segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Cientistas 'levam' conferência a Adlène Hicheur, impedido de sair da França


Cientistas 'levam' conferência a Adlène Hicheur, impedido de sair da França


Físico de partículas deportado do Brasil vive sob prisão domiciliar; Hicheur pretende se mudar à Argélia após renúncia de cidadania francesa
Cientistas do laboratório suíço CERN (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear) atravessaram a fronteira francesa até Vienne, cidade onde Adlène Hicheur se encontra em prisão domiciliar, para realizar uma conferência com a presença do físico franco-argelino, impedido de sair da França, nesta terça-feira (13/12).
“Nós organizamos a conferência para dar apoio a Adlène e mostrar para ele que uma grande parte da nossa comunidade é próxima a ele”, disse Vincenzo Vagnoni, coordenador do experimento LHCb (Large Hadron Collider beauty) e pesquisador no Instituto Nacional de Física Nuclear em Bolonha, na Itália, à revista científica britânica Nature.
Cerca de 30 pesquisadores se deslocaram para o evento, além de outros 15 pesquisadores na China, Estados Unidos e Brasil, que participaram através de videoconferências.
Hicheur foi deportado sumariamente do Brasil no dia 15 de julho de 2016, enquanto estava no país como professor visitante da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), com destino a Paris, na França, mesmo estando em situação regular no Brasil. Em 2009, enquanto trabalhava no CERN, o físico franco-argelino foi acusado de “formação de quadrilha” com o Al Qaeda e por trocar e-mails com um integrante argelino do Al Qaeda, e ficou preso na França até 2012, quando foi libertado.
Reprodução / Facebook

Adlène Richeur, no centro, com cientistas que participaram da conferência em Vienne, na França

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A conferência também é uma espécie de despedida de Hicheur, explica Vagnoni, já que ele decidiu voltar à Argélia durante as próximas semanas, após ter renunciado à cidadania francesa em outubro, única forma que encontrou para acabar com sua prisão domiciliar. Atualmente, ele é obrigado a comparecer a uma delegacia três vezes ao dia (9h, 14h e 19h) e proibido de sair da casa dos pais em Vienne depois das 20h e até 6h, ou sair da cidade, situada a 500 km de Paris.
“Ele provavelmente terá que deixar de lado sua única paixão na vida, a física. Este workshop em Vienne também é para dizer adeus e lhe desejar o melhor para a continuação da sua vida”, disse Vagnoni.
Além da conferência em Vienne, o Simpósio de Física de Alta Energia, realizado em novembro na Guatemala, contou com a participação de Hicheur através de videoconferência. O ato foi um gesto de solidariedade da comunidade, segundo John Ellis, físico da CERN, que ainda ressaltou a importância da escolha de Hicheur por parte do grupo de pesquisas de LHCb brasileiro para apresentar os resultados em nome do grupo.
Caso Hicheur
Entre 2009 e 2012, Hicheur cumpriu pena de dois anos e meio de prisão na França. Ele foi condenado por 5 anos sob a acusação de associação com integrantes do Al Quaeda que planejavam um atentado terrorista, mas ganhou liberdade.
Ele chegou ao Brasil em 2013 como professor visitante no CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas) com a recomendação de cientistas do experimento LHCb do  CERN e, após um ano no CBPF, ele passou em um exame para professor visitante da UFRJ.
Três semanas antes do início dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o governo brasileiro o deportou sumariamente para a França em nome do “interesse nacional”, sem direito a recorrer da decisão, onde foi posto em prisão domiciliar pelas autoridades francesas, causando protestos da comunidade científica. “Acho que Adlène teve muito azar ao se enquadrar no alinhamento de três fatores não triviais: a crise política no Brasil, a realização das Olimpíadas e o estado de emergência na França”, afirmou Vagnoni.

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