segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

PARA NÃO ESQUECER – 03 DE FEVEREIRO DE 1966 * LUNIK IX

 PARA NÃO ESQUECER – 03 DE FEVEREIRO DE 1966

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LUNIK IX
(Ernesto Germano Parés)
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“Poetas, seresteiros, namorados, correi / É chegada a hora de escrever e cantar / Talvez as derradeiras noites de luar”.
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A música de Gilberto Gil, gravada em 1967, é uma referência à primeira nave não tripulada a pousar na Lua. Chamada em português de Luna 9, a Lunik IX foi lançada pela União Soviética no dia 31 de janeiro de 1966, pesava 99 quilos e enviou as primeiras imagens conhecidas da superfície da Lua.
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O maior problema, na época, é que não havia uma concordância entre os cientistas e astrônomos sobre como seria o solo da Lua. Muitos defendiam que era uma espessa camada de pó e que seria difícil uma nave aterrar até tocar no solo. Outros falavam de muita irregularidade e que seria complicado uma nave pousar e continuar com as antenas voltada para a Terra. Muito papel foi gasto nesse debate, mas os soviéticos resolveram usar um princípio quase “infantil”. Todos nós conhecemos aquele boneco antigo chamado “João Teimoso” que tinha a base muito mais pesada do que o corpo. Por mais que a criança bata ou chute, ele volta para a posição vertical.
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Pois é... a Lunik IX (ou Luna 9, como preferirem) era assim. Pesava 1.583 kg no total, mas o módulo que desceria na Lua era uma esfera de aço no topo pesando 99 kg. Essa esfera era recoberta por bolsas infláveis pouco antes do pouso e liberada a cerca de cinco metros de altura, momentos antes de o módulo pousar. Só então a esfera se abriria e deixaria aparecer equipamento de rádio comunicação, dispositivos temporizadores, sistema de controle de temperatura, alimentação, instrumentos científicos e um sistema de transmissão de imagens de televisão.
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Foi lançada por um foguete do tipo Molniya-M (8K78M) as 11:45:00 de 31 de Janeiro de 1966, a partir da plataforma 31/6 do Cosmódromo de Baikonur. Depois de um lançamento bem sucedido e de ter atingido uma órbita de espera de 168 por 219 km e 51,8° de inclinação, o estágio superior do foguete, um Bloco-L, reiniciou e ela foi colocada em trajetória de órbita elíptica alta.
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Depois disso, iniciou um processo de rotação sobre o próprio eixo, usando jatos de nitrogênio. Em 1 de Fevereiro, as 19:29:00, uma correção de curso foi efetuada, envolvendo o acionamento de um dos motores durante 48 segundos.
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Quando estava a 8.300 km da Lua, a espaçonave foi orientada a acionar seus retrofoguetes e a sua rotação parou em preparação para o pouso. A 25 km da superfície lunar, o radioaltímetro comandou o descarte dos módulos laterais, o enchimento das bolsas de ar, e um novo acionamento dos retrofoguetes. A 250 m da superfície, o retrofoguete principal foi desligado e os quatro retrofoguetes auxiliares foram usados para diminuir a velocidade. A aproximadamente 5 m acima da superfície lunar, um sensor de contato tocou o solo e comandou o desligamento dos motores e a ejeção da capsula de pouso. A espaçonave "pousou" a 22 km/h de velocidade.
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A esfera de pouso, bateu e rolou algumas vezes antes de parar a Oeste das crateras Reiner e Marius nas coordenadas aproximadas 7.08 N, 64.37 W da região conhecida como Oceanus Procellarum (Oceano das Tormentas, em português), as 18:45:30 (21h45m no horário de Moscou) do dia 3 de Fevereiro de 1966, 3 dias, 8 horas, 3 minutos e 15 segundos após o seu lançamento.
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Aproximadamente 250 segundos depois do pouso, as quatro “pétalas” que cobriam a parte superior da sonda esférica se abriram e a estabilizaram na superfície lunar. As antenas assumiram suas posições operacionais e o sistema de espelhos rotativos da câmera de televisão iniciaram a varredura do ambiente lunar. Sete sessões de rádio, totalizando 8 horas e 5 minutos, foram transmitidas, assim como três séries de imagens de TV. Depois de editadas, as fotografias forneceram uma visão panorâmica da superfície lunar nas vizinhanças do local de pouso, incluindo rochas e o horizonte, a cerca de 1,4 km.
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Essas foram as primeiras imagens transmitidas da superfície de outro corpo celeste feita pelo homem.
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O detector de radiação, o único instrumento a bordo, mediu uma dosagem de 30 milirads (0,3 miligrays), por dia. Principalmente, a missão constatou que uma espaçonave não iria afundar no solo lunar; que o solo podia suportar um módulo de pouso pesado. A última transmissão foi recebida no dia 6 de fevereiro de 1966, às 22:55 UTC, quando então se perdeu contato com a superfície lunar.
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A configuração exata dos instrumentos a bordo sonda Luna 9 permanece em segredo, embora se pense que eles teriam sido capazes de registrar a temperatura, pressão e natureza da superfície lunar. Haveria também, equipamento de rádio para enviar informações de volta para a Terra.
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Na época eu era um apaixonado pela corrida espacial e lia atentamente tudo o que saía em jornais e revistas sobre o assunto. Tenho várias matérias de jornais, no Brasil, no dia seguinte ao pouso da Lunik IX
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Imagens da Lunik IX e do meu arquivo de jornais. Reparem que a nave depositou na Lua duas placas com os símbolos da União Soviética!
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