PARA NÃO ESQUECER – 27 DE AGOSTO DE 1980
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ASSASSINATO DE LYDA MONTEIRO
(Ernesto Germano Parés)
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Lyda Monteiro da Silva nasceu em Niterói (RJ), no dia 5 de dezembro de 1920. Foi vítima de um brutal atentado terrorista da direita, para sermos mais exatos, do Centro de Informações do Exército.
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Corria o ano de 1980 e o Brasil não suportava mais os militares desgovernando, criando crises seguidas, enquanto os trabalhadores viam suas condições de vida piorando diariamente. Buscava-se uma saída para a situação, as entidades civis (OAB, ABI, CNBB e outras) se mobilizavam e até os generais no poder já falavam em uma “abertura” porque entendiam o caos que eles criaram no país.
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Mas havia um setor descontente entre alguns grupos de militares que não aceitavam essa “abertura” e tinham total apoio de militantes da extrema direita que não desejavam deixar o país retornar à legalidade.
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A OAB e muitas dessas entidades civis passam a ser alvos dos terroristas de direita que não aceitavam as mudanças. E o atentado foi feito na forma de um envelope que chegara como correspondência destinada ao então presidente do Conselho Federal, Eduardo Seabra Fagundes. E aconteceu justamente quando a Seccional de São Paulo e o presidente nacional da Ordem, na qualidade de delegado do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, insistiam na identificação de agentes e ex-agentes dos serviços de segurança suspeitos do atentado sofrido pelo jurista Dalmo Dallari - sequestrado e agredido em 02 de julho de 1980, em São Paulo - que terminou arquivado.
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Lyda Monteiro, “dona Lyda” como era conhecida, era a mais antiga funcionária da OAB, secretária do presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil quando, aos 59 anos de idade, abrindo a correspondência, fez explodir uma carta-bomba no início da tarde da quarta-feira, dia 27 de agosto de 1980. O artefato lhe decepou o braço, além de outras mutilações, e provocou a morte tão logo foi hospitalizada.
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E, na intenção de impedir a tal “abertura” e não permitir qualquer investigação contra os agentes da ditadura que tinham agido, a direita não dava tréguas. Além do atentado à OAB, outras ações ocorreram na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e na sede do jornal ligado ao Partido Comunista do Brasil, Tribuna da Luta Operária, o primeiro com seis feridos e o segundo, um artefato de pouca potência estourado na madrugada, provocou estragos materiais. Havia mais uma carta-bomba que tinha sido enviada à ABI, mas foi desativada por seu presidente, Barbosa Lima Sobrinho, que foi avisado por telefonema anônimo.
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A morte de “dona” Lyda é considerada como resultado de “ato de sabotagem ou terrorismo”. O registro de ocorrência 3ª Delegacia de Polícia tem o número 0853. Na explosão que resultou em sua morte saiu ferido outro funcionário, José Ramiro dos Santos. O óbito de n° 313 foi assinado pelo Dr. Hygino C. Hércules, do Instituto Médico Legal, tendo como declarante Joaquim Alves da Costa.
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Lyda Monteiro foi levada, no dia seguinte de sua morte, ao Cemitério de São João Batista (RJ) com grande participação dos movimentos sociais. Estudantes do Rio de Janeiro, convocados pela UNE, fizeram uma passeata de protesto. E todo o movimento teve ampla cobertura da Imprensa Nacional e Internacional, com mais de 6 mil pessoas presentes ali, em um evento que se tornou palco de manifestação política.
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Em Nota Pública, divulgada no dia 27 de Agosto de 2007, o presidente da OAB SP, Luiz Flávio Borges D´Urso apontou que o atentado que vitimou Lyda Monteiro em 1980, continua encoberto pelo manto da impunidade e simboliza o Dia Nacional de Luto dos Advogados. Luiz Flávio Borges D´Urso acrescentou: “Ainda é preocupante que o atentado não tenha sido solucionado e os culpados punidos. A morte de Lyda Monteiro da Silva continua encoberta pelo manto da impunidade, que acoberta tantos outros casos de violência e pode, infelizmente, levar a população a desacreditar nas instituições.”
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Resolvemos lembrar, hoje, o assassinato de Lyda Monteiro em um ato da direita porque, mais do que em qualquer outro momento, o país está sob ameaça de uma direita inescrupulosa, de uma quadrilha familiar que se apossou do país, de bandidos que cultuam a memória de torturadores e assassinos e, enfim, de um ensandecido ex-militar incapaz de realizar suas funções.
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A vida de “dona” Lyda, bem como a vida de milhares de brasileiros que morreram ou simplesmente “desapareceram”, precisam ser sempre lembradas por nós. Antes de tudo, é preciso esclarecer em quais condições se deram essas mortes e quais os responsáveis!
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VIVA DONA LYDA MONTEIRO!
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POR TODOS OS QUE RESISTIRAM E RESISTEM AO AVANÇO DA DIREITA!
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A HISTÓRIA PRECISA SER A NOSSA ARMA.
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Nas imagens: 01) Lyda Monteiro; 02) o corpo de “dona Lyda” é levado ao cemitério; 03) a sala da OAB onde trabalhava “dona Lyda”; 04) a mesa de trabalho de “dona Lyda” está preservada na OAB
Claudia Santiago e outras 109 pessoas
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