segunda-feira, 4 de julho de 2016
Regulamentação da mídia
O Justificando Entrevisa recebe o Professor da Fundação Getúlio Vargas
Yuri Carajelescov para uma conversa sobre assunto que é tabu no
Brasil: a regulamentação da mídia audiovisual, a qual está sob
controle de 05 famílias alinhadas a uma uniformidade de pensamento e
com amplo poder.
Por isso, falar sobre regulamentação de um oligopólio - faixa de
mercado nas mãos de pouquíssimas pessoas - é algo delicado quando os
maiores afetados são empresas com capacidade incrível de difundir sua
opinião, no caso taxando essa medida de "censura". Yuri alerta, no
entanto, que atualmente não há mais censura estatal, mas sim privada,
como quando linhas editoriais das próprias empresas de comunicação
barram um material por não atender aos fins privados e comerciais -
"Quem censura os meios de comunicação são os próprios meios de
comunicação, que são dominados por interesses muito claros".
São empresas que usufruem do espaço público do ar, pois captam e
exploram campos eletromagnéticos finitos. Para poderem fazer isso, em
tese, deveriam participar de licitações, mas a realidade brasileira
mostra que as licenças são renovadas infinitamente, de forma parecida,
como lembra Yuri, às sesmarias, isto é, direitos hereditários sobre
bens públicas.
Na Argentina, o governo resolveu abrir a caixa preta e participar do
debate sobre regulamentação das empresas de telecomunicação. "Para
haver isso, houve uma ampla discussão. Para você ter uma ideia, quando
o projeto foi apresentado ao Congresso argentino, para levá-lo
simbolicamente foram 50 mil pessoas à frente do Parlamento" - lembra
Yuri. No Brasil, a legislação é de 1962, com alguns remendos feitos
durante a Ditadura militar, uma das grandes responsáveis pelo
oligopólio da mídia, sob o pensamento de unificação de um país.
A unificação, no contexto brasileiro, ocorre numa mídia que pensa em
sintonia. "Você muda de canal, o comentarista, mas a linha é
basicamente a mesma. Ou seja, esses meios de comunicação formados por
empresas familiares que ja estão arraigadas há muitos anos, são, na
verdade, uma forma de manutenção do próprio status quo. Não há essa
pluralidade de vozes, você não liga a televisão e vê o movimento do
sem teto fazendo um debate amplo e franco, por exemplo" - critica o
Professor sobre o oligopólio midiático.
No tempo em que a entrevista foi concedida, a principal pauta é o
impeachment de Dilma Rousseff. Na avaliação do Professor o impeachment
é resultado da agenda dessas empresas em eleger a corrupção como tema
principal, mas uma corrupção bem específica, a partir de "frames",
recortes. "Vamos discutir corrupção deste governo. Do governo passado,
nem pensar. Então a mídia fez o recorte". Nessa agenda, heróis são
eleitos, lembrados por Yuri na figura de Joaquim Barbosa, no passado,
e Sérgio Moro, no presente, além dos vilões, nas pessoas de Lula,
Dilma, PT e etc.
Yuri lembra a frase de Roberto Marinho sobre esses recortes da mídia,
quando disse que "muito mais importante do que eu mostro no Jornal
Nacional é o que eu não mostro no Jornal Nacional". Para ele,
contraditoriamente, o uso de recortes para atender a interesses
privados é uma forma de corrupção, uma vez que corromper se
colonizando a opinião pública com interesses que são particulares, mas
que são apresentados de uma forma muito sutil - conclui.
O texto acima é de Carlos R. S. Moreira Beto
Assista à entrevista em: https://www.youtube.com/watch?v=j9G7yp8ELLc
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