MOBILIZAÇÃO
"O Congresso do Povo vai fazer a luta pela democracia", afirma Dilei Shiochet
Em entrevista ao Brasil de Fato, a dirigente nacional do MST aponta para a necessidade de organização popular
Convocado no final de 2017 com o objetivo de realizar mutirões de debates e formações populares sobre os rumos do país, o Congresso do Povo é uma iniciativa da Frente Brasil Popular (FBP) que pretende lotar, no segundo semestre de 2018, o estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, com mais de 50 mil pessoas para sua etapa nacional. No momento, a iniciativa, considerada inédita no país, está em sua fase estadual.
O Brasil de Fato Paraíba conversou com Dilei Schiochet sobre o Congresso do Povo, que inicia sua construção na Paraíba neste mês de abril. Dilei é integrante da FBP e membro da direção estadual e nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
"O Congresso do Povo será um acúmulo do que nós viemos construindo ao longo dos anos. As pessoas não perderam o objetivo de construir um projeto de nação. Na prática, esses militantes esparramados é que serão motivados a construir o Congresso do Povo. É importante juntar todo mundo e ir colocando essa sinfonia harmonizada, ‘pra’ gente caminhar junto", afirma.
Confira a íntegra da entrevista a seguir:
Brasil de Fato: O Brasil vive desde de 2016 fortes ataques à democracia. Como o Congresso do Povo pauta a luta em defesa da democracia?
Dilei Schiochet: O Congresso do Povo vai fazer a luta pela democracia. A nossa Constituição brasileira diz que todo o poder emana do povo. Nós vivemos um momento histórico no Brasil e no mundo em que o povo não manda mais em nada. Quem manda em nosso país, lamentavelmente, ainda é o capital financeiro e as grandes empresas multinacionais, que inclusive são as grandes causadoras da perda de direitos e as responsáveis por rasgar a Constituição com as reformas que foram feitas nesse país, porque elas têm um objetivo, que é o de obter lucro.
Em momentos de crise, os grandes não perdem. Os grandes jamais perdem. Então, eles precisam destruir os direitos e as democracias dos países que ousaram construir leis para o povo e que ousaram distribuir riqueza e renda. E aí, não podemos deixar de dizer que nesse período histórico nós tivemos dois presidentes, Lula e Dilma, que insistiram na democratização de renda no Brasil. As pessoas melhoraram suas condições de vida. Com isso, Lula acaba se transformando nesse símbolo de melhores condições de vida para o povo. E é um símbolo tão forte no Brasil que gera uma contradição interna grandiosíssima, a qual hoje perturba e incomoda a direita do país.
Nele, não ‘tá’ só o Lula. ‘Tá’ o negro, ‘tá’ o LGBT, ‘tá’ o sem-terra, ‘tá’ o favelado, ‘tá’ o sem-teto. Prender o Lula hoje é prender uma classe, é prender todos os pobres do Brasil; os pobres se veem nele.
Nele, não ‘tá’ só o Lula. ‘Tá’ o negro, ‘tá’ o LGBT, ‘tá’ o sem-terra, ‘tá’ o favelado, ‘tá’ o sem-teto. Prender o Lula hoje é prender uma classe, é prender todos os pobres do Brasil; os pobres se veem nele.
Qual a proposta do Congresso do Povo?
O Congresso do Povo quer reanimar, aglutinar, ser um instrumento pedagógico de retorno ao trabalho de base e de construção de um projeto de nação para o Brasil. Hoje, nós temos uma militância dispersa, desmotivada, anestesiada, e é preciso e necessário sentar para discutir o futuro do país. Nesse sentido, o Congresso do Povo é um caminho, uma saída frente a esse cenário que nós estamos hoje.
São 80 entidades integrantes da Frente Brasil Popular que estão convocando o Congresso, em um contexto no qual se acirra a luta de classes e há um sequestro da democracia brasileira. Assim, ele tem esse objetivo, que é o de zelar pela organização e pelas instituições políticas, além de reanimar a nossa juventude. Um país que entrega a nação, perde a soberania. O que ele vai deixar para as futuras gerações? A nossa juventude já não tem mais opção. Então, o Congresso do Povo também é esse resgate, essa motivação, para que nossa juventude possa lutar e reconstruir os seus sonhos.
Qual o objetivo do Congresso do Povo?
É uma oportunidade de dialogar com as bases, com o nosso povo, com as periferias, com as comunidades camponesas, com a classe trabalhadora, fazendo um debate sobre o momento político que o Brasil atravessa, buscando saídas para esse momento. Além disso, fazer presente a defesa dos direitos, da democracia, da soberania dos povos e, principalmente, enfatizar o sequestro dos nossos recursos naturais, que estão sendo privatizados.
Também tem o objetivo de articular e envolver o maior número possível de militantes das comunidades, dos municípios, dos bairros, das cidades e do campo, e motivar para que em cada bairro e em cada comunidade a gente comece a organizar as nossas vidas, os nossos núcleos de base, para fazer lutas e reconquistar os direitos exterminados do povo brasileiro.
Como está a construção na Paraíba para o Congresso do Povo? Já tem uma agenda?
Agora, dia 14 de abril [em Campina Grande], iremos fazer um encontro de formação de formadores, com militantes e lutadores de todas as regiões do estado, com objetivo de retornar aos municípios e alavancar esses núcleos e essa articulação municipal em um processo organizativo rumo ao Congresso do Povo brasileiro, que será em meados de julho, no Maracanã.
O Congresso do Povo será um acúmulo do que nós viemos construindo ao longo dos anos. As pessoas não perderam o objetivo de construir um projeto de nação. Na prática, esses militantes esparramados é que serão motivados a construir o Congresso do Povo. É importante juntar todo mundo e ir colocando essa sinfonia harmonizada, ‘pra’ gente caminhar junto.
Na sua opinião, qual o grande desafio da esquerda brasileira hoje?
Lamentavelmente, a esquerda perdeu um elemento importantíssimo para esse momento histórico. A sua grande maioria não formou quadros. A esquerda está com dificuldade de interpretação do momento histórico desse país.
Nós temos que buscar unidade interna. E essa unidade tem que ter uma premissa: unidade na luta, unidade ideológica e unidade sobre onde queremos chegar. Se não houver esses três elementos, nós teremos dificuldade de construir unidade.
Edição: Redação
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