sábado, 10 de setembro de 2016

As manifestações contra Temer

As manifestações contra Temer

Sebastião Costa*


A essas alturas do campeonato, com o golpe pra lá de consolidado, uma manifestação com 100 mil pessoas, vamos convir, é um baita evento. Até se quis contestar os números dos organizadores, mas como a Folha e a PM paulista só calculam passeatas contra o PT, vão ter que engolir um movimento, que pelas previsões dos entendidos está só começando.

O raciocínio é que, quando as maldades trabalhistas, previdenciárias e sociais do golpista Temer começarem a invadir lares e bolsos dos brasileiros, há uma forte expectativa de que o movimento que pede o 'Fora Temer!' e grita por ‘Diretas Já!’ deva crescer com toda força.

Ponha nessa balança também a ilegitimidade de um governo sem voto, sem carisma e sem discurso, rodeado de traidores e repleto de corruptos e vamos ter querosene pra muita passeata.

Outro combustível bem mais potente que vai lotar muitas ruas pelo país afora, está configurada na pesquisa que pergunta se os brasileiros querem ‘Diretas Já!’, realizada pelo portal e-Cidadania do Senado Federal: Até o início da noite do domingo 4/9, o placar a favor de eleições dava uma goleada de 146.912 a 12.340. Nada menos do que 92% dos brasileiros querem o 'Fora Temer!' com eleições diretas para presidente ainda esse ano. Pela grandiosidade dos números, dá pra arriscar que até os paneleiros surfaram nessa onda.

Corte, para falar que a manifestação do domingo em São Paulo caminhava em plena harmonia, quando foi interrompida pela brutalidade da PM de Alckmin que prendeu, mesmo antes de iniciar o movimento, 26 jovens sem a mais remota justificativa e seguiu reprimindo com a violência dos cassetetes (um jornalista da BBC Brasil foi agredido), balas de borrachas (um jornalista do jornal El País e o ex-ministro Roberto Amaral foram atingidos) e gás lacrimogênio.

Até a imprensa internacional, com destaques no jornal americano Washington Post e o espanhol El País, denunciou a truculência da PM paulista contra um 'movimento pacífico'.

Na contramão da racionalidade, o editorial da Folha de São Paulo - o mais tucano de toda a imprensa nativa, passou ao largo da força e importância do protesto e foi fincar suas críticas na baderna reinante da manifestação. Achou pouco e ainda exigiu mais repressão aos 'grupelhos extremistas' e 'fanáticos da violência' Ele falava de meia dúzia de black blocs infiltrada no movimento, sem qualquer conexão com a essência do protesto e muito menos com a filosofia da Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo, organizadores do evento.

O editorial tira ainda o pé da história, quando alerta para os riscos desses 'grupelhos fanáticos' tomarem conta do poder e faz referências ao Brasil de 64 e à Alemanha nazista de Hitler.

Na amnésia, acredito, deliberada, o editorialista 'esquece' que badernas que geram medo só servem à direita golpista. O incêndio do Reichstag, por exemplo, foi o estopim que detonou as ações de Hitler rumo ao Estado de exceção.

Já aqui em terras de Santa Cruz, as turbulências de 64 serviram de pretexto para udenistas e militares jogarem nosso país na longa escuridão de 21 anos de ditadura.

Por falar em udenista, tem um bocado deles aboletado nos poleiros do governo golpista de Temer. Aliás, a Folha deveria ter mais respeito com os baderneiros, porque na história do Brasil onde teve golpe, quem sempre estiveram por lá foram as digitais udenistas.

* Médico pneumologista



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