Em São Paulo, solidariedade a vítimas de desabamento e defesa de Lula
Chico César responsabiliza poder público pelo prédio desabado e destaca poder "conciliador" do ex-presidente. Marinho reafirma que petista deve ser candidato
por Vitor Nuzzi, da RBA publicado 01/05/2018 21h01, última modificação 01/05/2018 21h04
ROBERTO PARIZOTTI/CUT
Concentração na Praça da República reuniu milhares em ato político e cultural
São Paulo – Passava das 18h na Praça da República, centro de São Paulo, quando o intérprete André Ricardo, da Unidos de Santa Bárbara, escola do Itaim Paulista, na zona leste, pediu um minuto de silêncio, marcado pela cadência do surdo. Era uma homenagem às vítimas do acidente ocorrido a poucos quarteirões dali, no Largo do Paissandu, com o desabamento de um prédio projetado em 1961 e ocupado por trabalhadores sem-teto. Esse episódio seria lembrado durante todo o ato de 1º de Maio, juntamente com constantes gritos de "Lula livre", em referência ao ex-presidente.
"A vida é maravilhosa, gente, e pela vida nós vamos lutar contra esse golpe e contra o que está acontecendo", afirmou André, antes de começar a cantar O que é o que é, clássico de Gonzaguinha. Pouco depois, outro intérprete, Celsinho Mody (Acadêmicos do Tatuapé, Paraíso do Tuiuti), entrou cantando o samba-enredo da Mangueira de 1988: "Não se esqueça que o negro também construiu/ As riquezas do nosso Brasil".
O cantor e compositor Chico César disse que os moradores do prédio destruído eram "vítimas da insensibilidade do poder político, dos governantes", acrescentando que quem tenta pôr a culpa nas vítima em geral está "implicado nos acontecimentos". "Quando o governo culpa a população, deve esperar uma resposta", afirmou, incluindo essas possíveis respostas uma "ocupação do Palácio do Governo".
Durante sua apresentação, Chico fez várias referências a Lula e também à vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em 14 de março. Ao cantar Brilho de Beleza, mudou um verso para dizer que "Marielle para sempre estará/ No coração de toda a raça negra". No final, puxou o coro de "Lula livre, Lula lá". "Eles nos querem tristes, mas nós reagiremos sempre com arte, música, poesia."
Depois do palco, ainda no carro de som posicionado diante da praça, Chico César afirmou que Lula foi "o melhor presidente que teve neste país", pelo seu trabalho social: "Olhou para o pobre para o aposentado". Disse que não há "uma só prova concreta que o incrimine" e ressaltou o papel de articulador do ex-presidente: "É um dos poucos que hoje podem conciliar o Brasil".
A rapper Preta Rara criticou a mídia tradicional e declarações do prefeito paulistano, Bruno Covas (PSDB), e do governador, Marcio França (PSB), por tentar criminalizar movimentos sociais ao falar do episódio. "Eles não entendem a profundidade dos movimentos sociais de luta por moradia", afirmou. "Não é invasão, é ocupação. E ainda estão culpando a vítima. A todo momento querem matar a população preta, de tiro, e a nossa auto-estima também."
Unidade da esquerda
Organizado por CTB, CUT e Intersindical, e pelas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, o ato na República foi tranquilo, com apenas um episódio a alguns metros do palco, por volta das 15h, quando, segundo testemunhas, guardas civis tentaram impedir o trabalho de camelôs. Mas a situação logo se normalizou. O acidente no Paissandu, a aproximadamente 800 metros, fez a CUT de São Paulo divulgar comunicando para afirmar que o ato de 1º de Maio estava confirmado.
O presidente da central no estado, Douglas Izzo, fez questão de homenagear os bombeiros, "que não deixaram que aquele desastre fosse maior". E repudiou "A postura dos governantes de São Paulo (cidade e estado), que tentaram colocar sobre os ombros dos moradores o fato de ter acontecido um incêndio".
Douglas também pediu a unidade do movimento sindical, dos movimentos sociais e dos partidos de esquerda, "para que a gente consiga montar uma trincheira contra o retrocesso". E defendeu uma "agenda positiva", em defesa do emprego, dos salários, da previdência pública.
"O Brasil que queremos não é o do Temer, do Alckmin, do Skaf. É um país que resgate o conjunto dos trabalhadores brasileiros", afirmou.
O secretário-geral da CTB, Wagner Gomes, lembrou da deposição da presidenta Dilma Rousseff, cujo impeachment foi consolidado em 31 de agosto de 2016. "Não tinha nada a ver com irregularidade no governo, com pedalada. A elite nunca admitiu que o poder no Brasil estivesse com uma frente partidária que defendesse a camada mais humilde da população, a soberania nacional e os trabalhadores. O país agora anda de joelhos para as superpotências.
Ricardo Saraiva, o Big, da Intersindical, lembrou das origens do 1º de Maio, com a morte de operários em Chicago, nos Estados Unidos, em 1886, e disse que Temer "foi tocado pra fora" quando tentou ir ao local do acidente. Também defendeu o ato unitário das centrais sindicais em Curitiba.
Estavam ainda na praça as presidentas do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ivone Silva, e do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado (Apeoesp), Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, entre outros dirigentes sindicais. Pelos partidos, falaram Jilmar Tatto (PT), Julinho (Psol) e Nivaldo Santana (PCdoB). Ainda no início, a pré-candidata do PCdoB à Presidência da República, Manuela D'Ávila, passou pelo local para uma breve saudação, antes de viajar para Curitiba. Ela já havia participado, pela manhã, do ato da Força Sindical, onde defendeu a revogação da "reforma" trabalhista.
O ato político terminou por volta de 18h, com o discurso do pré-candidato do PT ao governo paulista, o ex-prefeito de São Bernardo e ex-ministro (Trabalho e Previdência) Luiz Marinho. "O presidente Lula continua indignado, mas continua sereno, com a serenidade dos inocentes", afirmou, ao lado de Tatto e do vereador Eduardo Suplicy, ambos pré-candidatos ao Senado. "Ele tem consciência do seu papel e o que ele transmite é que a gente mantenha a esperança. Os direitos políticos do presidente Lula não foram cassados", disse Marinho, que minutos antes havia reafirmado a candidatura: "Lula deve ser o nosso candidato a presidente".
Depois dos sambistas da Santa Bárbara e da Tuiuti – que fez sucesso no carnaval deste ano com críticas políticas, inclusive ao "vampiro Temer" –, incluindo Grazzi Brasil, subiu ao palco a cantora e deputada Leci Brandão (PCdoB). Às 20h25, começou a apresentação da última atração do 1º de Maio, Lineker e os Caramelows. Ela também pediu um minuto de silêncio.
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