segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Por que os comunistas venceram as eleições no Nepal?


Por que os comunistas venceram as eleições no Nepal?


Vitória pode ser atribuída ao desgaste do Partido até então no poder, sacudido por escândalos de corrupção, lutas internas e que jamais apresentou um projeto de país
Os comunistas venceram as eleições parlamentares e provinciais no Nepal. No Parlamento, a aliança comunista terá uma maioria de quase dois terços. O governo eleito terá cinco anos de mandato e, com essa maioria parlamentar, poderá reformar a Constituição de 2015 e aplicar seu programa político.
Os resultados parlamentares e provinciais mostram que os comunistas ganharam em todo o país, tanto no campo como nas cidades. Em suas primeiras declarações, o provável primeiro-ministro KP Oli se mostrou cauteloso: “Vimos no passado que a vitória tende a tornar os partidos arrogantes. Existe o temor de que o Estado seja opressivo. Os ganhadores tendem a ser indiferentes às suas responsabilidades. Mas isso não vai acontecer com um governo comunista”, disso Oli.
A vitória dos comunistas pode ser atribuída ao desgaste do Partido até então no poder, sacudido por escândalos de corrupção, lutas internas e que jamais apresentou um projeto de país. Em 2015-16, quando o governo da Índia fechou as fronteiras com o Nepal, o Congresso não condenou a Índia. Mas os comunistas, e, em particular, Oli, não se contiveram e a sensibilidade nacionalista uniu a sociedade contra o Congresso e a favor dos comunistas. Mais ainda, a aliança que governava o país apresentou-se nas eleições com uma aliança incoerente, improvisando uma coalizão que incluía os partidos madhesis (representantes das minorias nacionais) e os partidos monárquicos.
Os comunistas, ao contrário, fizeram a campanha com uma proposta simples: “prosperidade pela estabilidade”. Desde que o Nepal acabou com a monarquia, em 1990, houve muitos problemas. O fracasso do processo democrático empurrou uma parte dos comunistas para a insurgência armada entre 1996 a 2006. Cerca de 17.000 pessoas morreram nessa guerra, que convergiu para um novo processo democrático com uma Assembleia Constituinte. A monarquia foi abolida em 2008 e a Assembleia Constituinte redigiu a Constituição de 2015. No entanto, a partir de então, o país teve 10 primeiros ministros e muito pouco desenvolvimento social.
Duas das principais correntes do comunismo nepalense – os maoístas e o Partido Comunista do Nepal (Unificado Marxista-Leninista) – decidiram ir às urnas juntos e prometeram que iriam formar um novo partido unido depois das eleições. Esse projeto oferecia mais estabilidade, era a demostração de que os comunistas podiam elaborar um programa conjunto e manter a unidade, que seriam capazes de oferecer um governo estável por cinco anos.

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Reprodução

Comunistas venceram eleições no Nepal
O custo da luta armada havia sido muito elevado para o país. A maior parte das esquerdas não pegou em armas, mas empreendeu muitas lutas populares contra a monarquia, as autoridades feudais e as relações de propriedade capitalistas. A frente da Esquerda Unida, que se formou em 1990 para lutar por um sistema democrático, era dirigida pelo grupo que se converteria no Partido Comunista do Nepal (Unificado Marxista-Leninista), um dos principais pilares da aliança comunista atual. O outro pilar são os maoístas, que passaram a aceitar a democracia parlamentar. Esses dois partidos provavelmente se fundirão em 2018 para se constituírem em uma das forças políticas mais fortes do Nepal.
O programa do novo governo deverá concentrar-se no combate à pobreza e à falta de infraestrutura. O futuro primeiro-ministro Oli declarou que não recusará os investimentos estrangeiros para construir a infraestrutura básica do país, incluindo uma ferrovia chinesa desde o Tibete. Provavelmente, o novo governo se manterá numa posição cuidadosamente equidistante entre Índia e China – os gigantes regionais. O pragmatismo é o nome do jogo, e não a lealdade à China por motivos ideológicos. A aliança comunista se compromete a elevar a renda per capita para o equivalente a 5.000 dólares anuais a partir dos magros 862 dólares atuais. Pretende-se investir em Educação e Saúde, assim como aumentar drasticamente o número de empregos para os jovens.
Os recursos virão, segundo os comunistas, do fim da corrupção, do uso mais eficiente do dinheiro dos impostos, da devolução de cerca de 50% dos recursos para os governos provinciais e municipais, para que seja usado no desenvolvimento local. A aposta é que um governo estável atrairá investimentos e turistas ao Nepal e que os recursos possam ser utilizados no desenvolvimento da agricultura orgânica e na energia limpa (incluindo-se a energia hidroelétrica), o que aliviará o custo da importação de energia.
Oli pediu a todos a união com a aliança comunista para elevar o nível de vida da população. É uma política que aponta para a conversão da agenda comunista em agenda nacional, e que vai pressionar as classes dominantes e castas superiores a não bloquear a política de desenvolvimento social. Trata-se claramente de um projeto nacional-desenvolvimentista, dentro de um processo de longa transição para o socialismo, tendo em vista as profundas contradições da sociedade nepalesa.
(*) Tradução do Olhar Comunista
Fonte: Opera Mundi

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