Em
matéria publicada pelo jornalista Santiago Gómez, no site Diálogos do Sul, relata que depois de
quase três anos tentando sem conseguir contatar José Zé Dirceu, que está preso
no marco da Operação Lava-Jato, a Agência Paco Urondo conseguiu fazer chegar às
suas mãos uma carta para transmitir nossa solidariedade e compartilhar análise
da situação local e regional. Ele agradeceu e respondeu por escrito posto que
sofre um regime restrito de visitas.
Adriano Vizoni
Em 8 de março, da Agência Paco Urondo,
enviamos uma carta ao histórico dirigente do PT, a quem a maioria da militância
o faz responsável pela chegada de Lula ao governo, graças à rede de alianças
que possibilitou o triunfo.
Depois da campanha midiática batizada de
"mensalão", segundo a qual o governo repartia mensalmente recursos
aos partidos aliados para que votassem as leis que o governo necessita, Zé
Dirceu foi detido sem prova alguma ou com o simples argumento de que
"não podia não saber o que ocorria".
As denúncias e a posterior detenção
foram um forte golpe à força moral do Partido e às tendências mais à esquerda
do PT, que se opunham por princípio às alianças que levaram Lula ao governo,
não se ocuparam em realizar campanhas solicitando sua liberdade.
Zé Dirceu conseguiu a prisão domiciliar
nesse processo, contudo, o juiz Sergio Moro, que dirige a Operação Lava-Jato,
em agosto de 2015, mesmo mês da destituição da presidenta legítima Dilma
Rousseff, decretou sua prisão preventiva.
Salvo o grupo Unidos Contra o Golpe, não
se conhece muitos espaços militantes que reclamem publicamente sua libertação,
a maioria prefere evitá-lo, tal qual a um leproso.
Zé Dirceu informou que está escrevendo
suas memórias, em que "os aspectos que apontam com razão estão sendo
analisados para que não se repitam os mesmos erros". Comunicou que já está
no ano 2005, ano em que começou a campanha contra ele.
Perguntamos se compartilhava da análise
realizada por Álvaro García Linera em "Derrotas e Vitórias" em que o
vice-presidente da Bolívia mostra a debilidade produzida pelos governos da
região a mobilidade social ascendente sem a correspondente conscientização e os
retrocessos econômicos, considerando que quando Dilma Rousseff colocou Joaquim
Levy a cargo da economia, dinamitou a base de apoio da Central Única dos
Trabalhadores (CUT) e com a nomeação de Kátia Abreu, oriunda da Monsanto e dos
agronegócios, afetou a aliança com o Movimento Sem Terra.
Também pedimos sua opinião sobre o fato
de Lula ter dito aos petistas em 2013, que qualquer um com cara de delinquente
os acusavam de ladrões e eles abaixavam a cabeça e não se defendiam, e também
com relação ao fato de que nem os petistas defenderam Dilma nem subiram aos
morros para conversar sobre política, já que a maioria acredita que fazer
política é conversar nas redes sociais.
"O ano passado foi realmente como
descreve, e a orientação de Lula caiu no vazio. Sobre García Linera, tem razão,
mas as causas são maiores, vocês conhecem e descrevem como foi o começo do
segundo governo de Dilma", respondeu. Acrescentou que tem escrito sobre
quais são as tarefas atuais e futuras: "é hora de ação, de atuar para
recuperar a democracia, derrotar os golpistas!
O PT é um capítulo à parte, difícil, mas
sua militância está viva e sua base social e política é ampla".
Consultamos sobre a fala de Lula no
plenário prévio ao Congresso do PT, que transcorrerá em junho, em que enfatizou
suas diferenças com os economistas do partido que consideram que o
desenvolvimento econômico chegará como consequência do investimento privado e
não como resultado da transferência de recursos do Estado aos setores
populares, para aumentar a demanda de produtos e assim dinamizar a matriz
econômica e produtiva.
"É necessário mudar a correlação de
forças e fazer reformas estruturais. Sem reforma tributária progressiva sobre a
riqueza e a renda, sobre a herança, as doações, as grandes fortunas; sem
liquidar com a expropriação da renda nacional pelo capital financeiro e
rentista; não há como financiar o Estado social e investir", respondeu.
A
luta interna debilita
Acompanhamos a campanha presidencial de
Dilma, a de Tarso Genro a governador e a última campanha aos legislativos
municipais em Florianópolis. Vimos como as disputas internas entre as
diferentes tendências dentro do PT debilitaram sua força. Cabe lembrar que
dentro do PT as frações chamadas tendências estão institucionalizadas. Como no
Brasil votam em candidatos não em partidos, ouvi em reiteradas oportunidades a
militantes do PT dizer: "se não quiser votar na Dilma nem em Tarso, pode
votar somente no candidato a deputado". Se preocupavam apenas com
conseguir um assento no legislativo. Indagamos a Zé Dirceu sobre isso.
"O PT do Rio Grande do Sul é um
capítulo à parte, com suas virtudes e vícios, acertos e equívocos, vitórias e
derrotas. Porém, a luta interna, as tendências, quase como partidos, a
prevalência do institucional, realmente foi e é um problema grave. Por isso,
hoje a prioridade é a luta social e política, cultural e ideológica. Concordo
com o voto em lista, ou no mínimo como voto distrital misto, sem coligação e
com financiamento público", disse.
Acrescentou que é preciso regulamentar
os meios de comunicação para acabar com "o monopólio, cartel, a cooptação
dos organismos de fiscalização, há um pouco de tudo, inclusive dívidas
previdenciárias milionárias. Isso não nos exime de reconhecer nossa
incapacidade para construir nossos próprios meios de comunicação, apesar dos
avanços nas redes. Precisamos lutar, atuar, as redes são importantes, mas são
as ruas as que decidem... Unidade, frentes, alianças, para derrotar o impostor
e os golpistas", enfatizou.
Finalizando Zé Dirceu dedicou algumas
palavras de agradecimento a todas as pessoas que através das redes sociais ou
correio eletrônico lhe transmitem solidariedade.
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