sábado, 24 de janeiro de 2015

John Lennon era mesmo um sonhador

John Lennon era mesmo um sonhador

21/1/2015 14:57
Por José Inácio Werneck, de Bristol

O sonho de Lennon, de um mundo em paz, sem guerras e sem religião ainda está muito longe da realidade
O sonho de Lennon, de um mundo em paz, sem guerras e sem religião ainda está muito longe da realidade
Quando John Lennon compôs Imagine, em 1971, era difícil supor que, quase meio século depois, seu sonho estivesse cada vez mais fora do alcance da humanidade.
Em português, “céu” é usado indistintamente para significar tanto o firmamento quanto o paraíso, mas na linguagem coloquial em inglês, como está na letra de John Lennon, há uma clara distinção entre “sky” e “heaven”.
Lennon queria um mundo em que o céu fosse apenas o vasto espaço sobre nossas cabeças, povoado por estrelas e galáxias.
Recusava a estreiteza do mundo religioso que recompensa os crentes com a bem-aventurança eterna, em meio à mais completa glória, e pune os descrentes com horríveis sofrimentos sem fim, em meio às chamas do inferno.
Quando seu discípulo João lhe pergunta onde está o caminho, Jesus responde: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém chega ao Pai, a não ser por meu intermédio”.
Este é um dos pontos da doutrina protestante em que empaco. A diferença entre dobrar à direita, para o paraíso, e dobrar à esquerda, para o inferno, pode estar tão estreitamente definida?
Mas de 1971 para cá o fundamentalismo, seja ele cristão, judaico ou muçulmano, só fez crescer.
É impressionanrte – e mesmo assustador – por exemplo, ver nos Estados Unidos o número de pessoas que acreditam que o mundo foi criado exatamente como está na Bíblia, em sete dias, com, primeiramente, Adão, depois Eva, tirada de sua costela, a maçã e a serpente.
O Estado de Israel, implantado por potências cristãs para aliviar sua consciência pesada pelo holocausto, mas à custa de territórios onde viviam muçulmanos, em nada contribuiu para aliviar a tensão entre as três grandes religiões monoteístas.
É sintomático que, ainda hoje, a imprensa árabe, quando se refere aos ocidentais, os chame, frequentemente, de “cruzados”.
Sim, as cruzadas da Idade Média, as expedições de cristãos europeus contra o Levante habitado por muçulmanos, permanecem vivas em suas memórias.
Nos dias mais atuais, a história do colonialismo europeu na região, em especial por parte de ingleses e franceses, e modernamente a contínua ingerência dos americanos, motivada sobretudo pela sede de petróleo, só contribuíram para agravar as tensões.
Às tensões religiosas, sobrepõem-se os conflitos raciais, pois a maior parte do mundo islâmico é de pele escura.
O atentado ao semanário Charlie Hebdo é um pequeno capítulo numa história que só tende a se agravar.
“Imagine all the people living life in peace…”
John Lennon era mesmo um sonhador.
José Inácio Werneckjornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior. Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.
Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.


Fonte: Correio do Brasil



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