quarta-feira, 20 de setembro de 2017

LUCIDEZ Villas Boas manobra para não fazer de Mourão “mártir” de intervencionistas

Villas Boas manobra para não fazer de Mourão “mártir” de intervencionistas

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Villas Boas manobra para não fazer de Mourão “mártir” de intervencionistas
Por Fernando Brito
Do Tijoçaço
Tem gente que não enxerga que existe, no Brasil, um surto de autoritarismo que não é, apenas, um delírio de grupelhos ensandecidos.
A pesquisa CNT/MDA, publicada ontem, mostra que  Jair Bolsonaro  não é – claro, pode deixar de ser, quando as máquinas de campanha eleitoral se moverem – apenas um factóide.
Representa este surto autoritário e tem repercussão na área militar.
Como tenho dito desde o início, é clara a estratégia do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, de não transformar o general Antonio Hamilton Mourão em “mártir” do intervencionismo militar que, com o nosso retrocesso – obrigado, Sérgio Moro! -, saiu da toca e se apresenta quase que sem véus.
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Há os que, claro, “exigem” punição exemplar para Mourão e não há dúvidas que, em condições normais de temperatura e pressão, ele a mereceria.
Mas, agora, só um ingênuo não vê que ele próprio a deseja e seria, ao contrário, um prêmio para ele. E pouco sabemos sobre onde e quanto os coturnos militares apertam os calos de seu comando.
Ontem à noite, no “Conversa com o Pedro Bial”, na Globonews, Villas Bôas deslizou e deu como “questão resolvida” o caso, dizendo, em outras palavras, que não vai criar caso com o que Mourão ache, desde que siga as diretrizes do comando.
– Ele não fala pelo Alto Comando, quem fala pelo Alto Comando sou eu.
É uma evidente manobra tática de quem dividiria opiniões se partisse para a punição – repito, correta mas inconveniente – imediata. Se Mourão seguir nas suas manifestações ostensivas, puni-lo será mais fácil e sem traumas.
Claro que isso afeta a autoridade do comandante do Exército e certamente seria da vontade deste ir além, mas, na sua visão, impede que “pipoquem” outras manifestações do gênero, o que geraria uma crise militar extremamente séria.
A impressão é que Villas Bôas foi ao limite do que lhe era possível, não onde  deveria ir, num quadro democrático – inclusive com o reforço da subordinação militar ao poder civil, algo complicado de compreender nestes tempos de ilegitimidade total à autoridade civil , no quadro de fragilidade a que chegou a nossa democracia, que precisa chegar a 2018 sem nada que impeça a livre manifestação do povo brasileiro, seja pela ação de juízes ou de generais.
O trecho da entrevista de Villas Bôas onde ele fala de Mourão está aqui.


 Fernando Brito é jornalista 

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