La Jornada: acusações contra Lula indicam 'golpe de Estado do colarinho branco' no Brasil
Em editorial, jornal mexicano diz que crise política brasileira é 'uma operação em duas fases': legislativa, com a destituição de Dilma, e agora judicial, contra Lula
O jornal mexicano La Jornada publicou nesta quinta-feira (15/09) um editorial em que afirma que as acusações do MPF (Ministério Público Federal) contra o ex-presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva, apresentadas na quarta-feira (14/09), parecem confirmar que no Brasil “se operou um golpe de Estado de colarinho branco”, em referência à destituição de Dilma Rousseff da Presidência do país no fim de agosto.
Intitulado “Lula, perseguido”, o editorial do periódico mexicano afirma que embora as investigações da Operação Lava Jato tenham “dado fim à carreira de vários políticos do agora governante PMDB, como o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha – principal impulsor da destituição de Dilma Rousseff”, o “objetivo prioritário do Poder Judicial” brasileiro são “a direção histórica do PT, e particularmente o ex-mandatário, agora imputado”.
Paulo Pinto / Agência PT
O ex-presidente brasileiro Lula durante pronunciamento nesta quinta-feira (15/09) em resposta a acusações do MPF
O ex-presidente brasileiro Lula durante pronunciamento nesta quinta-feira (15/09) em resposta a acusações do MPF
O jornal explica que o próximo passo é que o magistrado Sérgio Moro decida se as acusações contra Lula são procedentes, “coisa que pode ser dada como certa, tendo conta de que o juiz é inimigo declarado” do ex-presidente, diz o La Jornada.
“É significativo que a acusação ocorra dias depois de Lula anunciar sua intenção de se apresentar como candidato nas eleições presidenciais de 2018”, o que dá à causa contra o ex-presidente “um aspecto político inocultável”. O La Jornada também julga a acusação “pouco verossímil”, já que “contrasta com o nível de vida do velho dirigente operário, muito distante do enriquecimento súbito”. Já “os numerosos integrantes da classe política tradicional que foram envolvidos na Lava Jato – o exemplo mais grotesco sendo Cunha – ostentam, por regra geral, fortunas dificilmente explicáveis se não pela corrupção”, diz o jornal.
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Para o La Jornada, a crise política brasileira consiste em “uma operação em duas fases”: uma legislativa, concluída com a destituição de Dilma Rousseff, e uma judicial, “que agora aponta contra seu mentor e antecessor no cargo”. Esta seria uma “reação de uma oligarquia que apenas conjunturalmente tolerou o exercício da Presidência por um ex-sindicalista metalúrgico e por uma ativista social que participou do movimento guerrilheiro” contra a ditadura militar brasileira.
O “afã por destruiu o governo do PT”, diz o periódico mexicano, “obedecia também ao desígnio de mudar o rumo socioeconômico do poder público na maior nação da América Latina, suprimir os traços soberanos e populares da administração e operar uma regressão ao neoliberalismo, tarefa que já realiza Michel Temer, presidente imposto após a queda de Dilma”.
“A acusação contra Lula parece confirmar que no Brasil se operou um golpe de Estado do colarinho branco e que, como ocorria após os golpes militares de outrora, começou a etapa de perseguição aos derrotados”, conclui o La Jornada.
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