247 – Um dos trechos da entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Folha, que não circulou na versão impressa, explica justamente porque ele pode vir a receber o Prêmio Nobel da Paz, por ter feito uma revolução pacífica no Brasil. "Se você imaginar a ascensão social das pessoas mais humildes, você vai perceber que nós fizemos uma revolução, que muitas revoluções armadas não conseguiram dar o padrão de vida pro povo, que nós conseguimos e fizemos em apenas oito anos. Isso chama-se política", disse Lula. "Conciliação é quando você pode fazer mais e não faz, quando você tem vontade de fazer mais e não faz". Indicação ao Nobel será feita pelo argentino Adolfo Perez Esquivel, justamente pelo ascensão social promovida por Lula.
Confira, abaixo, o trecho mais relevante da fala de Lula:
Lula: Eu não acho que eu fiz um governo reformista.
Jornalista: Reformista fraco, na definição do seu…
Lula: Se você achar que você tirar 36 milhões da miséria absoluta, se você achar que levar 40 milhões de pessoas a um padrão de consumo e de vida de classe média baixa, se você achar que colocar luz elétrica para 15 milhões de pessoas que moravam em baixo das linhas de transmissão, se você achar que em oito anos eu disponibilizei 47 milhões de hectares para assentamento de pequenos produtores, se você tiver noção que 47 milhões mais dois milhões, que é o que a Dilma fez, dá 51 milhões, é 51% de tudo que foi feito em 500 anos de história nesse país, se você imaginar que nós conseguimos colocar em prática uma transposição, que já era pra estar inaugurada em 2013 e está atrasada até hoje, que Dom Pedro tentou fazer no tempo que ele era imperador, se você imaginar a ascensão social das pessoas mais humildes, você vai perceber que nós fizemos uma revolução, que muitas revoluções armadas não conseguiram dar o padrão de vida pro povo, que nós conseguimos e fizemos em apenas oito anos. Isso chama-se política.
Jornalista: é mais do que reformismo…
Lula: Isso chama-se a arte da democracia. Tem gente que fala, ah mas o Lula fez um governo de conciliação. Depende do que você entende por conciliação. Veja, se eu tivesse força suficiente, se eu tivesse a força que teve o PMDB na Constituinte, 23 governadores e 306 constituintes, e eu não fizesse o que estivesse no meu programa, eu fosse ceder aos menores, eu teria conciliado. Mas eu, eleito presidente da República, com dez senadores, 91 um deputados, num colégio de 513 deputados, fazer o que eu fiz? Conciliação é quando você pode fazer mais e não faz, quando você tem vontade de fazer mais e não faz. Mas eu acho que eu fiz o que nenhum cientista político acreditava que eu pudesse fazer…até porque eles, “eles” outra vez…
Jornalista: as forças ocultas…
Lula: Eles acreditavam no meu fracasso…ô gente, eu digo isso…
Jornalista: O senhor fala ele…eu queria…
Lula: Eles…e você toma cuidado para não ficar sendo confundida com “eles”. Você sabe o que acontece? Eu dizia antes da campanha, cada vez que eu conversava com o Fernando Henrique Cardoso, ou cada vez que alguém conversava com ele, as pessoas vinham aqui falar pra mim: “ô Lula, o Fernando Henrique Cardoso, ele tá torcendo por você”, parecia impossível imaginar, o Serra era candidato. Mas porque que era possível?
Jornalista: Pra ele poder voltar depois.
Lula: Não tô dizendo que era, mas porque que a tese tem força? É porque na cabeça de um intelectual, na cabeça de alguém muito estudado, ou seja, ele imaginava o seguinte “se o Serra for eleito, ele vai querer governar oito anos e então tchau tchau. Se o Lula for eleito, coitadinho…ele é operário, ele só tem o diploma primário, ele não fala espanhol, ele não fala francês, ele não fala inglês…não vai dar certo…então ele vai ficar coitadinho, não vai dar certo, quando eu voltar, quando ele tiver terminando o mandato, eu vou voltar nos braços do povo”, era essa a ideia…Acontece que ele não sabia que eu tinha na minha cabeça uma obsessão “eu não posso errar” e porque que eu não podia errar? Eu tinha na cabeça o modelo do Walesa na Polônia, e o Walesa quando foi candidato à reeleição, ele teve apenas 0,5% dos votos. E eu falava “se eu fracassar, nunca mais um torneiro mecânico chegará à Presidência da República”.
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