Em busca de
apoio dos artistas, Temer gasta mais de R$ 600 mil com homenagem ao samba
Assessoria
do Palácio do Planalto afirmou que valor desembolsado é o "justo e
possível" para um evento do porte da cerimônia de premiação
Helena Sthephanowitz
No
mesmo dia em que Michel Temer autorizou o cancelamento de 469 mil
cadastros de famílias carentes e em que outros 654 mil tiveram o benefício do
Bolsa Família bloqueado, para fazer economia de R$ 2,4 bilhões, o “presidente”
aprovou o gasto de mais de R$ 600 mil para realização de uma festa para 600
convidados, sem licitação, exclusiva
para homenagear o samba, na noite de 07/11/2016, no Palácio do Planalto, em
cerimônia de Entrega da Ordem do Mérito Cultural 2016 a Dona Ivone Lara.
Segundo o Diário Oficial da União, a
contratação de uma empresa de eventos custou R$ 596,8 mil aos cofres públicos.
Mas no Diário não aparecem os nomes dos artistas contratados pela empresa
carioca Treco Produções Artísticas Ltda.
Além desse contrato, há outro também
publicado no Diário, informando o pagamento, sem licitação, de R$ 15 mil para Fafá de Belém cantar o Hino
Nacional. Entre os artistas que se apresentaram, estava também o cantor de
samba Neguinho da Beija-Flor. O valor do cachê não foi divulgado.
Mais R$ 23 mil foram gastos na compra do
livro Outro, de Augusto Campos, para presentear os convidados.
Para justificar as dispensas de
licitação, o Ministério da Cultura afirma que artistas como, Márcio Gomes,
Áurea Martins e André Lara são consagrados pela crítica e pela opinião pública.
(!!!)
A festa fechada ao público teve ainda o “presidente”
Michel Temer e esposa Marcela Temer para animar a plateia.
O agrado para convidados selecionados
tem motivos: primeiro, o medo que Temer tem de ser vaiado. A classe artística
tem feito protestos contra o governo de Temer dentro e fora do Brasil. A
cantora Fernanda Takai disse na coluna de Mônica Bergamo, na Folha de domingo
(6), que é “Fora, Temer”, e que
críticas por apoiar a presidenta Dilma Rousseff não a farão se acovardar.
Caetano Veloso tem aparecido na imprensa
segurando cartaz “Fora, Temer”.
No sábado (5), a atriz brasileira Sônia
Braga criticou o impeachment de Dilma e pediu que os brasileiros defendam a
democracia no Brasil. A atriz participou de evento do filme Aquarius, na
Flórida, nos Estados Unidos: "Há um golpe no Brasil; não é um golpe
militar", disse Sônia, em uma conversa com o público após a projeção do
filme que se tornou o símbolo contra o golpe.
O segundo motivo são as conversas que
correm em Brasília: Temer pode ser retirado do governo ainda em 2017, o novo
presidente seria escolhido em votação
indireta no Congresso, com os votos dos 81 senadores e dos 513 deputados.
Uma matéria do jornal Folha de S.Paulo apurou que alguns dos nomes cogitados
são o do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim e do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Jobim sai em desvantagem por ter sido
consultor da Odebrecht.
A assessoria de Temer afirmou que o
valor desembolsado é "justo e possível" para um evento do porte da
cerimônia de premiação. Pode até ser legal. Mas é imoral. Principalmente neste
momento em que Temer afirma que não há dinheiro para educação, saúde e para o
Minha Casa, Minha Vida.
E assim Temer volta ao tempo do império,
quando bailes exclusivos, mas pago com dinheiro público, eram promovidos para a
corte do imperador. Lembra o baile da Ilha Fiscal, quando o Visconde de Ouro
Preto, braço direito do imperador D. Pedro II, teve a "brilhante"
ideia de tirar verba do Ministério da Viação e Obras Públicas para promover um
baile inesquecível em apoio à família real contra movimentos republicanos. A
fortuna gasta no baile equivalia a 10% do orçamento anual da Província do Rio
de Janeiro. Deu no que deu. Seis dias depois da festa foi proclamada a
República.
Hoje o "baile" de Temer está
tirando dinheiro da educação, saúde, dos programas sociais e das próprias
manifestações culturais populares antes apoiadas pelo Ministério da Cultura.
Causa mais estranheza a contradição entre querer privatizar até o pré-sal e não
arrumar pelo menos patrocinadores privados, como o Grupo Globo, o Banco Itaú ou
alguma cervejaria, para bancar a festança.
Para apoiar o samba como tradição e
manifestação popular, melhor teria sido embarcar no "Trem do Samba"
no Rio de Janeiro, evento existente há mais de 20 anos para desfrute da
população. Vários trens fazem viagens com sambistas cantando junto aos
passageiros no trajeto da Central do Brasil até o bairro de Oswaldo Cruz, berço
de várias escolas de samba. Nas estações também há palcos fixos para shows.
Pensando bem, seria melhor o “presidente”
declinar de comparecer pessoalmente pelo retrospecto de vaias e gritos de "Fora, Temer", mesmo em
ambientes com ingressos mais caros como na Olimpíada.
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