terça-feira, 17 de outubro de 2017

Hackearam seu cérebro para te viciar no seu smartphone! Veja 10 dicas simples para contra-hackear

Hackearam seu cérebro para te viciar no seu smartphone! Veja 10 dicas simples para contra-hackear

Marco Gomes

Marco Gomes 

Data Science: estrategista de implantação. Palantir Technologies.

26 artigos
Desenvolvedores de aplicativos utilizam técnicas de psicologia para nos fazer usar o celular de forma mais frequente, conheça as táticas que uso para evitar estas armadilhas e contra-hackear meu cérebro, tomando de volta o controle de quando e como uso o smartphone.
Ao fundar um sistema de publicidade que chegou a alcançar 80 milhões de pessoas por mês no Brasil, e um aplicativo de saúde e exercícios físicos que chegou a 500 mil usuários com zero investimento em propaganda, estudei e apliquei inúmeras técnicas de aquisição e engajamento de usuários. Por conhecer tantas formas para aumentar o engajamento, imaginei que seria imune aos tais métodos. Mas estudando psicologia e refletindo sobre meu próprio comportamento, entendi que nosso cérebro responde aos estímulos de maneira muito padronizada, independente de estarmos cientes das técnicas usadas para nos fisgar.
Se um aplicativo tem uma bolinha vermelha com um número de avisos importantes ainda não verificados, o fato de eu saber que isso é um truque para chamar minha atenção não faz com que eu seja imune à vontade de clicar, para descobrir quais são os avisos. Arrastar a timeline do Instagram para baixo – ativando a animação de “carregando” e depois mostrando posts surpresa inéditos –, é um truque de engajamento também, possivelmente com os mesmos efeitos do vício em caça-níqueis, e mesmo sabendo disso, arrastar o dedo pra baixo no instagram tem em mim o mesmo efeito viciante que numa pessoa que não está ciente de tal armadinha. Citando Kahneman (Thinking, Fast and Slow)o meu Sistema 1 responde de forma padrão aos estímulos que funcionam para tantas outras pessoas.
O fato de eu conhecer técnicas para aumento de enjagamento em apps e redes sociais não me faz imune aos efeitos viciantes de tais métodos. Para retomar o controle de como eu uso o smartphone, resolvi aplicar meu conhecimento para contra-hackear meu cérebro e neutralizar, ou pelo menos amenizar, as estratégias usadas por designers e programadores para me manter viciado em seus apps.

O principal modelo de negócios para aplicativos e redes sociais é baseado em engajamento dos usuários; com uso frequente do serviço, de preferência várias vezes por dia e por muitas horas, as empresas de tecnologia conseguem coletar dados sobre cada indivíduo, segmentar anúncios, ofertas de produtos e serviços, além de vender esta análise de comportamento para anunciantes usarem em outros canais, como TV e correspondências físicas. Este novo mercado é chamado de “Economia da Atenção”, que trata a atenção humana como uma commodity escassa, como café ou petróleo; uma busca por “attention economy” vai revelar muito conteúdo sobre o assunto.
Na Economia da Atenção há um incentivo aos designers e programadores para que usem técnicas com o objetivo de aumentar o engajamento dos usuários com seus apps, e como em todo incentivo de mercado, às vezes boas intenções iniciais podem desandar para resultados questionáveis.
Normalmente, os executivos e CEOs de empresas de tecnologia, como Google, Twitter, Facebook, estão devidamente engajados no discurso criado por eles mesmos que propõe “melhorar o mundo”, a ponto de não tomar atitudes práticas para usar eticamente os recursos de retenção das pessoas em seus ambientes virtuais. Os designers e programadores, alguns níveis abaixo dos executivos, no entanto, são bem menos sensíveis ao discurso corporativo, e mais críticos aos efeitos práticos das técnicas de retenção empregadas. Este cenário tem feito com que cada vez mais profissionais de tecnologia adotem uma postura crítica em relação às armadilhas cognitivas usadas para melhorar os indicadores de apps e redes sociais na economia da atenção; alguns destes profissionais inclusive abandonam redes sociais, limitam seu próprio uso de internet e educam seus filhos em escolas sem gadgets (smartphones, tablets, laptop) mesmo no coração do Vale do Silício.
Estes profissionais que agora estão resistindo ao vício em smartphones e redes sociais, como Tristan HarrisLoren Brichter e Justin Rosenstein, trabalharam no Google, Facebook, Twitter, implementando algumas das estratégias de captura de atenção, como a atualização de conteúdo ao deslizar a tela para baixo, o ícone vermelho de notificações, o botão de curtir (like).
O recurso de deslizar a tela para baixo para atualizar o conteúdo é especialmente interessante de ser analisado: este gesto funciona de maneira muito similar à máquinas caça-níqueis de cassinos – onde você aposta uma pequena quantidade de dinheiro, puxa uma alavanca para baixo e aguarda o resultado surpresa –, no caso dos smartphones, a surpresa é a aleatoriedade dos novos posts, que podem ser o prêmio de uma foto muito interessante de um fotógrafo muito talentoso, uma imagem desagradável de um amigo na balada, com a lente suja de digitais e em baixa luminosidade, ou mais um anúncio segmentado de acordo com seus dados e comportamento, tentando te vender um par de tênis que você já comprou semana passada, mas a oferta continua te perseguindo. No caso dos cassinos, esta armadilha é tão viciante que há programas para auxílio de jogadores compulsivos.

