Carta
de Temer trai seu desespero e desprezo pelo povo
Tereza Cruvinel
A carta de Michel Temer aos
deputados é uma confissão de desespero, um sinal de que a situação na Câmara
realmente piorou muito para ele com a delação de Lúcio Funaro. Ao dirigir-se
apenas aos parlamentares, que votarão contra ou a favor da aceitação da segunda
denúncia de Rodrigo Janot, Temer revela mais uma vez seu profundo desprezo pelo
povo brasileiro, que não mereceu qualquer palavra sua sobre os crimes de que é
acusado – obstrução da Justiça e formação de organização criminosa. Os cidadãos
não participarão da votação na Câmara mas em nome deles é que os deputados vão
votar. Entretanto, ele se dirige apenas ao “prezado parlamentar”.
Temer se lamuria, denuncia
uma conspiração para derrubá-lo da Presidência, ataca Janot, Marcello Miller e
Lucio Funaro e apoia-se em Eduardo Cunha, destacando ter ele dito em entrevista
que não teve o silêncio comprado por Joesley Batista. Chega a solidarizar-se
com Cunha, dizendo que ele teve a delação recusada porque se recusou a falar
contra ele, Temer. Como diria Joesley, Temer e Cunha “estão de bem”. Mas sobre
organização criminosa, nenhuma palavra. Nada sobre as propinas que Funaro o
acusou de ter recebido, em negócios que envolveram outros caciques do PMDB, na
área de portos, na CEF, na Ministério da Agricultura.
Simulando otimismo, apesar do
esperneio desesperado, Temer afirma que “as urdiduras conspiratórias estão
sendo expostas. A armação está sendo desmontada.” E parte para a glorificação
de seu governo, dizendo que foi seu esforço, com apoio do Congresso, que permitiu
a retomada do crescimento. Que crescimento? O mercado subiu hoje sua previsão
para este ano de 0,70 para 0,072%, e o ano está acabando.
E tome lorota. “Fomos capazes
de liberar as contas inativas do FGTS e agora de antecipar as idades para
percepção do PIS/Pasep. Tudo isso tem um significado: impedir o aumento de
preços, valorizar o salário e melhorar a vida das pessoas!” Mas para liberar
contas inativas, cujos saldos pertencem ao trabalhador, não é preciso ser
capaz, basta ter poder e uma caneta. Já a redução da idade para saque do
PIS-Pasep é uma grande empulhação que já denunciei mas ninguém foi conferir. O
que Temer fez foi trancar os recursos dos aposentados, que antes de sua MP de
agosto podiam sacá-los livremente, e agora só poderão fazê-lo a partir de 17 de
novembro. Os que poderão sacar antes dos 70 anos (65 anos/homem e 62/mulher) só
farão isso no finalzinho de dezembro.
Na lorotagem, ele recorda o
aumento que deu ao Bolsa Família quando tomou posse, mas não fala dos mais de
1,5 milhão de famílias que foram excluídas. Mente, dizendo que zerou a fila dos
que queriam ingressar no programa. Mente ao dizer que nenhum programa social
foi eliminado ou reduzido. E a redução dos convênios do Farmácia Popular? E o
encolhimento do Fies, do Ciência sem Fronteiras e do Minha Casa/Minha Vida? E
as restrições ao combate ao trabalho escravo?
Temer termina a carta
professando crença na pacificação dos brasileiros, no diálogo, na
solidariedade. Palavras vazias, que não têm a menor base na prática de seu
governo perseguidor.
Mas ela teve sua utilidade,
se não para garantir votos, pelo menos para mostrar seu desespero e sua
capacidade de mistificar.
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