sábado, 6 de agosto de 2016

Obama auxiliará Israel com bilhões de dólares

05/08/2016 11:39 - Copyleft

Obama auxiliará Israel com bilhões de dólares

Os EUA fazem isso enquanto Israel agride mais do que nunca as próprias políticas que os EUA dizem achar tão destrutivas.


Glenn Greenwald, The Intercept
Haim Zach / GPO
Por toda a conversa fiada sobre a animosidade entre o presidente dos EUA, Barack Obama, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o Whashington Post relata que “um representante israelense chegará em Washington por agora para uma rodada final de negociações envolvendo o maior pacote de auxílio militar que os EUA já deram a qualquer país e que durará mais de uma década depois de o presidente Obama deixar o cargo”. Os EUA já transferem $3.1 bilhões em dinheiro de contribuintes todo ano para Israel – mais do que qualquer outro país de longe – mas o novo acordo que Obama irá assinar “aumenta significantemente” essa quantia, e a garante por 10 anos.
 
Em resposta a esse massivo lucro inesperado, Netanyahu está bravo que não irá ganhar ainda mais. Por algum tempo, “Netanyahu estava ganhando $5 bilhões ao ano”. Também, Israel se opôs aos esforços de direcionar parte do auxílio para os contratantes do exército dos EUA ao invés de para os israelenses (então esse pacote de “auxílio” é tanto uma transferência de dinheiro dos contribuintes dos EUA para fabricantes de armas em ambos países quanto é diretamente para Israel). Além disso, “os israelenses também estão tristes de estarem indignados com uma posição dos EUA de que qualquer quantia de dinheiro que concordarem será final e que Israel não irá ao Congresso pedir mais dinheiro”.
 
Normalmente, quando alguém te entrega bilhões de dólares em auxílio, você não está em uma posição de pedir mais. Mas as regras para Israel, quando se trata das políticas dos EUA, como é o caso frequentemente, são simplesmente diferentes. Mesmo quando Israel tem expandido agressivamente os assentamentos na Cisjordânia (de maneira a humilhar os EUA) e tem assassinado civis em Gaza, o auxílio dos EUA simplesmente aumenta cada vez mais. O que é particularmente fascinante sobre tudo isso é que Netanyahu originalmente pretendia esperar até a “próxima administração” para finalizar o acordo – porque, assumindo que seria Hillary Clinton, ele acreditava (e com boas razões) que teria um acordo ainda melhor – mas agora está preocupado com um “imprevisível” Donald Trump, que já empenhou uma retórica pró-Israel (e pior), mas que anteriormente falou sobre a necessidade de “neutralidade” na questão Israel/Palestina e que botou a retórica “América Primeiro” como peça central de sua campanha.
 
Tudo isso significa que os EUA de modo geral, e os Democratas mais especificamente, são responsáveis diretos das brutalidades e opressões impostas por Israel aos Palestinos por décadas de ocupação. Isso porque, como documentou um relatório do Serviço de Recursos do Congresso de 2012, “quase todo o auxílio dos EUA a Israel é em forma de assistência militar. O auxílio militar dos EUA tem ajudado a transformar as forças armadas israelenses em um dos exércitos mais sofisticados tecnologicamente do mundo. O auxílio foi idealizado para manter a 'vantagem militar qualitativa' de Israel sobre os exércitos vizinhos”. E, claro, Clinton prometeu em uma carta ao financiador bilionário do Partido Democrata, Haim Saban, e no seu discurso na AIPAC, que irá fazer de tudo para se opor a boicotes a Israel que queiram terminar as ocupações.










O que talvez é o mais chocante é quão pouca atenção ou debate tudo isso recebe. Os norte-americanos realmente apoiariam a transferência de bilhões de dólares todo ano para Israel, e depois a entrada em um novo acordo que aumentaria essa quantia e iria assegurá-la por mais 10 anos? Isso parece duvidoso. Para começar, Israel desfruta de cobertura de assistência médica universal, enquanto “33 milhões de norte-americanos, 10.4% da população dos EUA”, continuam sem seguro saúde. Essa disparidade é mostrada em manchetes como essa:
 
Como escreveu o The Forward em 2012: “os cidadãos israelenses parecem estar recebendo melhores cuidados [do que os norte-americanos] por suas despesas menores”. Felizmente para Israel, o povo daquele país goza de uma expectativa de vida muito maior do que a dos cidadãos que transferem bilhões para eles todo ano. De acordo com as estatísticas mais recentes da CIA, os israelenses podem esperar viver até os 82.27 anos - 11o melhor taxa do mundo - enquanto os norte-americanos podem esperar viver 79.68 anos, ficando em 43o lugar.
 
As crianças israelenses também se dão melhor que as crianças dos EUA. Israel tem uma das menores taxas de mortalidade infantil no mundo (3.55 mortes para cada 1.000 nascimentos), enquanto 5.87 bebês norte-americanos morrem a cada 1.000 nascimentos. No mês passado, o desemprego em Israel caiu para o menor nível em décadas (4.8%, que “não é somente baixo historicamente, como também é baixo para padrões internacionais, e por definições econômicas convencionais não há desemprego em Israel”), enquanto os trabalhadores dos EUA, mesmo com a queda nas taxas de desemprego, continuam batalhando enquanto os “subempregados e os desencorajados” são contados.
 
Em suma, as políticas dos EUA em ambos os partidos tecem grandes teorias sobre como os norte-americanos estão batalhando enquanto a administração Obama se prepara para transferir mais e mais bilhões do seu dinheiro a Israel. Os EUA fazem isso mesmo enquanto Israel avança com mais agressão do que nunca as próprias políticas que os EUA dizem achar tão destrutivas (apenas dois dias atrás, o Departamento de Estado disse que Israel “está sistematicamente prejudicando as perspectivas de uma solução de dois estados” ao continuar a expandir os assentamentos ilegais).
 
Apenas comparem a retórica que os Democratas amam empenhar sobre si mesmos e o seu tratamento com os palestinos para ver como é vazia a retórica. E apenas imagine o que iria acontecer se essa política de transferir ainda mais bilhões do dinheiro dos contribuintes norte-americanos para Israel fosse amplamente debatida ao invés de ignorada como consenso bipartidário.


Créditos da foto: Haim Zach / GPO

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