domingo, 16 de outubro de 2022

TIB

 

Sábado, 15 de outubro de 2022
Não custa nada, mas quanto vale?

Olá,

Quero te fazer uma pergunta: quanto vale um trabalho coletivo que efetivamente consegue transformar vidas e mudar o rumo da história do país? 

Acredito que seja bem difícil definir um "preço" para algo assim. Algo que impacta a sociedade de maneira profunda e que é resultado do esforço de muitos. 

Ao mesmo tempo, é importante pensarmos no real valor de iniciativas assim para que possamos fortalecê-las, apoiá-las e empurrá-las para frente. Por isso, hoje eu gostaria de falar sobre o valor do jornalismo realmente livre, autônomo e independente.  

Esse assunto está na pauta do Intercept porque lançamos ontem a campanha de arrecadação que vai definir nosso futuro, já que perdemos recursos importantes para seguir funcionando. A pergunta que está diante de nós é: o nosso trabalho tem valor suficiente para que os demais brasileiros desejem que ele continue existindo?

EU VALORIZO O TIB → 

Sou editora do TIB há quatro anos. Liderei investigações contra gigantes da tecnologia como Google e TikTok, editei matérias duríssimas sobre abusadores de mulheres e meninas, fiz denúncias sobre os generais do governo Bolsonaro. Vejo todos os dias como o dinheiro investido aqui volta para a sociedade. Não falo como alguém de negócios, mas como alguém que conhece as entranhas do jornalismo e que sabe o poder que ele tem. 

Uma das coisas que mais me impressionam no Intercept é uma planilha em que estão registrados grandes impactos das nossas reportagens. São muitos exemplos. E isso é raro no jornalismo: o impacto nem sempre é considerado um indicador de sucesso em redações. Há empresas por aí que estão mais preocupadas com a receita de publicidade, o número de assinantes e cliques. Impacto aqui no TIB é o principal indicador porque é a razão da nossa existência. Vem comigo, quero te contar alguns deles.

1. Nós conseguimos impedir o funcionamento de uma mineradora na Amazônia! Uma reportagem do Intercept ajudou a Polícia Federal a realizar a maior ação de sua história contra uma mineradora que fazia garimpo ilegal na região. Uma das três megaoperações deflagradas, inclusive, foi batizada de Golden Greed, versão em inglês do título da nossa matéria ("Gana por Ouro”). Foram bloqueados R$ 3 bilhões em bens e dinheiro da mineradora e a PF cumpriu mais de 30 mandados de busca e apreensão, além de prender cinco chefões responsáveis pela mineradora e por várias outras empresas. A Gana Gold, companhia que teve suas atividades reveladas pelo Intercept, foi impedida de continuar funcionando.

2. Ninguém cobre milícia como a gente. Com acesso exclusivo ao conteúdo de grampos telefônicos relacionados ao assassinato de Adriano da Nóbrega, o repórter Sérgio Ramalho revelou que o Ministério Público suspendeu as escutas após menções a Jair Bolsonaro. As conversas entre os comparsas de Nóbrega citavam "o cara da casa de vidro". Houve pedido de reabertura das investigações. Nossa revelação sobre o espólio de Nóbrega fez com que o MP do Rio deflagrasse operação contra acusados de lavagem de dinheiro e movimentação de recursos ilícitos. Ainda sobre milícias, fomos o primeiro veículo a apontar seu envolvimento no assassinato de Marielle Franco.

3. Nosso jornalismo protege áreas indígenas. Em outra reportagem, conseguimos que uma área que pertence ao povo Tupinambá no Sul da Bahia não virasse um hotel de luxo. Descobrimos que a Embratur havia pedido à Funai que acabasse com a demarcação de uma reserva indígena dos Tupinambá de Olivença, uma área de 470 quilômetros quadrados. Revelamos que, pela primeira vez, um órgão federal fazia lobby sobre outro para entregar uma área indígena à iniciativa privada! A revelação impediu que o resort Vila Galé Costa do Cacau, complexo com 467 apartamentos, piscina, spa, restaurantes e bares, fosse construído.

4. Fazemos uma cobertura corajosa sobre direitos das mulheres e violência contra elas. Aqui não tem tema tabu. Nossa reportagem em parceria com o Portal Catarinas sobre a menina de SC que teve seu direito ao aborto legal negado mudou o rumo dessa história. Após a publicação, a menina foi autorizada a voltar para casa, depois de ficar longe da mãe em um abrigo; o MP abriu investigação sobre a conduta da promotora; a corregedoria do Tribunal de Justiça de SC abriu investigação contra a juíza; a menina pôde realizar o aborto de maneira segura, como garante a lei, e o MPF instaurou inquérito para investigar o hospital que se recusou a fazer o procedimento. A reportagem teve repercussão nacional e internacional e chamou a atenção para a violência de gênero, problema grave que atormenta mulheres no Brasil.

Esses são apenas alguns exemplos. Mas contabilizamos dezenas de reportagens que resultaram em abertura de investigação por parte de órgãos como o poder legislativo, ministérios públicos, tribunais de contas e corregedorias; outras tantas geraram mobilização da sociedade civil, pautaram movimentos sociais ou pressionaram megaempresas a mudar suas práticas abusivas. Sabemos que outras reportagens conseguiram reverter decisões ou ações que iam contra o interesse público, evitando que elas acontecessem.

No caso mais conhecido, que gerou repercussão global, desmascaramos Sergio Moro e Deltan Dallagnol ao revelar as conversas entre o ex-juiz e os procuradores da Lava Jato. O final dessa história e os resultados da série investigativa Vaza Jato você conhece bem: são tantos impactos que fica até difícil resumir. O principal deles, no entanto, é fácil de mensurar. Moro e os membros da força-tarefa conseguiram criar uma imagem sobre si muito perigosa. Onde você acha que Deltan e o ex-juiz estariam hoje se não fossem as nossas reportagens?

E, aqui, volto a te perguntar: quanto vale o jornalismo combativo e corajoso capaz de transformar vidas e mudar o rumo da história do país? Você consegue imaginar o Brasil de hoje sem o nosso jornalismo?

O Intercept não pode parar. Esta é a campanha mais importante da nossa história e nosso futuro depende diretamente de você. Não importa o valor, eu garanto que seu apoio será totalmente devolvido para a sociedade em forma de reportagens, investigações e denúncias que são essenciais para este país. 

Nosso jornalismo de impacto só existe porque milhares de pessoas acreditaram na nossa missão e apoiam nosso trabalho. Agora, precisamos mais do que nunca de você, porque se não for agora, não sabemos o que será do nosso futuro. Se estiver dentro das suas possibilidades, venha com a gente. Ajude a manter o Intercept vivo!

O TIB NÃO PODE PARAR →  

Um abraço!

Tatiana Dias
Editora Sênior
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