Técnicas que tenho usado para contra-hackear meu cérebro e controlar o uso de smartphone e redes sociais

Tela em preto e branco

Colocar a tela em tons de cinza foi a principal e mais eficaz mudança que fiz para controlar meu uso do smartphone e redes sociais. O uso de cores é um dos principais recursos aplicados para nos chamar atenção e elevar o engajamento com os dispositivos. A bolinha vermelha ao lado do app, a exclamação amarela com um aviso muito importante (não tão importante assim), o ícone verde ou azul clamando por um tap. Ao colocar a tela em preto e branco, contra-hackeei uma poderosa armadilha das empresas de tecnologia que frequentemente me prendia por horas.

3 cliques para reativar as cores facilmente

Eu gosto muito de fotografia, frequentemente preciso ter as cores de volta para avaliar as fotos que tiro com o celular. Retornar para as configurações só para reativar as cores acabaria jogando contra mim, eu deixaria as cores sempre ativas com a desculpa de precisar delas para avaliar fotos. No entanto, o iOS tem um atalho de acessibilidade, 3 cliques no botão home, que você pode definir para ativar/reativar as cores (veja instruções exatas a partir de 5 minutos deste meu vídeo). Com este atalho fica fácil ativar as cores apenas quando preciso avaliar uma foto, ou assistir um vídeo, e retornar para o modo “livre de distrações” (sem cores) antes mesmo de voltar para a tela inicial com todas as suas cores e alertas chamativos.

Usar o celular em modo silencioso

Meu celular fica em silêncio a maior parte do tempo, assim não me interrompe caso eu esteja fazendo algo importante, e também não apita a cada nova notificação.

Desativar a maioria das notificações

Os alertas de novas curtidas ou e-mail, frequentemente nos tiram de uma tarefa ou conversa presencial importante. Ao desativar a maioria das notificações, consigo controlar melhor meu tempo; sou eu que abro cada app para ver as novidades, não é o app que decide quando vou interagir com ele, eu decido.

Configure notificações apenas de pessoas, não de máquinas e sistemas

Uma boa linha-guia para controle de notificações é desativar alertas de máquinas e sistemas (redes sociais, email, player de música, lojas online) e deixar ativos apenas os avisos enviados por pessoas em canais prioritários, como mensagens e telefone.

Apagar apps de redes sociais que você quer reduzir o uso

Recentemente apaguei os apps de Twitter (Tweetbot) e LinkedIn, app do Facebook eu já não tinha há tempos. Quando quero conferir estas redes sociais, eu uso pelo navegador. Sem o app instalado, forneço menos dados para estas redes sociais, que terão menos informação para me persuadir com publicidade; além de aumentar meu próprio esforço para interagir com tais serviços, reduzindo minha motivação para usar essas redes muitas vezes ao dia. Aumentar o seu “custo” é um importante recurso psicológico para controlar um hábito indesejado.

Desativar ou apagar a conta no Facebook

O Facebook absorve uma enorme quantidade de dados sobre mim, podendo sugerir opiniões, manipular meu consumo de conteúdo, induzir compras e até alterar meu crédito e preços de produtos e serviços que quero adquirir; além de me fazer perder muito tempo com conversas pouco produtivas e interações destrutivas com trolls. Estes foram alguns dos motivos que me levaram a desativar minha conta em junho de 2017. Veja o vídeo e entenda mais detalhes sobre esta decisão.

