Manchetes diretamente de Mônaco
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    seg., 7 de nov. às 13:31

    Segunda-feira, 7 de novembro de 2022
    Nem começou, mas já tem manchete alarmante

    Olá,

    O governo eleito não tinha sequer nomeado sua equipe de transição quando li as primeiras manchetes apavoradas em grandes portais de notícia. Os termos alarmantes a gente já conhece: "licença para gastar", "rombo", "fura teto", "desequilíbrio". Parece que escrevem de Mônaco e não do país em que 60 milhões de pessoas sofrem com insegurança alimentar, ​​de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). 

    Cito a fome, mas posso falar do desemprego, dos milhões de desalentados, do caos nos transportes urbanos, dos baixíssimos índices de vacinação, das universidades estranguladas e da fuga dos nossos melhores pesquisadores para outros países.

    É preciso dar concretude ao desmonte que o governo de extrema direita promoveu no Brasil desde 2019. Os ataques à democracia na prática são políticas que matam, empobrecem, empurram milhões para a miséria. Essa é a realidade do Brasil hoje. E não se reconstrói um país que se encontra nesse estado só com belas fotos de políticos sorrindo ou com discurso de pacificação. 

    Mas esse é apenas um aspecto dessa relação entre política econômica e imprensa. A verdade é que durante os anos de Paulo Guedes vimos uma profunda condescendência com seu desastroso ministério. O ministro prometeu dezenas de coisas que não cumpriu, falou insanidades durante a pandemia, desrespeitou líderes de outros países e ainda assim sempre contou com certa complacência dos grandes veículos. Talvez porque é um banqueiro? Ou será que porque prometeu centenas de privatizações?

    Você pode estar se perguntando: "ora, mas a Nayara acha que o jornalismo não pode criticar o novo governo Lula?". Cara leitora, garanto que não é isso!

    A chave para entender como o jornalismo deve se pautar em momentos como esse é muito simples: interesse público. Nada de imparcialidade ou neutralidade. Jornalismo de verdade, comprometido com a informação, tem lado. Ele se faz guiado pelo interesse público. 

    É desse jornalismo que o Brasil precisa mais do que nunca. Não dá para reportarmos presos a dogmas vazios e chavões como "equilíbrio das contas públicas". Para falar de economia tem que falar de fome. Para falar de educação tem que falar de cotas raciais. Para falar de democracia tem que falar de direitos humanos. Vai cobrir emprego? Tem que considerar os direitos trabalhistas. Se vai reportar sobre política tem que ter em conta o que significa a força da extrema direita hoje e suas inspirações fascistas. 

    Há alguns dias discutimos aqui no Intercept o que seria o jornalismo do futuro. Qual o jornalismo que queremos fazer agora que Bolsonaro deixará o Planalto? Como o jornalismo pode contribuir com esse novo momento?

    As manchetes da semana passada me fizeram pensar que o jornalismo do futuro precisa começar já. Esse jornalismo não está preso a um político ou a um partido. Esse jornalismo está alinhado com as urgências da população brasileira. E essas urgências não são difíceis de identificar. 

    O jornalismo do futuro precisa de liberdade, autonomia e ousadia. Ele não será bancado por patrocinadores e anunciantes, não pode depender de empresários ávidos por reconstruir o teto de gastos que Paulo Guedes arrebentou e não pode temer meter o dedo na ferida. O jornalismo do futuro precisa investigar o que está sob sigilo e trabalhar com firmeza para responsabilizar a extrema direita. Mas deve também reportar com responsabilidade e compromisso com tudo que a população brasileira precisa nesse momento. Não dá para esperar. 

    Tenho orgulho de neste momento trabalhar no Intercept justamente por isso. Porque aqui é o lugar do jornalismo do futuro. Esse jornalismo que começa agora, mas que é base essencial do país que precisamos reconstruir. É até curioso dizer isso. Pois nos últimos quatro anos passamos os dias reforçando a importância do jornalismo independente para frear os desmandos bolsonaristas. Uma pessoa desavisada poderia pensar: "agora, com Bolsonaro fora do poder, o jornalismo perderá protagonismo". Grande engano.

    As manchetes da semana passada já me deram a senha: é hora do jornalismo independente brilhar. Não podemos seguir em frente com uma imprensa descompromissada, acostumada a passar a mão na cabeça do ultraliberal Guedes, mas desesperada quando se fala em um Orçamento que garanta os benefícios sociais mínimos para a sobrevivência do grosso da população. 

    Concorda comigo? Então você tem a chance de fazer o jornalismo do futuro acontecer hoje. Clique aqui e contribua com o trabalho do Intercept. Eu garanto que não vamos te decepcionar.

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