quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Agência Pública: A violência política já é uma das marcas dessa eleição

 

A violência política já é uma das marcas dessa eleição
por Giulia Afiune

Já está mais do que claro que é a própria democracia que está em jogo nessas eleições. Para além de decidir quem ocupará os cargos de presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais nos próximos anos, em 2022, vamos escolher que Brasil queremos daqui pra frente. 

Essa escolha não se dá apenas nas urnas, mas também nas ruas. E não é resultado apenas do voto, mas também das narrativas que escolhemos contar sobre o nosso presente e nosso passado. 

Se você ainda tem alguma dúvida disso, dê uma espiada no que está acontecendo à sua volta neste 7 de setembro. O bicentenário da nossa Independência de Portugal foi deliberadamente sequestrado pelo atual presidente da República. Em vez de aproveitar essa oportunidade para refletir sobre a nossa história e sobre os problemas estruturais que ainda não fomos capazes de resolver enquanto sociedade, a sensação é de que estamos imersos no maior ato de campanha pela reeleição de Jair Bolsonaro (PL) visto até agora. 

Os repórteres da Pública estão neste momento nas ruas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília relatando em primeira mão o que está acontecendo nessas manifestações. Você pode acompanhar a cobertura nas nossas redes sociais e ao longo das próximas horas no site da Pública. 

São diversas as pautas que hoje estão levando milhares de pessoas às ruas de todo o Brasil. Elogios ao governo e ao auxílio emergencial, ataques a Lula e ao Partido dos Trabalhadores, e a defesa da liberdade contra os ditos "inimigos da nação" foram alguns dos chamados usados nas redes bolsonaristas para convocar manifestantes, como mostramos nesta reportagem do projeto Sentinela Eleitoral.  

O próprio Bolsonaro foi uma das principais vozes a conclamar sua base para os atos de hoje. Grupos de poder que apoiam o presidente – como armamentistas, ruralistas e lideranças religiosas – também se articularam para chamar o povo às ruas e até financiaram caravanas para rechear as manifestações nas maiores cidades do país. 

O que assusta é ver que, muitas vezes, o discurso eleitoreiro se mistura com um discurso golpista. Pra quem não se lembra, nos atos de 7 de setembro do ano passado, Bolsonaro ameaçou o STF, disse que as eleições são uma "farsa" e afirmou que só sairia da presidência "preso ou morto". 

Dessa vez, ele aproveitou a ocasião para discursar para apoiadores na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, como se estivesse em um grande comício. Agradeceu a Deus pela sua "segunda vida", teceu elogios a si próprio e ao seu governo, chamou sua esposa Michelle de "princesa" em comparação com outras primeiras-damas, e afirmou, mais uma vez, que a eleição deste ano é a luta do bem contra o mal. "O povo está do lado do bem. O povo sabe o que quer", disse. "Tenho certeza que juntos, em outubro, daremos mais um grande passo para o futuro do nosso país e das nossas famílias." Conforme a Folha noticiou, antes do ato, em café da manhã no Palácio do Alvorada, ele citou 1964 e disse que a "história pode se repetir". Vamos ver se Bolsonaro irá elevar o tom em seu discurso hoje à tarde, no Rio de Janeiro. 

É importante lembrar que o 7 de setembro deste ano ocorre em um momento de extrema tensão política. Além do assassinato do tesoureiro do PT Marcelo Arruda em julho em meio à sua festa de aniversário por um apoiador de Bolsonaro, já ocorreram diversos outros casos de violência relacionados à eleição. Apenas nos primeiros dias de setembro, um fiel já foi baleado após discussão política dentro de uma igreja em Goiânia e o deputado estadual Roque Barbiere (Avante) disparou um tiro dentro do diretório estadual do PSDB em São Paulo

Embora como cidadã eu torça para que os casos parem por aí, como jornalista sei que é pouco provável. Entre janeiro e junho de 2022, já ocorreram ao menos 214 casos de violência contra lideranças políticas, um aumento de 23% em relação ao primeiro semestre de 2020, último ano eleitoral, de acordo com levantamento do Observatório da Violência Política e Eleitoral (OVPE) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Entidades como o TSE e o CNJ já estão se mobilizando para lidar com casos assim. A violência política já é uma das marcas dessa eleição e tende a se acirrar daqui pra frente. Por isso, a Pública está investigando o tema desde já e, para isso, precisamos da sua ajuda. 

Conte para nós se se você testemunhar algum caso de violência relacionado à eleição, seja nessas manifestações de 7 de setembro ou durante a campanha nas próximas semanas. Pode ser respondendo este questionário, mandando uma mensagem no WhatsApp para (11) 98886-9401 ou um email para participe@apublica.org. Nosso foco são casos de violência presencial – como ataques, agressões, xingamentos, ofensas e ameaças – direcionados a eleitores, candidatos, mesários e também contra jornalistas. Se você tiver lido sobre algum caso na imprensa ou em posts nas redes sociais, também pode enviar para nós pelos mesmos canais. 

Já investigamos a violência política nas eleições de 2018 e 2020Seguimos cobrindo esse tema porque entendemos que a violência política é mais uma ameaça à nossa combalida democracia. Quando um político se sente à vontade para incitar atos de violência e sugerir que os apoiadores de outro candidato sejam metralhados, a democracia não é plena. Quando uma candidata teme pela sua vida, como relatou a vereadora de Belo Horizonte Duda Salabert na última Entrevista dos Aliados, a democracia não é plena. Quando a discordância política resulta em morte, a democracia não é plena.

Faz parte da nossa missão investigar as diversas ameaças que colocam nossa democracia em risco. E contamos com a sua participação na cobertura dessa eleição histórica. 

 
Giulia Afiune é Editora de Audiências da Agência Pública.

Rolou na Pública
 

Sem motivos para comemorar. Na segunda-feira (5), Dia da Amazônia, publicamos uma entrevista exclusiva com a engenheira florestal boliviana Marlene Quintanilla, coordenadora do estudo "Amazônia contra o relógio: Um diagnóstico regional sobre onde e como proteger 80% até 2025", lançado no mesmo dia. Segundo ela, “o Brasil é o país com a porção mais extensa da Amazônia e o que menos está fazendo para conservá-la” e já atingimos, em algumas regiões, o “ponto de não retorno”. A entrevista foi republicada na Revista Galileu, no Outras Palavras e no O Hoje, um dos principais jornais de Goiás.

Pública no Roda Viva. Nosso repórter Ciro Barros esteve na bancada do programa Roda Viva desta semana entrevistando o líder indígena Beto Marubo, integrante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Beto era amigo e trabalhava ao lado do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, assassinados brutalmente no início de junho deste ano. Ciro Barros também fez parte da equipe da Pública que foi para o Vale do Javari fazer a cobertura especial sobre o caso.

Estratégia eleitoral no Tiktok. Reportagem do projeto Sentinela Eleitoral mostrou que o nicho de influenciadores evangélicos no TikTok está em disputa pelas campanhas de Bolsonaro e Lula. Os TikTokers evangélicos publicam conteúdo cristão para milhões de jovens fiéis, muitos deles eleitores de primeira viagem, por isso atraem a disputa dos candidatos por engajamento espontâneo, já que a plataforma não permite conteúdo político pago. A reportagem foi republicada no Núcleo Jornalismo e no Terra

Nenhum comentário:

Postar um comentário