segunda-feira, 4 de julho de 2016

A vitória do Brexit é um sinal alarmante para os EUA da era Trump?

A vitória do Brexit é um sinal alarmante para os EUA da era Trump?

Como a ascensão de Sanders e Trump nos EUA, a votação foi uma 'rejeição do establishment político da Grã-Bretanha', escreveu Richard Eskow.


Lauren McCauley, Common Dreams
reprodução
 
A decisão chocante do Reino Unido em sair da União Européia deixou uma sombra pairando sobre a paisagem política norte-americana, mandando aos EUA – e ao resto do mundo – um aviso sobre os perigos de uma classe trabalhadora descontente e do poder da política negativa. Conservadores do mundo todo vêm anunciando a votação de quinta-feira como uma vitória para “o povo” sobre a “elite política”.
 
Donald Trump, o presumível candidato Republicano à presidência dos EUA, foi rápido em elogiar calorosamente o resultado, comparando-o à sua própria campanha, que tem se alimentado das frustrações de uma população economicamente insegura, incitando medo dos forasteiros para ganhar apoio. 
 
“Basicamente, eles retomaram seu país. Isso é uma grande coisa”, declarou o bilionário de Nova Iorque na Escócia, onde ele chegou na sexta-feira para a reabertura de resort de golf.
 

“As pessoas estão bravas ao redor do mundo. Estão bravas com as fronteiras, com as pessoas que chegam e tomam conta dos seus países e ninguém nem sabe quem eles são”, ele continuou. “Elas estão bravas com muitas, muitas coisas no Reino Unido, nos EUA e em muitos outros países. Esse não será o último”.
 
Enquanto muitos apontam para uma retórica exageradamente xenofóbica que permitiu a vitória da campanha pela “saída” com uma maioria estreita de votos, observadores estão salientando como foram as políticas do establishment político da União Européia – austeridade, desregulação, globalização – que levaram esses eleitores aos braços dos candidatos conservadores.
 
Como escreveu na sexta-feira, Padraig Reidy, editor da revista Little Atoms, sediada em Londres, “a votação foi um reflexo de uma divisão crescente entre uma elite metropolitana que floresceu em uma economia globalizada e uma raiva populista da parte daqueles que se sentem deixados para trás”.
 
Soa familiar?
 
Como explicou o ex-correspondente internacional, Stephen Kinzer, no Boston Globe: 
 
Visionários que promoveram a unidade européia nos anos seguintes à 2ª Guerra Mundial a viram como um presente ao povo do continente. Mas seus sucessores raramente consultaram essas pessoas, ouviram suas reclamações, ou ajustaram as políticas da UE para atender à necessidade delas. Ao invés, abraçaram a ideologia da desregulação, privatização e reduziram o gasto social. Imaginaram a Europa como uma zona de livre comércio com fronteiras abertas, mas com pouca proteção social para pessoas comuns.
 
“A UE não tem escutado seus constituintes”, ele adicionou. “Como outras classes dominantes, incluindo as dos EUA, agora estão pagando pela sua arrogância”.
 
De fato, os paralelos com os EUA são claros. A alguns meses das eleições de novembro, a desigualdade desenfreada continua a apertar a nação enquanto a lei de financiamento de campanha pressiona os deputados a descaradamente acelerarem políticas que somente beneficiam a elite corporativa.



A desconfiança com o establishment político norte-americano permitiu ao menos um candidato de fora, Trump, a dominar um grande partido, enquanto, Hillary Clinton, a presumível candidata Democrata, tem sido assolada por altas taxas desfavoráveis – amplamente por causa de sua consolidação na classe política.
 
O rival de Clinton, Bernie Sanders – cuja proposta movimentou uma onda massiva de apoiadores durante as primárias Democratas – disse na sexta-feira que a votação para sair do Reino Unido foi um testemunho da falha da economia global. 
 
“Essa votação é sobre uma indicação de que a economia global não está funcionando para todo mundo”, ele disse ao MSNBC. “Não está funcionando nos EUA para todo mundo e não está funcionando no Reino Unido para todo mundo. Quando você vê investidores indo à China e fechando fábricas e demitindo (...) milhões de pessoas, elas estão dizendo, ‘quer saber, essa economia global pode ser boa para alguns, mas não para mim’”.
 
“Então o que precisamos fazer”, continuou Sanders, “é criar uma situação na qual haja mais cooperação internacional – dar fim à essas guerras horríveis que temos visto pelos anos – mas ao mesmo tempo temos que ter certeza que teremos empregos, e renda, e assistência médica para todas as pessoas”.
 
Como a ascensão de Sanders e Trump nos EUA, a votação foi uma “rejeição do establishment político da Grã-Bretanha”, escreveu Richard Eskow, da Campanha pelo Futuro da América.
 
A campanha pela saída, explicou Eskow, “prevaleceu mesmo com oposição dos três maiores partidos políticos” no Reino Unido, assim como o presidente Barack Obama nos EUA, que “atravessou o Atlântico para ficar ao lado de Cameron e oferecer apoio”.
 
“Os eleitores rejeitaram todos eles”, adicionou Eskow. “O levante começou. A questão agora é, quem irá leva-lo adiante?”.
 
“De Donald Trump à Bernie Sanders, de Syriza na Grécia ao Podemos na Espanha, da extrema direita na Áustria à ascensão do movimento de independência escocês, essa é uma era de ressentimento contra as elites”, disse o colunista do Guardian, Owen Jones. “A frustração está direcionada em muitas direções: novos movimentos de esquerda, nacionalismo cívico, populismo anti-imigração”.
 
Sobre como se dará essa dinâmica nos EUA, somente o tempo irá dizer.





Créditos da foto: reprodução

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