quinta-feira, 10 de março de 2016

ACENDE A CENTELHA, LULA SE LEVANTA ALTIVO

ACENDE A CENTELHA, LULA SE LEVANTA ALTIVO
 
Os acontecimentos de sexta-feira, dia 4 de março, quando a Operação Lava Jato atingiu o ápice do desregramento jurídico, da truculência policial e do foguetório midiático, muda a situação: o embate político e social entra em nova etapa, mais aguda, mais polarizada e mais imprevisível. Acumula um movimento de limiar de nova etapa.
 
Renato Rabelo*
 
   As cenas espetacularizadas pela mídia hegemônica minuto a minuto, onde Lula é levado à força, “debaixo de vara”, em verdade um sequestro, numa operação que atingiu toda sua família, tem a marca indelével que já pode produzir um “bouleversement” incontrolável. Os mentores da Lava Jato, na sua desatinada escalada “saneadora”, que se comportam como “justiceiros” (segundo Marco Aurélio Mello, ministro do STF), e alguns até possuídos de uma “missão divina”, não previam seu efeito bumerangue, ou que Lula ia despontar seu talento para o renascimento. A “era Lula” tem sim suas raízes objetivas e grande força no plano da subjetividade popular, apesar da gigantesca campanha visando a sua destruição política, moral e humana.
 
Não se pode mais esconder os fatos insofismáveis de que a Lava Jato constituiu-se numa operação de sentido nitidamente político, porquanto deixam intocáveis lideres e partidos da oposição revanchista e antigoverno, e se direcionam seletivamente para desacreditar o governo, investigar e criminalizar as forças que o sustentam, sobretudo o PT e a esquerda aliada. Ainda o mais grave, objetivamente, a Lava Jato acaba sendo uma ponta de lança, uma força de choque, em consórcio com a grande mídia e a oposição de direita, da conspiração golpista em marcha para depor a presidenta da República e empreender uma caçada ao ex-presidente Lula. E na sua escalada destroça parte significativa das forças produtivas nacionais.
 
Atinge-se o paroxismo dessa conspirata, nas condições atuais, quando esse consórcio se transforma num formato de poder paralelo composto por setores do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal. Impõe-se pela determinação de regras próprias e práticas de um regime de exceção, explicitamente direcionado para reverter o ciclo político iniciado em 2003 pelo então presidente Lula e continuado pela presidenta Dilma, abrindo caminho para a volta das forças neoliberais e entreguistas da década de 1990.
 
O desastre da prisão coercitiva do ex-presidente, diante da resposta de Lula, da militância, de personalidades democráticas e de ministro do STF, de grande movimento de solidariedade a Lula, tudo isso inesperado por seus mentores, demonstram na sua reação uma ação e comportamento políticos: afirmam que toda manifestação de denúncias deflagradas nesses três últimos dias não passa de “uma cortina de fumaça”, que, antes disso, prisões coercitivas sem intimação se sucederam, sem nenhum reclamo (sic).
 
A deflagração da 24ª operação da Lava Jato gerou uma situação nova no país. Lula renasce, a militância vai se pondo de pé, as forças democráticas e patrióticas são instadas a se pronunciar. Conclama a honrada Hildergard Angel: “É chegado o momento de tomar posição”. A presidenta Dilma se reencontra com Lula na célebre cidade de São Bernardo, bastião do despertar da luta operária contra a ditadura no final da década de 1970. Na história da luta social não se pode prever o momento em que uma faísca pode conflagrar uma situação despertando e levantando grandes forças populares ainda imóveis. Mas o momento indica que acendeu uma faísca que pode levar a consequências imprevisíveis. Os dois campos em luta – seguir as mudanças ou retroceder aos imperativos dos donos do poder – torna-se mais bicudo, exacerbando a polarização e a luta. De fato a corrida ao poder pelas forças de direita, através do atalho golpista se acelera, mas o avolumar da resistência e a ampliação da consciência democrática, desde os últimos acontecimentos de sexta-feira passada ganham nova dimensão. Nesta hora, a convergência das forças democráticas, populares e progressistas ganha maior sentido, em defesa da legalidade e do Estado democrático de direito.
 
É chegado o momento dessas forças que se põem de pé denunciarem em uníssono a afronta à legalidade democrática, o desrespeito às normas do processo jurídico em nosso país, duramente conquistado após duas décadas de regime ditatorial, impedindo a marcha a ré na história política nacional do estado de direito democrático. Evoco a analogia ao exemplo histórico acontecido no final do século 19, o caso Dreyfus, na França, quando num momento memorável, Émile Zola, lavra o celebre J’Accuse, iniciando o caminho da reversão de um complô de setores dominantes, num conluio entre a justiça e a grande imprensa da época, que apavorou a Europa com o desrespeito às regras do procedimento jurídico na França da liberdade, igualdade e fraternidade.
 
Agora no brado da mensagem de Luiz Inácio Lula da Silva, o povo logo compreendeu o sentido expresso por ele de que, bateram na Jararaca no rabo, não na cabeça – o homem está vivo e confiante, se apresenta para a luta, que pode ganhar grande força nas ruas. Não se pode ter ilusão da frenética marcha golpista. A resposta a esta se faz em todas as frentes da luta política, jurídica e das ideias, e da unidade mais ampla das forças democráticas, populares, progressistas.
 
O quadro de intensa polarização levará a maiores batalhas de ruas – a força popular pela democracia, pelo Brasil contra o golpe “institucional” vai se agigantar! As bases populares se inflamaram, as manifestações deste domingo contra o grupo Globo é começo de vastas mobilizações. Dando mostras do seu DNA ideológico udenista-lacerdista, paus mandados do golpe voltam a apelar para intervenção das Forças Armadas. O Brasil não voltará a 1954 e nem a 1964.  A democracia vencerá!
 
 
* Renato Rabelo é ex-presidente nacional do PCdoB
 
Fonte: Blog do Renato Rabelo

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