As manifestações contra Temer
Sebastião Costa*
A essas alturas do campeonato, com o
golpe pra lá de consolidado, uma manifestação com 100 mil pessoas, vamos
convir, é um baita evento. Até se quis contestar os números dos organizadores,
mas como a Folha e a PM paulista só calculam passeatas contra o PT, vão ter que
engolir um movimento, que pelas previsões dos entendidos está só começando.
O raciocínio é que, quando as maldades
trabalhistas, previdenciárias e sociais do golpista Temer começarem a invadir
lares e bolsos dos brasileiros, há uma forte expectativa de que o movimento que
pede o 'Fora Temer!' e grita por ‘Diretas Já!’ deva crescer com toda força.
Ponha nessa balança também a
ilegitimidade de um governo sem voto, sem carisma e sem discurso, rodeado de
traidores e repleto de corruptos e vamos ter querosene pra muita passeata.
Outro combustível bem mais potente que
vai lotar muitas ruas pelo país afora, está configurada na pesquisa que
pergunta se os brasileiros querem ‘Diretas Já!’, realizada pelo portal
e-Cidadania do Senado Federal: Até o início da noite do domingo 4/9, o placar a
favor de eleições dava uma goleada de 146.912 a 12.340. Nada menos do que 92%
dos brasileiros querem o 'Fora Temer!' com eleições diretas para presidente
ainda esse ano. Pela grandiosidade dos números, dá pra arriscar que até os
paneleiros surfaram nessa onda.
Corte, para falar que a manifestação do
domingo em São Paulo caminhava em plena harmonia, quando foi interrompida pela
brutalidade da PM de Alckmin que prendeu, mesmo antes de iniciar o movimento,
26 jovens sem a mais remota justificativa e seguiu reprimindo com a violência
dos cassetetes (um jornalista da BBC Brasil foi agredido), balas de borrachas
(um jornalista do jornal El País e o ex-ministro Roberto Amaral foram atingidos)
e gás lacrimogênio.
Até a imprensa internacional, com
destaques no jornal americano Washington Post e o espanhol El País, denunciou a
truculência da PM paulista contra um 'movimento pacífico'.
Na contramão da racionalidade, o editorial
da Folha de São Paulo - o mais tucano de toda a imprensa nativa, passou ao
largo da força e importância do protesto e foi fincar suas críticas na baderna
reinante da manifestação. Achou pouco e ainda exigiu mais repressão aos
'grupelhos extremistas' e 'fanáticos da violência' Ele falava de meia dúzia de
black blocs infiltrada no movimento, sem qualquer conexão com a essência do
protesto e muito menos com a filosofia da Frente
Brasil Popular e Frente Povo Sem
Medo, organizadores do evento.
O editorial tira ainda o pé da história,
quando alerta para os riscos desses 'grupelhos fanáticos' tomarem conta do
poder e faz referências ao Brasil de 64 e à Alemanha nazista de Hitler.
Na amnésia, acredito, deliberada, o
editorialista 'esquece' que badernas que geram medo só servem à direita golpista.
O incêndio do Reichstag, por exemplo, foi o estopim que detonou as ações de
Hitler rumo ao Estado de exceção.
Já aqui em terras de Santa Cruz, as
turbulências de 64 serviram de pretexto para udenistas e militares jogarem
nosso país na longa escuridão de 21 anos de ditadura.
Por falar em udenista, tem um bocado
deles aboletado nos poleiros do governo golpista de Temer. Aliás, a Folha
deveria ter mais respeito com os baderneiros, porque na história do Brasil onde
teve golpe, quem sempre estiveram por lá foram as digitais udenistas.
* Médico pneumologista
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