John Lennon era mesmo um sonhador
21/1/2015 14:57
Por José Inácio Werneck, de Bristol
Por José Inácio Werneck, de Bristol
O sonho de Lennon, de um mundo em paz, sem guerras e sem religião ainda está muito longe da realidade
Em português, “céu” é usado indistintamente para significar tanto o firmamento quanto o paraíso, mas na linguagem coloquial em inglês, como está na letra de John Lennon, há uma clara distinção entre “sky” e “heaven”.
Lennon queria um mundo em que o céu fosse apenas o vasto espaço sobre nossas cabeças, povoado por estrelas e galáxias.
Recusava a estreiteza do mundo religioso que recompensa os crentes com a bem-aventurança eterna, em meio à mais completa glória, e pune os descrentes com horríveis sofrimentos sem fim, em meio às chamas do inferno.
Quando seu discípulo João lhe pergunta onde está o caminho, Jesus responde: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém chega ao Pai, a não ser por meu intermédio”.
Este é um dos pontos da doutrina protestante em que empaco. A diferença entre dobrar à direita, para o paraíso, e dobrar à esquerda, para o inferno, pode estar tão estreitamente definida?
Mas de 1971 para cá o fundamentalismo, seja ele cristão, judaico ou muçulmano, só fez crescer.
É impressionanrte – e mesmo assustador – por exemplo, ver nos Estados Unidos o número de pessoas que acreditam que o mundo foi criado exatamente como está na Bíblia, em sete dias, com, primeiramente, Adão, depois Eva, tirada de sua costela, a maçã e a serpente.
O Estado de Israel, implantado por potências cristãs para aliviar sua consciência pesada pelo holocausto, mas à custa de territórios onde viviam muçulmanos, em nada contribuiu para aliviar a tensão entre as três grandes religiões monoteístas.
É sintomático que, ainda hoje, a imprensa árabe, quando se refere aos ocidentais, os chame, frequentemente, de “cruzados”.
Sim, as cruzadas da Idade Média, as expedições de cristãos europeus contra o Levante habitado por muçulmanos, permanecem vivas em suas memórias.
Nos dias mais atuais, a história do colonialismo europeu na região, em especial por parte de ingleses e franceses, e modernamente a contínua ingerência dos americanos, motivada sobretudo pela sede de petróleo, só contribuíram para agravar as tensões.
Às tensões religiosas, sobrepõem-se os conflitos raciais, pois a maior parte do mundo islâmico é de pele escura.
O atentado ao semanário Charlie Hebdo é um pequeno capítulo numa história que só tende a se agravar.
“Imagine all the people living life in peace…”
John Lennon era mesmo um sonhador.
José Inácio Werneck, jornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior. Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.
Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.
Fonte: Correio do Brasil
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