segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

À sombra de Lula

Política

Eleições 2018

À sombra de Lula


Ricardo Stuckert
Lula
“Está certo, tudo se pode esperar deste bando empenhado em demolir o Brasil, mesmo assim a sombra de Lula tem o peso do chumbo”
Pergunto aos meus melancólicos botões que seriam capazes de excogitar os quadrilheiros ao pressentirem um confronto final das eleições deste ano entre o candidato de Lula, Roberto Requião, palpitemos, e Jair Bolsonaro. Respondem com a inevitável pergunta: mas haverá eleições? Baixa sobre nós um impenetrável silêncio.
Os assaltantes do poder há tempo esboçam soluções à vista da impossibilidade de emplacar um candidato viável. Notoriamente pobres de espírito e jejunos de saber, ao som das trombetas da mídia nativa cogitam alterar a Constituição que já cuidaram de rasgar para inaugurar uma temporada de semipresidencialismo, ou semiparlamentarismo à francesa, conforme a terminologia usada pelos propagandistas midiáticos.
Trata-se, de verdade, do semipresidencialismo, ou semiparlamentarismo jabuticaba, como diz André Barrocal, autor da reportagem de capa desta edição.
O semi-alguma-coisa francês nasceu para fortalecer o comando do general De Gaulle, grande personalidade do século passado, e perpetuou-se sem tropeçar em figuras do mesmo porte. Na versão jabuticaba, se bem entendemos, o presidente não manda mais que a rainha da Inglaterra, quem dá as cartas é o primeiro-ministro saído do Parlamento.
Será que os quadrilheiros sabem que na França hoje quem manda é o senhor Macron, como antes dele mandaram Hollande, Sarkozy, e assim por diante pelos caminhos do passado mais ou menos recente?
É com o parlamentarismo clássico, à italiana, ou à germânica, que o presidente, eleito pelo Parlamento, representa o Estado e quem manda é o premier, na qualidade de líder de um partido, ou de uma coligação que lhe garante a governabilidade.
Foi este, aliás, o parlamentarismo imposto para limitar os poderes de Jango Goulart depois da renúncia de Jânio Quadros, revogado tempos depois por um plebiscito para precipitar o golpe de 1964.
À procura de uma saída do impasse criado pela falta de um candidato potável, os pensadores mafiosos trafegam na névoa. No entanto, essa espessa cerração também impregna outras áreas. Uma falsa e inútil polêmica se estabelece, por exemplo, nas hostes ditas de esquerda, gerada por uma entrevista de Marcelo Freixo à Folha de S.Paulo.
Bem mais útil seria o exame de consciência de quantos se dizem de esquerda: com raras e honrosas exceções, não souberam levar a maioria à consciência da cidadania.
A questão seria a seguinte: têm as chamadas esquerdas de se unir na perspectiva eleitoral? Freixo responde não. Haveria de estar claro que é perfeitamente admissível a entrada em cena de mais de um candidato de esquerda a disputar o primeiro turno, mas a unidade é indispensável no combate contra o estado de exceção.
O repto é levar o povo brasileiro à compreensão das humilhações sofridas séculos adentro, e de 2016 para cá de forma acintosa. Se for possível alguma resistência, ou mesmo revolta, terá de ser a do povo sofrido, liderado por quem o conhece e sabe falar com ele. O esforço de Guilherme Boulos, provável candidato, é notável, ele sabe arregimentar seus liderados.
Nem por isso um pleito sem Lula deixa de ser fraude. O ex-presidente chegou a um ponto decisivo da sua vida e entende agora onde estão amigos e inimigos. Sua presença, a partir da inescapável condenação pelo tribunal de fancaria de Porto Alegre, alonga-se sobre 2018 e engole os quadrilheiros e a casa-grande.
E aos meus botões emudecidos digo: “Está certo, tudo se pode esperar deste bando empenhado em demolir o Brasil, mesmo assim a sombra de Lula tem o peso do chumbo”.
Fonte: Carta Capital

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