COMO
FERREIRA GULLAR LIVROU
ASSIS
LEMOS DA PRISÃO
Assis Lemos*
Encontrava-me no Rio, em companhia de Manuel Henrique de Sá
Campos, meu ex-aluno da Escola de Agronomia do Nordeste, e na ocasião, diretor
da Associação dos Plantadores de Abacaxi da Paraíba.
Dois dias haviam se passado quando ele me informou que estava
indo para João Pessoa numa camionete que adquirira para aquela Associação. Como
ia viajar sozinho, convidou-me como companhia. Tinha passagem aérea, mas
aceitei o convite, tanto em solidariedade ao amigo, como pela oportunidade de
conhecer outras partes do Brasil.
Na quarta-feira daquela mesma semana, à tarde, fui ao
escritório do ministro Abelardo Jurema. Lá encontrei somente sua secretária.
Estávamos conversando quando o telefone tocou. A Secretaria atendeu, avisando
ser para mim aquele telefonema. Fiquei surpreso, pois não falara a ninguém que
iria àquele escritório. Atendi e falei
com Orestes Timbaúba, membro da direção nacional do PCB, de quem jamais ouvira
falar. Perguntou-me, se eu estava pretendendo viajar à Paraíba, numa camionete
e em companhia de um plantador de abacaxi. Respondi que sim. Pediu-me para
esperá-lo ali mesmo, pois precisava falar-me urgentemente.
Poucos minutos após ele chega e entra logo no assunto: O
poeta e escritor Ferreira Gullar escutara, na redação do jornal "O
GLOBO" uma conversa entre um desconhecido e o redator-chefe daquele órgão
de imprensa, onde o assunto era uma trama que me envolveria durante a
programada viagem. O plano seria o seguinte: Em algum trecho na saída do Rio, a
polícia pararia a camionete onde seriam colocados armas e munições. Em seguida,
fotógrafos - principalmente de O GLOBO - documentariam o fato e seríamos
presos. O Manuel Henrique confessaria que estávamos transportando armas que seriam
usadas nas guerrilhas no Nordeste. Era uma trama organizada pela polícia de
Lacerda, com a cumplicidade do ex-aluno. Escapei por pura sorte, graças à
presença, naquele exato momento, do poeta Ferreira Gullar, na redação do citado
jornal.
Já o deputado Clodomir dos Santos Moraes, de Pernambuco, não
teve a mesma sorte. Pouco tempo depois foi "flagrado" pela Polícia
transportando "armas" justamente na saída do Rio. Foi preso, com
grande estardalhaço da imprensa - especialmente O GLOBO e a Tribuna de Imprensa.
Isso ocorreu no dia 13 de dezembro de
1963.
À noite, quando voltei ao hotel, conversei com Manuel
Henrique, dando-lhe um tremendo susto, a sua reação foi a esperada: ficou
branco, com os olhos quase saindo das órbitas.
Fonte: Relato de Assis Lemos
Nenhum comentário:
Postar um comentário