Acordar e não usar o celular imediatamente

Acordar e pegar o celular imediatamente parece ser um hábito muito comum. Com tal atitude, normalmente entramos em discussões improdutivas, somos expostos à notícias negativas e muitas vezes perdemos dezenas de minutos ou até horas antes de fazer qualquer coisa produtiva no dia.
Eu procuro fazer uma longa rotina matinal antes de desbloquear a tela do meu celular: tomo banho, organizo a casa, saio para passear com minhas cachorras e procuro checar o celular apenas enquanto estou com elas no parque. Muitas vezes, tento ouvir audiobooks ou podcasts em vez de abrir redes sociais logo no início da manhã.
Algumas pessoas preferem carregar o celular em outro cômodo da casa, como a cozinha, em vez do quarto, para evitar o hábito de acordar e pegar o smartphone.

Inbox Zero

Ao melhorar a produtividade de minhas comunicações profissionais, consigo ter mais tranquilidade para não checar o celular como um hábito. Há mais de 10 anos eu adotei o método Inbox Zero para deixar a caixa de entrada dos emails sempre vazia, sabendo assim que todas as comunicações urgentes e importantes estão endereçadas, reduzindo ansiedade.

SaneBox

O SaneBox prioriza automaticamente os meus emails, deixando na caixa de entrada apenas as mensagens potencialmente mais importantes, e colocando em caixas secundárias as comunicações menos urgentes ou desconhecidas, que podem ser endereçadas posteriormente; e o serviço pode ser facilmente treinado para priorizar/ignorar certos tipos de mensagens, se adaptando ao meu uso. Uso o SaneBox desde 2013 e recomendo para todos que estão se afogando em emails. Se cadastre por este link e ganhe $5 em créditos.

O smartphone não é o inimigo, as redes sociais não são armadilhas, os designers e programadores não são os vilões

Não tenho dúvidas que o smartphone é uma ferramenta revolucionária, e que aumentar o engajamento das pessoas com apps pode melhorar a vida de muitos. Nos conectar com família e amigos que estão fisicamente distantes pode aumentar nosso bom humor e bem estar, nos ajudar a fazer atividades físicas pode melhorar nossa saúde física e mental e nos ajudar a economizar dinheiro. Otimizar o engajamento dos usuários com os apps é o trabalho dos designers e programadores, executar o modelo de negócios gerando lucro para as empresas de tecnologia é o próprio objetivo do capitalismo, que gerou estas empresas em primeiro lugar. Nada disso é uma surpresa.
Em minha opinião, smartphones e redes sociais são ferramentas, e, como tais, a ética e moral não estão nelas, mas no uso que fazemos delas, em como tais plataformas e produtos são projetados por designers e programadores. Nós, usuários, precisamos ter o controle sobre como e quando usamos o smartphone, não podemos ficar sujeitos aos comandos e armadilhas cognitivas de quem desenvolve tais tecnologias.
O objetivo deste artigo é te ajudar a retomar o controle sobre o uso do smartphone e redes sociais, espero ter sido claro neste ponto.
Você já usa alguma destas técnicas? Ficou interessado em testar alguma das dicas aqui apresentadas? Deixe seu comentário abaixo. Além disso, compartilhe este artigo em redes sociais para ajudar outras pessoas a retomar o controle de seu tempo e me motivar a continuar produzindo este tipo de conteúdo.

Sobre o autor

Marco Gomes trabalha com Estratégia de Implantação de Data Science em New York, USA. Profissional reconhecido em 2014 pela revista Forbes como um dos 30 jovens com menos 30 anos mais promissores do país; premiado como O Melhor Profissional de Tecnologias de Marketing do Mundo pela World Technology Network; fundador da boo-box, apontada como uma das empresas de publicidade mais inovadoras do mundo pelas revistas Fast Company e Forbes, vendida em 2015 para a FTPI Digital; e co-fundador do Heartbit / Mova Mais, app de saúde listado pela revista Consumidor Moderno como uma das 100 empresas mais inovadoras do Brasil. Marco fez educação executiva em Gerenciamento de Marketing Estratégico na Universidade de Stanford, Califórnia, e já palestrou na sede da ONU, em Nova York, sobre Economia Criativa e Liberdade de Expressão na Internet.

Material de apoio

Nenhum comentário:

Postar um comentário