate não deve se restringir às urnas antes do 7 de setembro, quando será a vez do bolsonarismo sair às ruas. O que se pode esperar? Uma manifestação esvaziada que selará a derrota do capitão, ou uma retomada da capacidade de mobilização capaz de criar um clima de virada na reta final das eleições? Difícil dizer. O termômetro das redes sociais mostra um aumento das convocatórias, assim como uma elevação do tom golpista das mensagens. Porém, o que se vê é o medo dos aliados de embarcar em mais uma aventura. A começar pelos militares, que depois de questionarem sistematicamente o sistema eleitoral, agora tentam consertar suas próprias trapalhadas e talvez ainda sonhem em recuperar a confiança perdida da população brasileira. Outro motivo de preocupação dos generais são as condições de segurança e as possibilidades de tumulto que podem ocorrer no ato convocado por Bolsonaro para a orla de Copacabana, no Rio de Janeiro. Já do lado do centrão, o medo é que o tiro saia pela culatra, pois um ensaio golpista mal feito poderia consolidar os índices de rejeição que as medidas econômicas do governo buscam reverter. O certo é que Bolsonaro e família seguem redobrando a aposta no discurso de guerra, seja na esfera dos valores, tendo à frente Michelle Bolsonaro, seja na esfera jurídica, aumentando o número de representações contra as falas de Lula no âmbito do TSE. Aliás, curiosamente é na frente de batalha mais conflituosa até o momento que as relações passaram a ser amigáveis: enquanto Bolsonaro pajeia Alexandre de Moraes que vai assumiu o TSE, o ex-ministro do STF Marco Aurélio Mello, cujo boneco já esteve pendurado na forca das hostes bolsonaristas, acaba de abrir seu voto no capitão. Isso é Brasil.

.Ponto Final: nossas recomendações.

.Os Estados Unidos são uma ameaça à paz mundial e a seus cidadãos. Entrevista com Noam Chomsky. O IHU reproduz entrevista em que Chomsky analisa a reação dos Estados Unidos à expansão chinesa e suas consequências para o cenário internacional.

.“Gamers ajudam a alimentar máquina de desinformação”, diz professor. Entenda o que é o cripto-fascismo, movimento que mobiliza gamers, majoritariamente homens, brancos, de classe média ou média alta. Na Pública.

.Museu da Lava Jato. Confira o acervo criado por juristas, jornalistas e historiadores para registrar a memória da mais famosa operação jurídico-política do país que virou escândalo internacional.

.Há 25 anos Brasil perdia Betinho, símbolo do combate à fome. Conheça o legado de Herbert de Souza, que viveu e lutou contra a ditadura, a fome e a AIDS. No DW Brasil.

.'Apartheid educacional', meta esquecida e exemplo chinês: os futuros desafios da educação no Brasil. Desmercantilizar a educação, mudando radicalmente sua orientação política atual é o desafio do próximo governo. Na Sputnik.

.Guilhotina #176. No Podcast do Diplomatique, Valério Arcary comenta seu novo livro “Ninguém disse que seria fácil”, publicado pela Boitempo, que reúne textos sobre militância.

.O futuro do trabalho – e da ecologia – em seis filmes. No Outras Mídias, confira algumas das obras que serão apresentadas na 11ª Mostra Ecofalante de Cinema.

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Edição: Felipe Mendes

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