quarta-feira, 20 de setembro de 2017

É NECESSÁRIO IMPEDIR O DESMONTE DO ESTADO NACIONAL

É necessário impedir o desmonte do Estado nacional

Moniz Bandeira*











Insisto, em nada tenho ilusão. Sei que tudo pode acontecer, se houver uma intervenção militar. Mas o fato é que, se Dilma Rousseff foi deposta por um golpe de Estado, e de fato foi, não mais existe Estado de Direito nem democracia no Brasil.

Acabou a Constituição.

O governo, que só conta com a simpatia de cerca de 4% da população, realiza reformas para as quais não teve mandato.

O Congresso, corrompido e desmoralizado, assumiu poderes constituintes para os quais não foi eleito.

Nada do que ocorreu e está a ocorrer é constitucional.

Nada tem legitimidade.  
E o golpe de Estado foi dado exatamente para a execução de tais reformas: trabalhista, previdenciária, terceirização, redução do Estado, com a venda das empresas públicas, impedir os gastos públicos por 20 anos etc. E as forças econômicas, nacionais e estrangeiras, que estão por trás do presidente de fato Michel Temer e do seu sinistro ministro da Fazenda, o banqueiro Henrique Meirelles, farão tudo para que não haja retrocesso na execução do seu projeto, modelado pelo Consenso de Washington. 

 Falar em Constituição, agora, é que é uma grande ilusão. As liberdades são relativas, como durante o regime militar, porém nem imprensa alternativa existe mais como naquele tempo. Toda a mídia repete o mesmo e o alvo é o ex-presidente Lula, com judiciária a condená-lo, sem provas, apenas para efeito de repercussão na imprensa e desmoralizá-lo. Quanto mais ele cresce nas pesquisas mais me parece que as poderosas forças econômicas nacionais e estrangeiras, que sustentaram o golpe do impeachment da presidente Dilma Rousseff, tentarão tirá-lo de qualquer forma das eleições.

Tenho até dúvidas de que as eleições ocorrerão.

Temer e demais cúmplices sabem que, ao descer a rampa do Planalto, sem imunidade, podem ser presos e enviados para a Papuda.

A insatisfação no meio militar é enorme, conforme exprimiu o Antônio Olímpio Mourão. E teve toda razão o deputado Aldo Rebelo, do PCdoB, quando recomendou o diálogo com os militares.

O proto-nazifascista Jair Bolsonaro não é representativo das Forças Armadas. É minoria. 

A intervenção militar pode ocorrer. Como se desdobrará é difícil imaginar. O ideal seria que fosse como a do general Henrique Teixeira Lott em 1955. Mas não creio, em face do Congresso que aí está. O importante é impedir que o patrimônio nacional - Eletrobrás, Eletronuclear, Petrobrás e pré-sal, bancos estatais - seja dilapidado, entregue aos gringos: é evitar que o desenvolvimento do Brasil, com a inclusão, não seja interrompido; é impedir a entrega aos gringos de uma parte da Amazônia maior que a Dinamarca.

Claro que não defendo regime de exceção, mas regime de exceção é o que já existe no Brasil, com um verniz de legalidade.

O que ocorreu no Brasil, com a derrubada da presidente Dilma, foi golpe de Estado, como, na Ucrânia, com a destituição do presidente Wiktor Yanukovytch, na madrugada de 21 para 22 de fevereiro de 2014, por uma decisão de um congresso comprado.

A Constituição deixou de existir.

Ilusão é pensar que, após realizar as reformas pretendidas pelo capital financeiro e o empresariado nacional, as forças, que se apossaram do poder, vão deixá-lo sem ser por um golpe de força. E, infelizmente, as forças populares já demonstraram a sua impotência.

A nada reagiram.

Não desejaria que ocorresse intervenção. Todos sabem como começa, mas não quando termina. Porém, não estou a ver outra perspectiva no Brasil. É necessário impedir o desmonte do Estado nacional. E há de chegar um momento em que o impasse político, com o agravamento da situação econômica e social, terá de ser pela força.


*  Moniz Bandeira é professor universitário, cientista político e historiador, especialista em política exterior do Brasil e suas relações internacionais, principalmente com a Argentina e os Estados Unidos, sendo autor de várias obras, publicadas no Brasil e na Argentina, bem como em outros países. Atualmente encontra-se radicado na cidade alemã de Heidelberg, onde é cônsul honorário do Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário