segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

De José Fevereiro, do PSOL, para Marcelo Freixo ler

De José Fevereiro, do PSOL, para Marcelo Freixo ler

Do blog de José Luiz Fevereiro, dirigente nacional do PSOL e dos meus  tempos de movimento estudantil na UFRJ, a mostrar que existe vida inteligente por lá, capaz de perceber que no Brasil não há apenas uma sociedade de classes, mas de castas. E que as “instituições” são, frequentemente, a porta de entrada para o mundo da adesão ao conservadorismo e à manutenção do status quo.  A esquerda que quer ser “limpinha e cheirosa” – e isso nada tem a ver com ser honesto, mas  com ser “palatável” ao pensamento dominante – de tanto louvar as virtudes dos “homens bons” acaba por se tornar parte deles. Gabeira está aí que não me deixa mentir.

O TRF-4, o Irã , os perus e as rabanadas

José Luiz Fevereiro, em seu blog
Em 2010 o Congresso Brasileiro aprovou a lei complementar 135, a Lei da Ficha Limpa, com apoio da esquerda. De 2008 a 2010 travei o bom combate para que o PSOL não votasse a favor dessa lei. Numa sociedade de classes, reduzir direitos nunca é uma boa opção para quem defende o andar de baixo. Fiz esse debate até ser finalmente vencido em votação na executiva nacional do PSOL onde apenas contei com mais um voto além do meu, algumas abstenções e grande maioria a favor da aprovação.
Delegar a uma casta como a do judiciário o poder de supervisionar a democracia brasileira, definindo por decisões de 4 juízes, 1 de primeira instancia e 3 de segunda instancia , em quem o povo pode ou não votar nunca me pareceu uma boa ideia. A maioria do Poder Judiciário, pela sua própria origem de classe, tenderá a refletir os valores, a cultura e os interesses inerentes a essa condição. Mais de 400 mil presos provisórios, a maioria “pretos-pardos- e-pobres” em penitenciarias superlotadas são a prova quotidiana disso. Permitir restrição de direitos sem condenação transitada em julgado, exceção aberta com a Lei da Ficha limpa, mostra como a fantasia da “neutralidade das instituições” contaminou a esquerda.
Os recentes arreganhos do judiciário avançando na criminalização dos movimentos sociais eram pedra cantada. Daqui até termos sindicalistas, dirigentes de movimentos sem teto e sem terra, dirigentes de trabalhadores rurais, ativistas ambientais e quilombolas afastados das disputas eleitorais por condenações de fancaria não faltará muito. Oligarquias que controlam o judiciário dos seus estados com mão de ferro podem afastar adversários incômodos da disputa dessa forma. Se alguém tinha duvidas disso quando fizemos o debate de 2008 a 2010, o processo que Lula responde dia 24 em Porto Alegre, feito sob medida para afastá-lo da disputa eleitoral de 2018, é o “se situa” que faltava.
Toda a esquerda apoiou essa lei em 2010. Sob o aplauso fácil de um moralismo despolitizado, uma crença infantil que o judiciário seria melhor que os outros poderes da República, coisa que os fatos desmentem a cada dia, colocamos o escrutínio do povo sob tutela do único poder que não responde diretamente a ele porque não é eleito mas concursado, composto portanto pela “meritocracia” tal qual ela existe nestes trópicos.
No Irã, o Conselho de Guardiães, composto por 6 clérigos xiitas indicados pelo Grão  e 6 juízes indicados pelo parlamento, decide quem pode e quem não pode ser candidato. No Brasil 4 juízes terão essa prerrogativa. É menos plural.
Naqueles dias de maio de 2010, os perus votaram pela antecipação do Natal.
As primeiras rabanadas serão distribuídas dia 24 em Porto Alegre.

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