sexta-feira, 12 de maio de 2017

"Comunista tem que morrer". Ato contra imigrantes termina em violência

Direitos

"Comunista tem que morrer". Ato contra imigrantes termina em violência

por Redação — publicado 03/05/2017 11h07, última modificação 03/05/2017 16h24
Em São Paulo, briga entre extremistas de direita e movimento pró-imigração termina com feridos e detidos
Fotos: Reprodução
Direita São Paulo
Marcha do Direita São Paulo na Avenida Paulista pouco antes da briga
"Comunista tem que morrer", gritou um ativista do "Direita São Paulo" na noite de terça-feira 2, na Avenida Paulista, centro de São Paulo, durante uma briga que envolveu seus colegas de movimento, policiais militares e integrantes de movimentos pró-imigração. A frase foi capturada em um vídeo divulgado pelo próprio Direita São Paulo no Facebook que mostra trechos do confronto e também a ação da Polícia Militar.
Há informações conflitantes sobre o ocorrido. Certo é que na noite de terça o Direita São Paulo, um grupo que busca "restaurar todos os valores que a esquerda destruiu ao longo dos anos" e apoia o extremista Jair Bolsonaro, deputado federal pelo PSC-RJ, se reuniu na Avenida Paulista para protestar contra a nova Lei de Migração
Proposta pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), hoje ministro das Relações Exteriores de Michel Temer, o texto é visto com o único avanço na pauta de direitos humanos desde que Temer assumiu o Palácio do Planalto. Aprovada pelo Senado em 18 de abril, a legislação ainda precisa da sanção de Temer.
Em vídeo postado no Facebook, um líder do Direita São Paulo identificado como Edson diz que a lei "vai escancarar as fronteiras brasileiras para qualquer tipo de criminoso, de terrorista". Sua agressividade é direcionada em específico aos muçulmanos. "Com eles não existe diálogo, não existe democracia. Eles querem impor a cultura deles. Eles querem impor a sharia deles. Eles vão querer subjugar o povo brasileiro abaixo dessa religião que de paz, não há nenhuma paz. Eles são do ódio, do terrorismo e vão querer tomar o Brasil".
Em um vídeo obtido por CartaCapital, é possível ver o início da manifestação. Integrantes do Direita São Paulo, um deles com uma camiseta com a inscrição "Intervenção Militar Já", gritam "Sem terrorismo, na minha nação, eu digo não à Lei de Migração" e "Abaixo, abaixo a Lei de Migração, eu quero meu país longe da islamização". Nos cartazes, estavam dizeres como "Aloysio Nunes traidor da pátria" e "Soberania ameaçada por Temer". 
Fato também é que foram presos o palestino Hasan Zarif, dono do restaurante Al Janiah, e o sírio Nur, seu funcionário. Localizado na Bela Vista, centro de São Paulo, o Al Janiah se tornou um ponto de encontro de refugiados e simpatizantes. Além deles, mais quatro pessoas foram detidas, sendo que duas foram liberadas. Ao menos três desse grupo eram manifestantes anti-fascistas, segundo Antonio Martins, do site Outras Palavras, parceiro de CartaCapital, que esteve no 78º Distrito Policial, nos Jardins, para onde os detidos foram levados.
Como a briga teve início ainda é motivo de disputa. Segundo as primeiras informações, os grupos contra e a favor a Lei de Migração se encontraram perto do escritório da Presidência da República em São Paulo, que fica na Avenida Paulista. Pelo Facebook, o Direita São Paulo acusou Zarif de ser um "terrorista" e de jogar uma "granada caseira" contra seus integrantes. Um vídeos divulgado pelo grupo direitista mostra um homem, aparentemente de fora da marcha, acendendo uma espécie de explosivo e jogando contra os manifestantes.
O Direita São Paulo também acusa de agressão o grupo favorável à lei. "Essas pessoas de ultra-direita estão acusando Hasan e outros de agressão, o que pelo que conhecemos de Hassan, Nur e outras pessoas é uma completa mentira", disse Antonio Martins.
No vídeo divulgado pelo Direita São Paulo há cenas da confusão na Paulista. Aparentemente, os policiais atuaram contra os manifestantes pró-imigração. "Isso!", grita o responsável pelo vídeo. Na sequência, enquanto os PMs agem, integrantes do Direita Brasil pulam e cantam "Viva a PM! Viva a PM". É possível ver integrantes do Direita Brasil agredindo pessoas.
Lei de Migração
Manifestante favorável à Lei de Migração foi dominado, colocado no chão e agredido por integrantes do Direita São Paulo (Foto: Reprodução)
Em certo momento, o homem com a camiseta "Intervenção Militar Já", o mesmo visto no início do protesto do Direita Brasil, chuta um rapaz que está no chão, dominado por outros manifestantes. Percebendo a hostilidade diante da pessoa que está no chão e dominada, uma pessoa que aparentemente é o próprio autor do vídeo do Direita Brasil apelas aos colegas: "Para, para, deixa, não bate, não bate". O apelo não é atendido e é possível ver as agressões. 
Direita São Paulo
Manifestante do Direita São Paulo ferido (Foto: Reprodução)
No momento seguinte, outro manifestante pró-imigração é cercado e agredido. "Meu Deus do céu, o que eu vou fazer", diz o autor do vídeo. "Deixa a PM [agir]". Neste momento um homem grita "Comunista tem que morrer". Na sequência, um militante do Direita São Paulo surge no vídeo, com o nariz ensanguentado. "Fui agredido numa manifestação pacífica", afirma ele. "Eles bateram em mulher, esses ratos batem em mulher", diz outro.
Na tarde desta quarta-feira 3, todos os quatro detidos foram soltos e nenhum foi indiciado, mas poderão ser investigados caso o Ministério Público julgue necessário. Dois deles vão cumprir medida cautelar, o que inclui ter que se apresentar à Justiça e não participar de manifestações.

Fonte: Carta Capital

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