segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

PARA NÃO ESQUECER – 5 DE FEVEREIRO DE 1944 * NASCE HENFIL

 PARA NÃO ESQUECER – 5 DE FEVEREIRO DE 1944

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NASCE HENFIL
(Ernesto Germano Parés)
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“É preciso a certeza de que tudo vai mudar;
É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós:
onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão.
O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração;
Pois a vida está nos olhos de quem sabe ver…
Se não houve frutos, valeu a beleza das flores.
Se não houve flores, valeu a sombra das folhas.
Se não houve folhas, valeu a intenção da semente.”
(Henfil)
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Henrique de Sousa Filho, mais conhecido como Henfil, foi desenhista, jornalista e escritor. Seus desenhos, com forte crítica política e social, ficaram famosos. Nasceu em Ribeirão das Neves (região metropolitana de Belo Horizonte), no dia 5 de fevereiro de 1944 e, como os outros dois irmãos (o sociólogo Betinho e o músico Chico Mário), herdou dos pais a hemofilia, distúrbio que impede a coagulação do sangue, fazendo com que a pessoa seja mais suscetível a hemorragias.
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Iniciou sua carreira de cartunista e quadrinista na Revista Alterosa, de Belo Horizonte. Ali nasceram seus personagens mais famosos: “Os Fradinhos”. No ano seguinte ao golpe militar começou a fazer caricatura política para o Diário de Minas. Logo se tornou um dos grandes entre os que resistiam à ditadura. Depois passou a colaborar com o semanário “O Pasquim”, um dos principais e mais conhecidos na resistência ao regime militar por meio da sátira e do humor.
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A revista “Os Fradinhos” surgiu em 1970 e logo ficou muito conhecida por um desenho humorístico, crítico e satírico, com personagens tipicamente brasileiros e que retratavam as situações da época. Entre seus personagens mais famosos estão os fradinhos “Cumprido” e “Baixim”, a “Graúna” (que criticava a forma como os políticos tratavam a questão da seca no Nordeste), o “Bode Orelana”, o nordestino “Zeferino” e “Ubaldo”, o paranoico (que temia a volta da ditadura, mesmo depois de seu fim).
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Importante é assinalar que Henfil, além de seu trabalho político e sua atuação, criava personagens tipicamente brasileiros e marcava, assim, uma forma de resistência à colonização cultural em que o país mergulhava com a invasão de quadrinhos estadunidenses. Lamentavelmente, parece que voltamos a mergulhar nesse cenário!
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Henfil teve uma atuação marcante nos movimentos políticos e sociais do país, lutando contra a ditadura, pela democratização do país, pela anistia aos presos políticos, e pelas Diretas Já. Dedicou muito do seu trabalho ao surgimento do Partido dos Trabalhadores.
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Passou dois anos nos EUA para fazer um tratamento de saúde, mas não conseguia emprego entre os jornais de lá e nas revistas críticas locais. Escreveu o livro “Diário de um Cucaracha”. Voltou ao Brasil e foi trabalhar na revista Isto É, onde surgiram as famosas “Cartas da Mãe” onde ele se correspondia com sua mãe e falava do exílio do irmão Betinho.
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Toda a vida profissional de Henfil foi dedicada a lutar contra o regime militar no país. Em 1972, quando Elis Regina fez uma apresentação para o exército brasileiro, Henfil publicou em O Pasquim uma charge enterrando a cantora, apelidando-a de “regente”. Também fez muitas críticas a outros artistas que ele considerava apoiadores dos generais: Roberto Carlos, Wilson Simonal, Pelé e os atores Paulo Gracindo, Tarcísio Meira e Marília Pêra. Anos mais tarde, o cartunista disse que se arrependia apenas de ter “enterrado” Clarice Lispector.
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Seus livros são reunião de muitos dos seus variados escritos, a um tempo memorialistas e de outro falando sobre tudo, sobre a conjuntura política e seu engajamento.
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Em 2017 foi lançado um documentário dirigido pela cineasta Angela Zoé, sobre a vida, a arte, a interpretação do artista nos dias de hoje, por artistas mais jovens.
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Após uma transfusão de sangue, acabou contraindo o vírus da AIDS. Ele faleceu vítima das complicações da doença no auge de sua carreira, com seu trabalho aparecendo nas principais revistas brasileiras. Morreu no Rio de Janeiro, 4 de janeiro de 1988.
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Entre os seus pensamentos mais conhecidos eu destaco:
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“Enquanto acreditarmos no nosso sonho, nada é por acaso”.
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“Viver é uma tarefa urgente, porque amanhã é uma coisa que não dá pra pensar, não dá pra fazer planos, hoje é urgente, amanhã é a morte, ontem, graças a Deus, teve ontem!”
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“Há um radar coletivo que os pobres têm, e que os ricos não têm, tanto que estão levando o mundo para a própria destruição deles: a classe rica vai ser destruída pela próxima movimentação da Terra. Eles perderam o faro, perderam a sensibilidade porque a morte para eles é uma coisa que não existe.”
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“MORRO, MAS MEU DESENHO FICA”.
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Seria bobagem tentar destacar os desenhos de Henfil. Sei que todos os amigos da minha geração lembram de dezenas de trabalhos dele! Separei apenas alguns que ficaram marcados para mim.
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VIVA HENRIQUE DE SOUSA FILHO, O HENFIL!
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Ernesto Germano Parés e outras 55 pessoas

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