terça-feira, 25 de março de 2014

A grande dúvida. Coluna de Rubens Nóbrega





Voltei ontem do Sertão com a certeza de que a grande dúvida do campeonato eleitoral deste ano, na Paraíba, é se o governador Ricardo Coutinho permanecerá em campo caso a partida vá para a prorrogação, quer dizer, para o segundo turno. A preço de hoje, como diria o saudoso Joelmir Beting, e a julgar pelo que vi e ouvi em Patos e no Sabugi, Ricardo não tem chances de vitória diante da popularidade de Cássio Cunha Lima e do potencial de crescimento da candidatura de Veneziano Vital.
O meu convencimento sobre o momento da disputa política na Paraíba baseia-se em avaliações de experientes observadores com os quais conversei e, também, em pesquisas sobre tendências atuais do eleitorado, disponíveis apenas para consumo interno. Todas elas indicam que o senador, mesmo ainda sem fazer campanha aberta como o governador faz há mais de um ano, Cássio teria mais do que o dobro das intenções de votos direcionadas para Ricardo.
Por sua vez, o governador não consegue se distanciar da mesma forma do ex-prefeito campinense. A vantagem sobre Veneziano não passa de um dígito atualmente, com previsão de se reduzir a décimos quando a guerra eleitoral propriamente dita começar. Aí, garantem quem é do ramo, a possibilidade de a candidatura do PMDB ultrapassar a do PSB na reta final do primeiro turno será enorme. Motivo: além de individualmente dispor do maior tempo de rádio e televisão na propaganda eleitoral, a candidatura peemedebista na Paraíba tem tudo para manter a aliança com o PT. Com isso, crescerá ela tanto nos grandes colégios eleitorais como nos pequenos, onde o apoio de Lula e Dilma daria um gás significativo à campanha de Vené.

Dá para desconstruir
Como se não bastasse, Ricardo será o alvo comum das críticas e ataques mais contundentes dos seus principais adversários, que devem se concentrar no desmonte da imagem de grande realizador que o governador vem construindo graças ao maior investimento em propaganda que já se fez na Paraíba. Cássio mostrou ontem que não será difícil desconstruir o cartaz de Ricardo na medida em que o governador se perde quando, até por arrogância e empáfia, acredita ter ‘(re)inventado’ a Paraíba e esquece ou não reconhece, por exemplo, que as duas maiores obras tocados pelo atual governo são, na verdade, continuação ou resultado do que fizeram seus antecessores

De Maranhão a Burity

O senador referiu-se inicialmente ao Canal Acauã-Araçagi, a maior obra hídrica da Paraíba, um investimento de mais de R$ 1 bilhão do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento, do Governo Federal), planejada no Cássio I “e que somente existe porque, antes, José Maranhão fez a barragem de Acauã”, disse. Depois, lembrou que o Centro de Convenções da Capital, outra obra projetada em seu governo, destravada e iniciada pelo Maranhão III, não existiria sem a iniciativa do governador Tarcísio Burity de criar e prover a infraestrutura do Polo Turístico do Cabo Branco.

Sobre obras e obreiros
Na avaliação de um crítico mais ferino que vai na mesma direção do raciocínio de Cássio, mas prefere, além do conforto do sigilo da fonte, usar palavras mais duras para definir o comportamento do governador, “Ricardo se gaba de ter sido quem mais obrou na Paraíba, mas a maior parte dessa obra é orgânica, fisiológica mesmo, a julgar pelo mau cheiro que exala de algumas delas”. Pedi que fosse mais específico, mas ele limitou-se a dizer que “a outra parte dessa obra, a física, em pedra e cal ou asfalto, está sendo construída graças à capacidade de planejar, captar recurso e aprovar projetos das equipes e governos de Cássio e Maranhão. As estradas de que tanto se jacta o governador, por exemplo”.
“Nesse particular”, continuou, “abstraindo a milionária propaganda que faz de si mesmo, do permanente autoelogio e desqualificação dos adversários ou predecessores, a grande contribuição de Ricardo para expandir a malha viária do Estado foi assinar ordens de serviço para construção de estradas iniciadas no Maranhão III com empréstimo conseguido no Cássio II junto à Confederação Andina de Fomento (CAF) no valor de R$ 500 milhões”.
Ainda segundo o mesmo corrosivo avaliador, “seria imensa burrice – e de burro Ricardo Coutinho não tem sequer as penas – alguém pegar um filé desses e não comer. Ou não fazer o que deveria ser feito ou já encontrou feito ou em andamento, graças a muito asfalto novo que começou a ser espalhado pelo interior desde o Maranhão III”.
Mais: “Seria uma estupidez inimaginável, realmente, não dar andamento a um projeto dessa envergadura. Pena que na maioria do tempo, na sua compulsão para assumir a paternidade de iniciativas dos outros, nem o governador nem o seu governo tenham o mesmo apreço e empenho na conservação, manutenção e melhoria do patrimônio público já consolidado, aí incluídas as rodovias estaduais mais antigas e estratégicas para ligar municípios, micros e mesos regiões do Estado”.
Concluindo: “Tirando reformas pontuais que dão visibilidade e imagens para a campanha do governador, como as que vêm se arrastando no Dede e no Espaço Cultural, em João Pessoa, e recapeamentos de alguns trechos do Anel do Brejo (de Sapé a Guarabira, por exemplo), no mais multiplicam-se as queixas dos cidadãos que trafegam por essas PBs abandonadas – ou castigadas – pelo simples fato de precisarem de reparos que são extremamente importantes para os usuários, mas rendem pouco. Votos, inclusive”.
  

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