quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Nós da baixada fluminense sabemos o que acontece quando o Exército ocupa os morros do Rio.

Nós da baixada fluminense sabemos o que acontece quando o Exército ocupa os morros do Rio. Por Bruno Anastassakis

 
Corpos encontrados na Chutuba, em Mesquita
A baixada fluminense segue ocupada pela violência urbana, disputas territoriais e ausência do poder público.
Para os moradores da baixada,  cada operação militar no Rio de Janeiro é sinónimo de caos, desordem e violência.
É sabido há muito tempo que as comunidades na baixada fluminense que ainda são dominadas pela presença física da marginalidade acabam sendo tomadas por marginais líderes fugitivos das comunidades pacificadas, que invadem casas, matam rivais e assaltam moradores.
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São inúmeros os casos de ocupação das comunidades da baixada por foragidos das comunidades do Rio, um caso inesquecível foi a ocupação da Chatuba de Mesquita• pelos traficantes fugitivos do Complexo Maré, quando foram chacinados vários moradores da região. Na época foi um escândalo, mas como sempre não deu em nada e hoje tanto o Complexo da Maré quanto a Chatuba de Mesquita continuam sendo áreas de risco.
As ocupações militares no Rio de Janeiro não passam nem perto de acabar com o crime organizado, mas apenas de varrer toda a sujeira para debaixo do tapete, que para alguns parece ser a baixada fluminense, esquecendo que grande parte da mão-de-obra do Rio de Janeiro vem da região. Basta permanecer um pouco pela manhã na Avenida Brasil para ver os ônibus lotados que dela provêm em direção à cidade maravilhosa, sem falar das massas humanas que os trens de Belford-Roxo, Queimados, Japeri e Saracuruna despejam na gare da Central todos os dias.
Enquanto a sensação de paz parece reinar no Rio durante as operações militares, aqui na baixada seguem as ocupações, as chacinas e as comunidades viram locais de exílio para os traficantes se reorganizarem, tomando as casas dos moradores, fechando o comércio, escolas e postos de saúde.
Como acreditar numa intervenção militar que claramente não tem como objetivo acabar com o crime organizado, mas apenas tornar o estado aparentemente mais seguro para algumas pessoas? A população da baixada fluminense corresponde a 4/5 de toda a população do estado do Rio de Janeiro.
A história da baixada fluminense sempre se caracterizou pelos movimentos migratórios, desde os tropeiros e ex-escravos que foram para a cidade maravilhosa à procura de melhores oportunidades de vida e se instalaram em pequenas vilas ao longo da via férrea que se transformaram em cidades-dormitório.
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Atualmente as comunidades da baixada seguem sendo invadidas por párias foragidos das suas comunidades natais e abandonadas pelo poder público.
Não queremos o Exército, queremos paz, pão, habitação, saúde e educação. É dessa intervenção que precisamos.
.x.x.x.x.
Bruno Anastassakis – formado e especializado em Comunicação pela Universidade do Minho (Portugal). Trabalha com planejamento estratégico de conteúdo. Mora na baixada fluminense.
• Em 2012, oito pessoas foram mortas em sequência pelos traficantes em Mesquita, no episódio que ficou conhecido como a chacina da Chatuba.

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