terça-feira, 6 de dezembro de 2016

COMO FERREIRA GULLAR LIVROU ASSIS LEMOS DA PRISÃO

COMO FERREIRA GULLAR LIVROU
ASSIS LEMOS DA PRISÃO
Assis Lemos*
Encontrava-me no Rio, em companhia de Manuel Henrique de Sá Campos, meu ex-aluno da Escola de Agronomia do Nordeste, e na ocasião, diretor da Associação dos Plantadores de Abacaxi da Paraíba.
Dois dias haviam se passado quando ele me informou que estava indo para João Pessoa numa camionete que adquirira para aquela Associação. Como ia viajar sozinho, convidou-me como companhia. Tinha passagem aérea, mas aceitei o convite, tanto em solidariedade ao amigo, como pela oportunidade de conhecer outras partes do Brasil.
Na quarta-feira daquela mesma semana, à tarde, fui ao escritório do ministro Abelardo Jurema. Lá encontrei somente sua secretária. Estávamos conversando quando o telefone tocou. A Secretaria atendeu, avisando ser para mim aquele telefonema. Fiquei surpreso, pois não falara a ninguém que iria àquele escritório.  Atendi e falei com Orestes Timbaúba, membro da direção nacional do PCB, de quem jamais ouvira falar. Perguntou-me, se eu estava pretendendo viajar à Paraíba, numa camionete e em companhia de um plantador de abacaxi. Respondi que sim. Pediu-me para esperá-lo ali mesmo, pois precisava falar-me urgentemente.
Poucos minutos após ele chega e entra logo no assunto: O poeta e escritor Ferreira Gullar escutara, na redação do jornal "O GLOBO" uma conversa entre um desconhecido e o redator-chefe daquele órgão de imprensa, onde o assunto era uma trama que me envolveria durante a programada viagem. O plano seria o seguinte: Em algum trecho na saída do Rio, a polícia pararia a camionete onde seriam colocados armas e munições. Em seguida, fotógrafos - principalmente de O GLOBO - documentariam o fato e seríamos presos. O Manuel Henrique confessaria que estávamos transportando armas que seriam usadas nas guerrilhas no Nordeste. Era uma trama organizada pela polícia de Lacerda, com a cumplicidade do ex-aluno. Escapei por pura sorte, graças à presença, naquele exato momento, do poeta Ferreira Gullar, na redação do citado jornal.
Já o deputado Clodomir dos Santos Moraes, de Pernambuco, não teve a mesma sorte. Pouco tempo depois foi "flagrado" pela Polícia transportando "armas" justamente na saída do Rio. Foi preso, com grande estardalhaço da imprensa - especialmente O GLOBO e a Tribuna de Imprensa. Isso ocorreu no dia 13 de dezembro  de 1963. 
À noite, quando voltei ao hotel, conversei com Manuel Henrique, dando-lhe um tremendo susto, a sua reação foi a esperada: ficou branco, com os  olhos quase saindo  das órbitas.
* Fundador das Ligas Camponesas na Paraíba, ex-deputado estadual (cassado pela ditadura militar)

Fonte: Relato de Assis Lemos

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