Carnavalesco Jack Vasconcelos: 'Tem que se posicionar'
Com críticas à Reforma Trabalhista, enredo da Paraíso do Tuiuti foi o mais comentado da Avenida
Por Bruna Fantti
Atualizado às 13/02/2018 10h20
Rio - Com críticas à Reforma Trabalhista, ala chamando manifestantes pelo impeachment de fantoches e um 'presidente vampiro', o enredo da Paraíso do Tuiuti foi o mais comentado da Avenida. Confira a entrevista com o carnavalesco da escola, Jack Vasconcelos.
O DIA: Seu desfile teve tom crítico à política vigente. O senhor é filiado a algum partido político ou um cidadão inconformado o atual governo?
Sou um inconformado por natureza, todo artista tem esse inconformismo dentro dele. Se a arte não proporcionar o pensamento, a discussão, ela não tem muita função.
O presidente vampiro do neoliberalismo foi entendido por todos como sendo Michel Temer. A última ala como uma crítica à Reforma Trabalhista. Foi um posicionamento político?
Sou formado pelo ensino público, fui uma criança de escola pública, me formei em uma federal, em Belas Artes. Então, a população ajudou a me formar, foi dinheiro público que ajudou a pagar meus estudos e a manter as instituições em que me formei. Preciso de alguma forma retribuir para a população esse investimento. É a maneira que eu posso prestar o serviço a ela (à sociedade), através da minha arte. Acho que é bom as pessoas se posicionarem mesmo. Acho bacana que o Carnaval tenha esse espaço e papel.
Acha que a Sapucaí é um bom espaço para isso?
No Carnaval as pessoas liberam aquilo que guardam dentro delas durante o convívio social educado e civilizado no resto do ano. E o Carnaval sempre foi o espaço para esse tipo de ideia, para as pessoas colocarem para fora o que sentem, aquilo que elas querem gritar. E na verdade o que eu sou é uma antena. Vou captando essas ideias, anseios à minha volta e construindo o meu trabalho. Porque o meu trabalho representa uma comunidade, os anseios de parte da população.
Qual sua ala favorita e por quê?
Eu não tenho uma ala preferida. Todas elas tinham uma função e é uma sequência natural de outra. Mas sei das alas que causaram e cada um terá sua preferida por conta das suas convicções. O último setor que eu falo da escravidão ou da exploração da mão de obra dos mais desvalidos, dos mais pobres, o último setor foi o mais bacana. Exercitei minha cidadania.
A recepção do público e os comentários na internet foram grandes. O senhor atingiu o seu objetivo?
As pessoas precisam aprender a ficar mais espertas ao que chega de informação para elas, que vão comprando ideias e repassando isso como se fosse verdade, sem se dar o trabalho de ouvir outra fonte, ideia ou visão. E esse poder dessa propaganda forte que vai disseminando uma ideia a ser replicada. E nisso as pessoas vão mantendo sistemas que as prejudicam e não percebem. Acho que o desfile desse ano teve esse conceito no seu interior, na sua raiz. Se as pessoas conseguiram perceber isso de alguma forma, valeu a pena.
Algumas pessoas disseram que se sentiram desrespeitadas. O senhor teve esta intenção?
Sinto muito (se alguém se sentiu ofendido). Seria bom as pessoas pararem para pensar antes de tomar a decisão de seguir uma moda ou algo que uma campanha de jornal ou de TV diga para elas fazerem.
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