No Brasil, nos últimos anos, estamos apanhando todos os dias. Metafórica e, às vezes, também literalmente. Não há dia sem um novo retrocesso, sem uma barbaridade. Eles partem do Planalto, do Congresso, do Supremo, de Curitiba. Enquanto isso, nós esperamos o milagre que nos salvará. Quando o povo cantou o samba-enredo e aplaudiu o vampiro na Sapucaí, muita gente vaticinou: “Agora vai”. Quando o assassinato de Marielle Franco gerou a comoção que gerou de Norte a Sul do país, veio a esperança que da tragédia nascesse a ação: “Agora vai”. E como esperança tem que ser cultivada sempre, até a vitória da moça de esquerda que grita “Lula livre” no BBB tá valendo: “Agora vai”.
Mas não basta a insatisfação com o que está aí - como seria diferente, como um governo que destrói direitos e perspectivas de vida para 99% da população não produziria insatisfação? É preciso canalizá-la para formas de manifestação mais efetivas. É preciso de organização. A revolta provocada pela morte de Marielle foi uma coisa poderosa, mas sem quem a organize, certamente sua energia se dissipa no próprio momento em que se expressa.
A crítica às estruturas autoritárias, à burocratização e ao engessamento das organizações tradicionais da esquerda certamente é justa é necessária, assim como a demanda por maior horizontalidade, espaço para a manifestação das diferenças e recusa à posição de massa a ser manobrada. Mas a crítica deve operar no sentido de reformar as organizações, não de abandoná-las. A expressão espontânea não basta - o saldo das jornadas de junho de 2013 nos ensina isso. É preciso de organização e de liderança para produzir ação coordenada, sustentada além do calor do momento e com efetividade. É preciso partido, sindicato, associação, movimento organizado. Sem eles, operamos no vácuo.
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