Paulo Nogueira
Imagine um jogo de futebol em que um
time compre o juiz e entre com 13 jogadores.
Você sabe disso.
E mesmo assim entra em campo com 11
jogadores e finge não notar a roubalheira do árbitro.
Este é, em suma, o republicanismo à PT.
O melhor adjetivo para qualificá-lo, como se vê hoje, é suicida.
Republicanismo suicida.
Na política, sobretudo num país dominado
por uma plutocracia corrupta e predadora, você tem que jogar o jogo de acordo
com o adversário, e não com princípios românticos que podem ser facilmente
destruídos por gente interessada em manter a sociedade num estágio de
desigualdade primitiva.
Nas circunstâncias brasileiras,
republicanismo é uma palavra que a direita usa para minar os outros – sem que jamais
pratique.
O republicanismo conservador é FHC
nomeando Gilmar Mendes para o STF ou Mário Covas colocando seu chapa Robson
Marinho no Tribunal de Contas do Estado.
Roosevelt, nos Estados Unidos, só
conseguiu implantar sua New Deal – hoje um modelo para o revolucionário Bernie
Sanders – quando indicou para a Suprema corte juízes progressistas, alinhados
com seu ideário.
Até então, Roosevelt sofria sucessivas
derrotas num Supremo predominantemente conservador.
Lula, no Brasil, optou por indicar, por
exemplo, Joaquim Barbosa por ser negro. Barbosa se converteria, logo, numa
extensão togada da plutocracia.
Na Polícia Federal, o republicanismo
petista deixou que seu comando ficasse nas mãos brutalmente partidarizadas de
delegados antipetistas.
Na Lava Jato, isto se revelou uma
tragédia. Nada aconteceu com delegados da Lava Jato que, na campanha
presidencial, publicaram barbaridades contra Dilma nas redes sociais.
Sérgio Moro é filho do republicanismo
petista. Sua atuação francamente antipetista jamais foi contestada pelo ministro
da Justiça José Eduardo Cardozo. Moro teve campo livre para ir fazendo coisas
indecentes como forçar Lula a um depoimento e grampear conversas presidenciais.
Tudo em nome do republicanismo.
Mas em nenhuma área a postura
autodestrutiva do PT foi mais deletéria para a democracia do que na imprensa.
As empresas jornalísticas que orquestram
o golpe foram amplamente financiadas por Lula e Dilma por meio de verbas
publicitárias bilionárias.
Apenas a Globo recebeu anualmente 500
milhões de reais com audiências declinantes e um conteúdo jornalístico
criminoso. Tudo isso sem contar a tolice que é um governo petista fazer
propaganda para um público – o da Globo – que abomina qualquer coisa ligada ao
PT.
Lula teve uma esplêndida oportunidade de
moralizar as verbas publicitárias governamentais. Sua administração poderia
partir da chamada base zero para determinar os gastos com propaganda.
Outros presidentes, antes de Lula,
fizeram o mesmo. Mas em troca de apoio. FHC abarrotou a Globo de dinheiro
público, não apenas pela publicidade mas por financiamentos de bancos estatais,
mas foi tratado como um estadista imaculado. A Globo simplesmente ignorou a
compra de votos no Congresso que permitiu o segundo mandato do decano dos
golpistas de 2016.
Num país como a Suécia, o republicanismo
é uma virtude admirável porque sua plutocracia é civilizada.
Num país como o Brasil, em que a
plutocracia é predadora, republicanismo, para voltar à metáfora do futebol, é
você jogar com onze quando o adversário tem 13 e mais um juiz ladrão.
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