Brasil é líder mundial na geração de luz síncroton
23/6/2015 14:23
Por Redação, com ABr - de Brasília
Por Redação, com ABr - de Brasília
O projeto Sirius prevê a construção de uma nova fonte de luz síncrotron no Brasil até meados de 2018
O projeto Sirius prevê a construção de uma nova fonte de luz síncrotron no Brasil até meados de 2018. Em entrevista à Agência Brasil,
o diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), responsável
pelo projeto, Antônio José Roque da Silva, explica que o funcionamento
do acelerador de partículas de quarta geração é um salto para a ciência
brasileira, com inúmeras aplicações em áreas como biotecnologia,
nanotecnologia, paleontologia e farmácia.
–
É uma área da ciência de larga escala, com um grande laboratório e
infraestrutura, que permite o Brasil dialogar com os outros países em pé
de igualdade, uma coisa rara na ciência brasileira – disse.
A
Suécia começou antes do Brasil a construção de um acelerador de quarta
geração e vai ser o primeiro país a utilizar a nova técnica. Segundo
Roque, a tecnologia do Sirius é mais avançada. “Estamos à frente dos
Estados Unidos e dos países europeus.
– Com
a tecnologia disponível hoje, o equipamento nacional será o mais
moderno do mundo em luz síncroton, ferramenta usada para estudar
qualquer tipo de material no nível atômico e molecular. “Ele será dez
vezes melhor que as máquinas que operam hoje no mundo, de forma
pioneira. É realmente uma ferramenta incrível para o Brasil – garante o
diretor do LNSN.
Enquanto
os protótipos finais de componentes da máquina de 518,4 metros de
circunferência são testados, o novo prédio de 68 mil metros quadrados,
que vai abrigar o acelerador e 40 estações de trabalho, está sendo
construído em Campinas, ao lado do atual LNLS. Segundo o Laboratório,
muito foi feito desde o lançamento da pedra fundamental, em dezembro de
2014. Etapas complicadas da obra, que exigia uma estabilidade mecânica e
térmica maior que as construções comuns, foram superadas e o cronograma
está sendo cumprido. O Sirius vai fazer parte do complexo do Centro
Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), organização social ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação da qual o LNLS faz parte.
Além
de ser um dos maiores, o Sirius também é um dos projetos mais caros da
história da ciência nacional, orçado em R$ 1,5 bilhões. A maior parte
do projeto será custeada pelo governo federal e, de acordo com a
assessoria de imprensa do ministério, está com o orçamento garantido
pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo a assessoria, o
ministro Aldo Rebelo considera o Sirius prioritário para o país e por
isso conversou com a presidente Dilma Rousseff para garantir o andamento
do projeto antes dos cortes do orçamento da pasta anunciado no final de
maio.
O
acelerador é um grande equipamento que faz com que os elétrons circulem
em velocidade próxima da luz, dentro de uma espécie de tubo chamado
anel de armazenamento. Cada vez que a trajetória desses elétrons é
desviada com o uso de ímãs, eles emitem raios X, ultravioleta e
infravermelho, a chamada luz síncroton. A luz emitida é uma radiação de
alto brilho, altamente focalizada. Essa luz é coletada pelas chamadas
linhas de luz, que funcionam de forma parecida com microscópios. “O
pesquisador seleciona a faixa de frequência de interesse, o raio X, por
exemplo, e incide sobre materiais, orgânicos e inorgânicos, como
sementes, plásticos ou proteínas. Com a luz síncroton é possível estudar
a estrutura da matéria no nível de átomos e moléculas, verificando a
composição e geometria delas”, explica o responsável pelo projeto.
A
construção do primeiro e único acelerador de elétrons em operação da
América Latina, o UVX, teve início na década de 80. José Roque disse que
naquela época não havia conhecimento nenhum sobre o assunto no país.
“Em
vez de importar e ficar dependente, desenvolvemos recursos humanos e no
prazo de 30 anos saímos do zero, para chegar no melhor que há.” Segundo
Roque, 85% do acelerador UVX, aberto aos pesquisadores em 1997, foi
construído no próprio LNLS, permitindo que os cientistas dominassem todo
o processo. “Quando se constrói pela primeira vez é difícil estar na
fronteira, por isso o UVX é chamado de segunda geração. Um dos problemas
do acelerador é que a energia dos raios emitidos é relativamente baixa,
o que limita o tamanho do feixe e não permite todos os estudos, por
isso é preciso avançar.”
O
pesquisador afirma que com a nova fonte de luz síncroton, mais potente,
será possível usar técnicas recentes como a tomografia de células,
causando impacto relevante nas áreas de biotecnologia, nanotecnologia e
análise de materiais. A tecnologia do Sirius é toda nacional e a maior
parte dos componentes estão sendo construídos no Brasil para estimular a
indústria nacional.
–
Os mais de mil ímas necessários para o Sirius, extremamente
sofisticados e de alta qualidade de fabricação, estão sendo produzido
como resultado de uma parceria de mais de dois anos com uma empresa de
Santa Catarina. Poucos lugares do mundo conseguem produzir – afirma
Roque acrescentando que parte dos componentes já está pronta e a
expectativa é começar a montagem do Sirius em setembro de 2017 que deve
levar cerca de nove meses.”
Vale
ressaltar que mesmo com limitações, o acelerador UVX é amplamente usado
por cientistas. Foram mais de 400 pesquisas em 2014. Desde a sua
abertura para o público acadêmico e empresarial, em 1997, o LNLS recebe
mais de mil pesquisadores por ano que desenvolvem projetos usando as 17
estações de trabalho disponíveis, chamadas de linhas de luz. Segundo o
diretor, em média, “40% dos pesquisadores são de São Paulo, 40% de
outros estados brasileiros e 20% de outros países, principalmente da
América Latina”. Mesmo após a chegada do Sirius, a ideia é que o UVX
continue operando.
–
Hoje qualquer pesquisador do Brasil ou do mundo pode submeter propostas
de trabalho para utilização do equipamento UVX. São duas chamadas por
ano e os estudos são escolhidos por comitês externos que julgam a
pertinência e a qualidade dos projetos. Com o Sirius vai ser a mesma
coisa.” Quando finalizado, o Sirius vai oferecer mais 40 faixas de luz
no LNLS, ainda mais eficientes. “É um marco porque coloca o Brasil em um
diálogo de primeira linha e isso pode ter impacto na vinda de
pesquisadores de ponta de outros locais do mundo para o país – avalia o
diretor do Laboratório.
Fonte: Correio do Brasil
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