Foram cerca de 3 mil as vozes que, na manhã desta quinta-feira 11, no Largo de São Francisco, gritaram em uníssono: 'Fora, Bolsonaro'. Não foi, como o presidente e seus apoiadores tentam fazer crer, um movimento feito pela e para a esquerda. Os três mil que, segundo estimativas da organização, estiveram no entorno da faculdade de Direto da USP para a leitura da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito, representam não só as mais de 900 mil assinaturas do documento, mas a maioria dos brasileiros que repudiam qualquer ameaça de ruptura democrática, segundo diversas pesquisas de opinião pública feitas nos últimos anos. O ato foi inspirado na Carta aos Brasileiros de 1977 – um texto de repúdio ao regime militar, redigido pelo jurista Goffredo Silva Telles, e lido também no Largo de São Francisco. Desta vez, foi mais um duro recado contra o golpismo do presidente da República, que põe em dúvida o sistema eleitoral e busca o caos como consequência de sua iminente derrota na tentativa de ser reeleito. Embora Bolsonaro não tenha sido citado nominalmente na carta, o que consta nela deixa bem claro que é ele o destinatário. Um presidente que, nas palavras de Fernando Haddad, ameaça a Constituição todos os dias. “Ele representa, enquanto chefe do Poder Executivo, uma ameaça concreta pelo estímulo à intolerância e violência”, disse o petista candidato ao governo de São Paulo a CartaCapital. Não estava só. Márcio França, candidato do PSB ao Senado, afirmou que Bolsonaro criou um movimento que nem ele esperava. “Ele acabou despertando a sensação de que poderia não ter democracia. De repente, ele soltou uma Juma Marruá que ele não estava prevendo”, disse em referência à personagem da novela Pantanal, da TV Globo. Apesar da presença de políticos no evento, o ato é fruto de iniciativas da sociedade civil que, enfim, parece ter despertado para as atrocidades recorrentes do ex-capitão. Marcaram presença empresários, juristas, artistas e movimentos sociais. "Hoje é um momento grandioso, eu diria talvez inédito, em que capital e trabalho se juntam em defesa da democracia", discursou o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, orador da carta. "Acho que nós estamos celebrando aqui, com alegria, com entusiasmo, com esperança e com certeza, o hino da democracia". A dimensão nacional da repulsa ao golpismo ficou evidente nos atos que se espalharam pelo País. Que a eleição de Bolsonano tenha sido um tropeço e que a experiência dos quatros anos de seu governo afaste de vez os fantasmas autoritários que nos rondam. Este 11 de agosto, que nos remete às Diretas Já, pode significar para Bolsonaro o que aqueles movimentos representaram para os militares: o início do fim. A resposta definitiva virá no dia 2 de outubro e, pela reação autoritária do presidente, ele parece saber que a maioria do País não está disposta a retrocessos. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário