LAVA-JATO
RECEBE A ENCOMENDA PRECIOSA
Tereza Cruvinel
Lavagem de dinheiro e obstrução da
Justiça são crimes considerados de “natureza continuada”. Por isso justificam a
prisão preventiva de suposto autor, para que ele deixe de cometê-los.
Ao dizer em seu depoimento ao juiz
Sergio Moro que o ex-presidente Lula o orientou a destruir provas do pagamento
de propinas ao PT, o ex-executivo da OAS Léo Pinheiro parece ter entregado à
Lava-Jato uma encomenda destinada a justificar eventual prisão de Lula.
Mas como tal prisão seria um ato
insensato de Moro nesta altura dos acontecimentos, a afirmação de Léo Pinheiro
continua sendo uma encomenda, mas com outro objetivo: demonstrar aos
procuradores, com os quais negocia uma delação premiada, que abdicou de
qualquer lealdade ao antigo amigo e tem munição para detoná-lo, acelerando a
condenação e a inelegibilidade.
É sabido que a primeira tentativa de
delação de Léo Pinheiro foi recusada pelo motivo óbvio mas não declarado de
que, sem acusações a Lula, ela não teria o menor interesse para a
Lava-Jato.
É sabido que, durante vários
depoimentos, procuradores e policiais federais fizeram gestos para os depoentes
mostrando uma mão com um dedo a menos. A mão de Lula, para falassem dele.
Os antecedentes e o contexto em que Léo
Pinheiro prestou depoimento nesta quinta-feira reforçam a acusação da defesa de
Lula, de que ele foi orientado pelos procuradores com quem negocia sua delação,
a apresentar evidências de que tem na
bala a agulha contra o ex-presidente, e talvez até mesmo a bala de prata, que
viria na delação.
É sintomático, por exemplo, que ele
tenha falado em destruição de provas, quando ninguém estava lhe perguntando
sobre isso. E que o assunto nem fosse pertinente à ação penal que motivava o
depoimento.
Estava em pauta o tríplex do Guarujá, e
não o pagamento de propinas ao PT.
Sobre o apartamento, Léo Pinheiro
correspondeu às expectativas de Moro, apesar das mais de 70 testemunhas que
falaram contra a tese de que o imóvel pertença a Lula, e da ausência de provas
que a defesa continua cobrando.
Mas este era um tema pertinente,
diferentemente do caso da “destruição de provas”.
Do nada, Pinheiro saiu-se com a história
de que um dia, um tanto irritado, Lula lhe perguntou se fizera pagamentos ao PT
no exterior. Se Lula sabia tanto dos negócios com o PT, já devia ter esta
informação, mas, segundo Léo Pinheiro, fez a pergunte e ouviu a resposta
negativa. Então, orientou-o a “destruir tudo”, caso tivesse anotações sobre os
pagamentos a Vacari, tesoureiro do PT.
Léo Pinheiro admite que tinha anotações
mas não deixa claro se atendeu ou não ao suposto pedido de Lula. Se destruiu ou
não suas planilhas. Ou seja, entregou a encomenda, mas não se incriminou.
Para a Lava-Jato, basta a confissão de
que Lula mandou destruir provas, e não saber se isso aconteceu ou não.
Embora tenha agora essa arma contra
Lula, não parece provável que sobrevenha a prisão, justamente quando o
ex-presidente reforça sua condição de favorito na disputa presidencial de 2018.
Justamente quando os autores do golpe afundam-se em denúncias de corrupção e
Temer confessa a urdidura do próprio golpe.
Tudo isso vem sendo percebido pela
população e pode tomar a forma de reação a uma prisão de Lula.
Moro pode usar a ameaça de prisão, e
ainda outros trunfos que tenha guardado, para debilitar a posição o desempenho
do ex-presidente no depoimento do dia 3
de maio, onde já chegaria inseguro e
temeroso de não sair.
Mas prendê-lo agora, não faz muito
sentido.
Os interesses da Lava-Jato e os da elite
que manda e governa nunca foram divergentes.
Tanto é que todos os delatados tucanos e
peemdebistas continuam aí soltos, apesar das delações da Odebrecht.
Relativamente a Lula, o que importa é
tirá-lo da disputa, e não criar um mártir perseguido e preso.
Moro tem pressa em exarar sua sentença
condenatória para que o recurso de Lula ao TRF-4 seja logo julgado, e
assim, condenado em segundo instância,
ele se torne logo inelegível para o pleito de 2018.
www.brasil247.com 22/04/2017
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