DANOS IRREPARÁVEIS
Acadêmicos falam sobre incêndio no Museu Nacional: 'A história foi queimada'
Associação Nacional de História criticou a Emenda Constitucional do Teto de Gastos, elaborada pelo governo Temer
por Redação RBA publicado 03/09/2018 11h54, última modificação 03/09/2018 13h27
TÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL
Professora isentou a UFRJ de culpa na tragédia no museu e culpabiliza corte de gastos do governo e Estado mínimo
São Paulo – Após o incêndio que tomou conta do Museu Nacional do Rio de Janeiro, na noite de domingo (2), acadêmicos lamentaram a tragédia e classificam as perdas como "irreparáveis". Por meio das redes sociais, criticaram a falta de políticas públicas, por parte do governo federal, para conservar o patrimônio cultural.
Ivana Bentes, professora e pesquisadora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz a "história do Brasil foi queimada". Ela lamenta que o museu sobrevivia com o mínimo de recursos do Estado. "20 milhões de peças e documentos destruídos! Camadas de tempo e de história e conhecimento. 200 anos de documentos, toda a história do império queimada, paleontologia, antropologia do Brasil", publicou.
Já a antropóloga Alba Zaluar nomeou o caso como "a perda do maior acervo de egiptologia e outras artes antigas no Brasil". "Tantas vezes seus diretores, meus amigos, denunciaram o abandono e a falta de manutenção deste patrimônio federal, crucial para o Brasil porque guardava tanto da sua história.
Estou em estado de choque", lamentou, por meio de sua página no Facebook.
Estou em estado de choque", lamentou, por meio de sua página no Facebook.
A Associação Nacional de História (Anpuh) manifestou em nota repúdio ao abandono do Museu e criticou a Emenda Constitucional (EC) 95, do governo de Michel Temer, a chamada Lei do Teto de Gastos. "Esta é uma perda irreparável. Quando um país desqualifica sua cultura, seu conhecimento e sua ciência. Quando se congela recursos para a ciência e a educação. A falta de recursos para a segurança, para as reformas necessárias, já vinha sendo denunciada há muito tempo. Esta irresponsabilidade tem nome e endereço", afirma a entidade.
Thais Mayumi, museóloga do Museu Nacional do Rio, afirmou, em seu perfil no Twitter, que o descaso com o instituto é histórico. "Tinham cartas de diretor do Museu reclamando de descaso e falta de verbas desde o século XIX. São 200 anos de abandono. A gente sempre soube, nossa tragédia é mais do que anunciada", denuncia.
Ivana isentou a UFRJ de culpa na tragédia. Ela também afirma que o Brasil "dá as costas" para a cultura, ao lembrar também do incêndio no Museu de Arte Moderna (MAM), em 1978, e no Museu da Língua Portuguesa, em 2015. "Essa precariedade não é descaso da UFRJ, não existe política pública para manter e conservar nosso patrimônio. É essa a política que está destruindo o país: Estado mínimo, plataformas privatizantes, odiadores da cultura, políticas de desinvestimento no comum!", acrescentou.
Em nota, a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (ApqC) também se manifestou. Além de expressar tristeza sobre as perdas materiais no incêndio, a associação lembra que o Museu não é único que sofre com a falta de investimentos. "Há ausência de políticas públicas voltadas para a preservação de acervos e investimentos em pesquisas. No Estado de São Paulo, por exemplo, os institutos representados pela APqC estão trabalhando há anos no limite. O recente incêndio no Instituto Butantan é prova disso", critica.
Para o ApcQ, o Brasil está diante de uma tragédia anunciada. "Antes que outras destruições irreparáveis voltem a acontecer é preciso que os pesquisadores científicos se organizem para manifestar seu repúdio e exigir dos governantes uma resposta rápida e efetiva aos problemas há muito apontados por nós. É preciso que a sociedade se conscientize e esteja ao lado dos pesquisadores nessa luta. Um povo sem memória é um povo sem história", finaliza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário