domingo, 23 de outubro de 2016

No Bundestag, Brasil em debate

21/10/2016 11:58 - Copyleft

No Bundestag, Brasil em debate

Deputado alemão lembrou que o governo Temer não se sustenta e hoje o mentor do impeachment, Eduardo Cunha, é réu de acusações sobre corrupção e está preso.


Flavio Aguiar, de Berlim
Bundestag
Na noite de quinta-feira, 20 de outubro, o Brasil entrou em debate no Bundestag, o Parlamento Federal alemão. O pedido da entrada do país e de sua situação atual, partiu do partido Die Linke, manifestando preocupação pela democracia em nosso país depois do golpe de estado parlamentar que depôs a presidenta Dilma Rousseff.
 
Não houve votação, apenas debate, em que os partidos presentes no Parlamento expuseram sua posição a respeito.
 
Foi muito elucidativo sobre o posicionamento e as preferências ideológicas de cada partido em relação à América Latina como um todo.
 
Um partido - a União Democrata Cristã, da chanceler Angela Merkel (representando também a União Social Cristã da Baviera) - defendeu o governo de Michel Temer, através de seu representante, o deputado Andreas Nick. Negou que houvesse ocorrido um golpe no Brasil. Afirmou que o governo de Dilma perdeu credibilidade, que era necessário respeitar as decisões das duas casas do Congresso brasileiro. Disse ainda que a crise política e econômica brasileira está sendo debelada pelo novo governo. Elogiou ainda o governo de Mauricio Macri na Argentina e manifestou esperança de que o Chavismo chegue ao fim na Venezuela.




 
Todos os outros partidos - a Linke, o Verde e o Partido Social Democrata - se posicionaram contra o impeachment de Dilma Rousseff, embora utilizando diferentes conceitos para caracteriza-lo.
 
O deputado Wolfgang Gehrcke falou pela Linke. Fez um preâmbulo, referindo-se à aproximação dos EUA e de Cuba e ao processo de paz na Colômbia, que veio para “curar uma ferida” do continente. Quanto ao Brasil, caracterizou o impeachment como um “Putsch” (palavra clássica em alemão para “golpe de estado”), sendo portanto, um ato ilegal. Referiu-se também ao protesto dos representantes de esquerda no Parlamento Europeu, reiterando que seria desejável que este Fórum de manifestasse como um todo.
 
O deputado dos Verdes - Omid Nouripur se posicionou contra o impeachment, mas ressaltou que para ele não houvera “Putsch” propriamente, mas sim uma “conspiração” (Verschwörung, em alemão). Sublinhou o reconhecimento de que durante os governos liderados pelo Partido dos Trabalhadores houve significativos avanços em termos de respeito e promoção dos direitos humanos, inclusive na luta pela igualdade de tratamento dos gêneros, e progressos notáveis nas relações com os países africanos.
 
O deputado Klaus Barthel, que falou pelo SPD, usou ainda um outro termo para caracterizar o impeachment, que também criticou: “Streich", em alemão, que em português também se pode traduzir por “golpe” ou “pancada”, de qualquer modo, conotando “violência”. Foi quem fez o pronunciamento mais amplo, contundente e atualizado sobre a crise brasileira. Defendeu que a presidenta Dilma Rousseff era melhor que o Parlamento que a condenou ao ostracismo. As acusações de corrupção que pesam sobre a maioria dos que a condenaram terminam por sugerir a absolvição da Presidenta. Referiu-se ao fato de hoje o mentor do impeachment, Eduardo Cunha, ser réu de acusações sobre corrupção,  e estar preso. Segundo ele, o governo Temer não se sustenta. Está afundando numa crise que é a ponta do icebergs de uma crise do sistema político brasileiro como um todo. E concluiu fazendo uma crítica à política de privatizações indiscriminadas levada em frente pelo governo de Michel Temer.
 
O discurso de Barthel aponta para uma contradição: através de seu porta-voz oficial, o governo de Angela Merkel declarou que a situação brasileira era “normal”. Franz-Walter Steinmeier, do SPD, é o ministro de Relações Exteriores do governo alemão. A bancada do SPD no Parlamento já tinha se manifestado preocupada com o estado da democracia no Brasil depois do impeachment. Ou seja, apesar da coalizão (aqui definida como “Grande Coalizão”, entre o SPD e a CDU, sempre que ela ocorre) o Brasil demonstrou que há fissuras nela.
 
Que, esperemos, se ampliem. Pelo bem do Brasil e do SPD.
Créditos da foto: Bundestag

Nenhum comentário:

Postar um comentário