Luis Nassif
Peça
1 – os referenciais para analisar a crise
Os referenciais em torno dos quais
montaremos nossos cenários:
1.
O maior agente
político continua sendo a massa dos bestificados que saem às ruas impulsionados
pelo ódio e pela intolerância exarados pela mídia e pela Lava-Jato.
2.
Quase todas as
palavras de ordem pré-impeachment se esvaziaram. Agora, o alvo da mobilização é
o Congresso, com todos seus defeitos, o último setor de manifestação do voto
popular. E a turba sendo engrossada por procuradores e juízes, em uma nítida
perda de rumo das instituições.
3.
Agora, se tem um
Judiciário brigando com o Legislativo, procuradores de Força-Tarefa assumindo a
liderança da classe, se sobrepondo ao Procurador Geral, em um quadro de
indisciplina generalizada e crescente.
4.
Esse clímax se
dará com a revelação das delações da Odebrecht, tornando mais aguda a crise, a
desmoralização da política e a busca de saídas milagrosas.
5.
Se terá então a
crise econômica se ampliando, o vácuo político se acentuando, e massas raivosas
atrás de qualquer solução, por mais ilusória que seja, como esse cavalo de
batalha contra a Lei Anti-abusos.
Vamos montar, por partes, esse mapa do
inferno.
Peça
2 – o fim de Temer, o breve
A economia se moverá seguindo o roteiro
abaixo:
1.
O governo Michel
Temer acabou. Trata-se de um político menor e pior do que as piores avaliações
sobre ele.
2.
A era Henrique
Meirelles também acabou.
3.
O país está à
beira de uma depressão, com convulsão social e com um governo sem diagnóstico e
sem condição de comandar a recuperação.
Mas o “mercado” insistirá em uma última tentativa, seguindo o jogo das
expectativas sucessivas, conforme você poderá conferir no artigo “Como o
marketing reduziu a economia a um produto de boutique” (https://is.gd/WXBqJW).
Henrique Meirelles e sua tropa deixarão
de ser a equipe brilhante que salvaria a economia. Daqui para frente, serão
colocados no limbo, e a nova equipe brilhante será a do ex-presidente do Banco
Central Armínio Fraga, que é um Meirelles elevado à tríplice potência.
O problema da equipe econômica que
assumiu as rédeas é que o seu objetivo não é o de recuperação da economia,
impedindo um desastre social, mas o de destruir qualquer vestígio do modelo
anterior, um ideologismo barato e cego, marca, aliás, de boa parte do
pensamento econômico brasileiro.
Peça
3 – o governo de transição
Com o fim do governo decorativo de Temer,
aventa-se uma eleição indireta com Fernando Henrique Cardoso, trazendo Armínio
Fraga para aprofundar o ajuste fiscal.
Aparentemente, essa loucura não se
consumará por dois motivos:
Motivo
1 – FHC refugou.
Em duas manifestações seguidas, FHC
admitiu o óbvio: sem a recuperação do voto, através de novas eleições diretas,
será impossível a implementação de qualquer programa econômico minimamente
consistente. Na verdade, FHC tem noção de suas próprias limitações. Em momentos
menos graves – como no processo inicial de consolidação do Real e no início do
segundo mandato – FHC foi incapaz de uma ação proativa sequer. Limitou-se a
seguir o receituário de seus economistas, de um enorme aperto fiscal, que
contribuiu, nos dois casos, para uma economia estagnada durante seus dois
mandatos.
Motivo
2 – a aposta errada no aperto
Além disso, caiu a ficha da classe
empresarial sobre a loucura de persistir nessa política suicida. Mesmo no
mercado, a sensação é que a persistência do quadro recessivo não permite ganhos
a ninguém, inclusive ao mercado. E abre o risco de algum populismo de direita,
que transforme o mercado no bode expiatório.
A discussão que se iniciará agora é
sobre o momento e a oportunidade das novas eleições diretas, uma discussão que
levará em conta o potencial eleitoral de Lula e do PT e as alternativas do
atual grupo de poder.
O
fator Nelson Jobim
Com o PSDB pedindo para afastar de si
este cálice, o nome mais forte aventado – lembrado pelo Xadrez de algumas
semanas atrás – é do ex-ministro da Defesa e ex-ministro do STF Nelson Jobim.
Tem bom trânsito junto ao PSDB e ao PT e familiaridade com as Forças Armadas,
pela condução do Plano Nacional de Defesa.
Como presidente, será uma incógnita.
Como candidato potencial, é a melhor aposta até agora.
Mas todas essas alternativas caminham
sobre o pântano, representado pelo estímulo fascista às manifestações de rua.
Abriu-se nova temporada de estímulo à violência, mostrando que a marcha da
insensatez se abateu também sobre os operadores da lei.
Peça
4 - sobre a irresponsabilidade dos golpistas
Não era surpresa para quem tem um mínimo
de visão e de responsabilidade institucional. O golpe desmontou definitivamente
a democracia brasileira, o modelo que garantiu o equilíbrio político do país
desde a Constituição de 1988. Uma mescla de aventureirismo, oportunismo,
despreparo e covardia promoveu a abertura da Caixa de Pandora.
Agora, a democracia está desmontada, a
economia caminhando para uma depressão. E, no momento, o que se tem é o
seguinte:
·
O Executivo
liquidado.
·
Uma campanha
pesada visando inviabilizar o Congresso.
·
Uma briga de
foice entre instituições, com uma cegueira generalizada sobre a gravidade do
atual momento.
·
E a ultradireita
sendo definitivamente bancada pela parceria Lava-Jato/Globo.
O fato de um mero procurador regional
ousar afrontar o Congresso em nome pessoal, ameaçando “pedir demissão” de uma
força-tarefa para o qual ele foi indicado, mostra a desmoralização
institucional do país e a quebra total de hierarquia no próprio Ministério
Público Federal. Qualquer deslumbrado, com um metro e meio de autoridade, e uma
tonelada de atrevimento, coloca em corner não apenas o Congresso, mas o próprio
Procurador Geral.
Até onde irá esse clima? Difícil saber.
Com a delação da Odebrecht, os
procuradores da Lava-Jato insuflando as manifestações, a crise se aprofundando,
o caldeirão das ruas entrará novamente em ebulição, sem que haja uma saída
institucional à vista.
A crise começou seu trabalho de espalhar
um pouco de bom senso. Mas ainda é uma gota em um oceano de insensatez.
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