A esta altura, já não podemos nos dizer surpreendidos se Jair Bolsonaro e seus seguidores pesarem o clima neste 7 de setembro com ameaças golpistas, críticas às urnas eletrônicas e uma defesa falaciosa da liberdade de expressão. A pauta bolsonarista já se tornou tão óbvia quanto cansativa. Estranho seria se o Dia da Independência deste ano voltasse a ser encarado como uma celebração pátria ou uma folga extra no mês. Desde que o presidente de ultradireita começou a governar o país, todo ato público torna-se uma oportunidade de repetir sua cantilena. O que dirá às vésperas de uma eleição, no ano em que o país completa 200 anos de independência de Portugal. Seus seguidores encaram esta quarta-feira como última oportunidade de um "tudo ou nada" e já repetiram suas ameaças em redes sociais. Especialmente os armamentistas, revoltados com a decisão de suspender decretos de Bolsonaro que facilitavam a venda de armas, tomada nesta segunda-feira pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin. Aos que estão fora desses 30% fechados com Bolsonaro, o 7 de Setembro pode ser simplesmente uma das últimas zonas de arrebentação das ondas infladas por este governo. Se as pesquisas eleitorais se confirmarem, Bolsonaro pode perder em primeiro e segundo turno, e seu tempo no poder estará prestes a se tornar memória de um pesadelo histórico. O Brasil esquece, mas já superamos diversos episódios de espasmos provocados por este presidente e seus generais. Mesmo antes da posse em janeiro de 2019, os brasileiros já demonstravam que não ficariam de braços cruzados. Um desses movimentos partiu dos grupos LGBTQIA+ no final de 2018. Diante da eleição confirmada de um mandatário que se dizia orgulhoso de ser homofóbico e que tratava a homossexualidade como “defeito de fábrica”, milhares de casais gays decidiram se casar no civil antes da entrada de Bolsonaro no Palácio do Planalto. Durante a pandemia, foi a vez de os cientistas e infectologistas se unirem para desarmar as mentiras do governo sobre a covid-19. Enquanto Bolsonaro trocava de ministros da Saúde para seguir sua cruzada suicida com o vírus, especialistas se tornaram porta-vozes da sensatez que faltava no período mais grave da saúde pública deste século. O Brasil não escapou de ser um dos campeões mundiais de vítimas fatais da covid-19. Mas poderiam ter morrido ainda mais brasileiros, caso esse grupo de cientistas não tivesse afrontado a estratégia bolsonarista, que incluiu a venda massiva de cloroquina e ivermectina. É preciso resgatar essa lembrança para entender como chegamos até aqui. Mais calejados com a política, menos tolerantes com a desfaçatez de um suposto líder. Basta ver o índice de rejeição a um presidente em primeiro mandato para perceber que nem mesmo o Auxílio Brasil turbinado ou o preço do combustível mais baixo fizeram o país recuar desse rechaço a Bolsonaro. O homem que transformou o 7 de Setembro num foco de tensão, desde que insuflou um golpe no ano passado, agora se vê preso na sua própria armadilha. Se carregar as tintas nesta quarta, pode perder pontos importantes na corrida eleitoral e entregar os pontos no primeiro turno. Se não der voz a sua retórica radical, fere o respeito de seus eleitores. A margem de manobra é pequena. Ameaça, por exemplo, levar para o desfile parte dos empresários inquiridos por Alexandre de Moraes por ameaças golpistas num grupo de WhatsApp, segundo a Folha de S.Paulo. O saldo dessa investida será um total de zero votos para seu projeto de reeleição. Falta menos de um mês para o dia 2 de outubro. A quarta-feira segue sujeita a trovoadas e ameaças golpistas. Até o Supremo Tribunal Federal já reforçou sua segurança, por via das dúvidas, pois não se pode confiar num homem que chama ministro da Corte de “vagabundo” e reclama do "autoritarismo" do Judiciário. Mas já passamos por coisas piores. Talvez o Brasil, sequestrado por essa força militar, já tenha pago o resgate e só falte ser declarado vencedor nesse jogo. Talvez só estejamos esperando os dias para acabar o ano e virar a página. A cada turbulência, a certeza: vai passar.
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