Diante do fracasso da política econômica
do governo ilegítimo de Michel Temer, há gente que se pergunta se o governo não
se dá conta, não busca mudanças, com a equipe atual ou mudando a equipe. Em
primeiro lugar, em um sentido, o objetivo da política econômica é esse mesmo:
desmontar o patrimônio do Estado brasileiro, destruir a capacidade do governo
de fazer políticas sociais, atacar os direitos dos trabalhadores. Em todos
esses aspectos a política econômica tem cumprido seu papel à risca.
Emir Sader*
Mas esse cumprimento implica em promover
a mais profunda depressão econômica que o país já conheceu, com os mais altos
índices de desemprego, com o desmonte da estrutura produtiva do país, com a
desnacionalização da Petrobras, com o mais acentuado e rápido processo de
reconcentração de renda que nossa historia conheceu, com a exclusão social
acelerada.
A adoção do mesmo programa de ajuste
fiscal duro e puro que já foi aplicado nos anos 1990 – fenômeno similar ao
argentino – confirma que a direita brasileira não tem outro projeto senão o da
restauração do neoliberalismo nos seus termos mais ortodoxos. Quando esse
modelo já se esgotou no Brasil e na América Latina, quando demonstra sua
incapacidade para recuperar a economia europeia, e quando outro modelo – de
desenvolvimento econômico com distribuição de renda – teve sucesso no Brasil e
em outros países da América Latina.
Atuam com desconhecimento das lições da
realidade. Precisam, para justificar essa política suicida, assentar-se em
diagnósticos que a realidade provou que são errados, como os de concentrar no
Estado as responsabilidades pelo freio ao crescimento que a economia brasileira
passou a ter. Foi, ao contrário, a incapacidade, até aqui, de desenvolver uma
forte economia estatal, o que impediu dar continuidade ao processo de
crescimento econômico.
Quando o Brasil resistiu e superou a
primeira onda da recessão internacional, em 2008, isso se deu pelo
fortalecimento do Estado, dos seus investimentos diretos, pelos créditos dos
bancos públicos, pela extensão ainda maior das políticas sociais, pela
continuidade dos aumentos salariais acima da inflação.
Agora, a equipe neoliberal, com diagnóstico
errado – mas um erro interessado, porque favorece ao capital financeiro -, age
na direção oposta, cortando sistematicamente os investimentos, os créditos, os
empregos, o poder aquisitivo dos salários, os recursos para as políticas
sociais. Ao invés de resistir às pressões recessivas externas e internas, o
governo golpista intensifica essas tendências, fazendo que uma economia que já
estava estagnada, entrasse numa profunda recessão.
Agem assim, não apenas porque atendem os
interesses do capital dominante na economia brasileira – e em todos os países,
característica típica da era neoliberal -, mas porque não possuem outro modelo
econômico. Basta olhar para a Europa, em que a recessão se estende desde 2005 e
– com a exceção de Portugal, que retoma o crescimento, porque coloca em prática
uma política similar a dos países latino-americanos antineoliberais – não tem
horizonte de superação, porque as políticas de austeridade se impõem a praticamente
todos os países, centrado nos ajustes fiscais. Embora não tenha produzido
efeitos positivos, salvo o caso citado, que se opõem à tendência predominante,
o mesmo modelo é aplicado tanto pelos partidos de direita, como pela social
democracia.
No Brasil e na Argentina fica claro que
eles só dispõem do ajuste fiscal como receita, receita que em nenhum lugar do
mundo recuperou economias da recessão e retomou o crescimento.
Ao contrario, só intensificou a
recessão.
Temer e Henrique Meirelles dizem que não
têm plano B para a economia, daí que, mesmo diante da falta de resultados
positivos e do descontentamento inclusive no meio empresarial. Uma mudança
significaria tirar a equipe que representa diretamente os grandes bancos
privados, que por sua vez é a corrente dominante na própria estrutura econômica
do país.
Se o governo não tem alternativa, o país
tem, e já mostrou, na crise anterior, que possui um modelo de desenvolvimento
econômico com distribuição de renda, que os brasileiros manifestaram, quatro
vezes seguidas, que preferem como alternativa para o país.
Mas para atender os interesses da
maioria, só mesmo restaurando a vida democrática, recolocando nas mãos do povo
a decisão do caminho que ele prefere para o país. O que significa plebiscitar a
retomada do modelo neoliberal, em comparação com o modelo que os brasileiros já
viveram e conhecem os efeitos.
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