Apontado como infiltrado num grupo de
manifestantes anti-Temer que acabou preso em controversa ação da polícia no
domingo, Willian Pina Botelho, que se apresentava nas redes com o nome de Balta
Nunes, é capitão do Exército. “Estudamos juntos no Instituto Gammon, em Lavras
(MG)”, disse a este jornal um conhecido do militar, que não quis se
identificar. Segundo ele, Botelho é “sério, estudioso” e iniciou sua carreira
no Exército no setor de leilões. Ao menos desde 2013, está no serviço de
inteligência do Exército.
Na segunda-feira, EL PAÍS adiantou que
Balta, como até então era conhecido, fora apontado como o infiltrado por alguns
dos manifestantes detidos e liberados por decisão da Justiça na segunda-feira,
que considerou a prisão irregular. Além dos depoimentos, vários elementos do
episódio chamaram atenção para ele, como a escolta para local diferente da que
o grupo envolvido foi levado e comportamento suspeito nas redes sociais. A
repercussão em torno do caso logo chegou a Lavras, onde seus conhecidos não
duvidam ao identificá-lo.
Botelho é oficial do Exército, bacharel
em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras e mestre em
Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Em novembro de
2013 publicou um artigo na revista A Lucerna, uma publicação da Escola de
Inteligência Militar do Exército. Discorreu sobre A inteligência em apoio às
operações no ambiente terrorista. Segundo o portal da Transparência, o militar
está na ativa desde 1998, o que significa que não se afastou das funções para
se infiltrar entre os manifestantes.
Procuradas, as assessorias de imprensa
do Exército e da secretaria de Segurança Pública não haviam se manifestado até
o fechamento desta reportagem.
De acordo com Bernardo Wahl,
especialista em segurança internacional, embora não seja comum, não seria uma surpresa se o Exército estivesse
realizando uma operação de monitoramento de alguns grupos, levando-se em conta
os últimos eventos ocorridos no Brasil, como a Copa e a Olimpíada. “O Exército
fazer isso não seria uma prática comum”, diz. “Em um contexto de manifestações,
espera-se que a Polícia Militar tenha um papel de maior protagonismo. Mas num
contexto onde os Jogos Olímpicos ocorreram, do aumento da percepção no Brasil
sobre a força terrorista, pra mim não é estranho que o exercito atuasse.”
Ainda assim, explica Wahl, se comprovada
a versão dos manifestantes, para que uma operação dessa ocorresse, seria
necessário mandato legal para fazê-la. “Também é preciso saber em que contexto
de legalidade seguindo um Estado democrático de direito onde vivemos, essa
operação aconteceu”.
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