Política
é “caso de polícia”?
A primeira reação de que havia uma descrença na
política entre a população foi percebida, há alguns anos, quando se ouvia muito
a expressão “político é tudo ladrão” em qualquer roda de conversas. A nossa
mídia se incumbia de colocar todos em um mesmo nível e confundir cada vez mais
o povo.
O segundo sinal de alerta foi percebido nos últimos
anos, quando a violência se tornou assunto corriqueiro em todos os veículos de
comunicação e se transformou na principal conversa entre os cidadãos comuns. Jornais,
revistas, rádio e televisão dão cada vez mais espaço para notícias de crimes,
assaltos, violências, etc. Em cada roda de conversa que se chegue esse é o tema
comum. Antigamente era comum entrar em um bar e ver que a principal discussão
era futebol. Hoje é a violência... Quem matou? Quem morreu? Como foi o
acidente? Coisas assim. Ou seja, o crime e a violência tornaram-se banais
atualmente.
Então não devemos estranhar o fato de que esse seja o
tema principal de um dos candidatos à presidência do país e que se torne uma
máquina de criar votos para a direita que adora pregar esse pânico e levar,
cada vez mais, à quebra de todos os sentimentos de coletividade que ainda
tínhamos como nação.
Trabalho importante foi feito pela Intervozes nesse
sentido e divulgado pela revista Carta Capital. Em matéria assinada por Olívia
Bandeira, da Intervozes, o quadro fica bem claro e não deixa margens para
dúvidas.
A matéria diz que, nas atuais eleições, em dez estados
(PA, CE, PB, PE, BA, MG, RJ, ES, SP e PR) e no Distrito Federal quase 800
profissionais da segurança - entre policiais militares e civis, bombeiros,
militares reformados e membros das forças armadas - concorrem a cargos
eletivos.
O levantamento, realizado pelo Intervozes, aponta ainda
23 apresentadores e repórteres de programas policialescos candidatos a deputado
estadual, deputado federal e ao Senado representando esses estados.
Para se ter uma ideia, 170 dos 799 candidatos vindos do
campo das forças de segurança, nos estados pesquisados, integram o partido de
Bolsonaro. E 204, de diferentes partidos, disputam vagas pelo Rio de Janeiro.
Beneficiando-se ilegalmente do tempo que ocupam nas
emissoras de rádio e TV para a promoção de suas imagens, tais comunicadores
propagam nos programas um discurso que alimenta suas propostas de campanha: ao
longo do ano, banalizam a violência e disseminam o medo, incentivando
frequentemente a violação dos direitos humanos; nas eleições ou em sua atuação
nas casas legislativas, depois de eleitos, defendem o tema da segurança pública
a partir de um foco restrito, sobretudo, no endurecimento das leis penais.
As propostas sobre segurança pública dos candidatos
apresentadores e repórteres de programas policialescos enfatizam, como vimos,
leis penais mais duras e armamento da população como soluções quase exclusivas.
E o mesmo acontece com as propostas de candidatos oriundos das forças de
segurança. Pesquisa realizada desde 2014 pelo Instituto Sou da Paz revela que a
maior parte das propostas legislativas sobre segurança pública e justiça
criminal apresentadas ao Congresso Nacional são de endurecimento penal, mas
pouco se discute se elas são realmente eficazes ou quais seriam seus efeitos
jurídicos, sociais e orçamentários. À frente dessas propostas estão exatamente
esses parlamentares. (* O levantamento do
Intervozes foi realizado pelos pesquisadores Alex Hercog (BA), Brenda Takeda
(PA), Cinthya Paiva (ES), Eduardo Amorim (PE), Gesio Passos (MG), Gyssele
Mendes (RJ), Helena Martins (CE), Iago Verneck Fernandes (SP), Lizely Borges
(PR), Mabel Dias (PB) e Ramênia Vieira (DF). Coordenação de pesquisa: Bia
Barbosa e Olívia Bandeira).
• Causa ou consequência?
Sim, temos visto o crescimento desse sentimento de violência na sociedade e o
quase abandono de estudos mais sérios sobre a história e origem desse fenômeno,
mas certamente não podemos fechar os olhos diante a imensa quantidade de
postagens nas redes sociais com eleitores do chefe fascista do PSL portando
armas de grosso calibre como em uma aberta ameaça, desde já.
Na terça-feira (02), em Curitiba, o advogado e
professor de Direito Administrativo Tarso Cabral Violin saía de um restaurante
acompanhado de sua filha de 12 anos quando foi abordado, já no estacionamento,
por dois policiais militares. Um deles se aproximou do carro e disse que o
adesivo colado no vidro traseiro era ilegal, pois trazia a imagem do
ex-presidente Lula. Ele explicou que não era ilegal, usando o conhecimento da
Lei, e disse que estava apenas exercendo o seu direito à liberdade de
expressão.
Curioso, perguntou ao policial a razão da abordagem e
ouviu uma estranha explicação: o militar afirmou que fora convocado ali “por
uma juíza de nome Camila, que também almoçou no restaurante” e teria ficado
incomodada com a imagem. Depois os policiais foram embora, sem agressões ou
mais discussões.
Também no Paraná acontece outro caso interessante. A
procuradora do Ministério Público do Trabalho do Paraná, Cristiane Maria
Sbalqueiro Lopes, tomou conhecimento de um estranho caso: o diretor-presidente
da rede de supermercados Condor, Pedro Joanir Zonta, havia expedido uma carta
aos 12 mil empregados coagindo-os a votar no candidato Jair Bolsonaro nas
eleições do próximo domingo, imediatamente o convocou para prestar
esclarecimentos ao MPT.
Na carta enviada aos funcionários, Zonta afirma “meu
voto é no Bolsonaro” e justifica a opção pelo fato do candidato “não ter medo
de dizer o que pensa; protege os princípios da família, da moral e dos bons
costumes; luta contra o aborto e contra a sexualização infantil; é a favor da
redução da maioridade penal e segue os valores cristãos”. Atribui à esquerda “o
fim da família; o agravamento da crise econômica; a corrupção; o desemprego; o
aumento da criminalidade e a transformação do Brasil em uma Venezuela”. Encerra
com o compromisso de que “não haverá de forma alguma, corte no 13º e nas férias
dos colaboradores do grupo Condor”.
Em Santa Catarina, Luciano Hang, dono das lojas Havan,
com mais de 120 unidades espalhadas pelo País, coagiu e pressionou por meio de
um vídeo interno seus 15 mil empregados a votar em Bolsonaro. Afirmou que, caso
um “candidato de esquerda” vença a eleição presidencial irá repensar o futuro
da empresa e “talvez venha a fechar algumas lojas. Você está preparado para
sair da Havan? Você, que sonha ser líder, gerente, crescer com a Havan, já
imaginou que tudo isso pode acabar dia 7 de outubro? (...) Se você não votar,
se você anular seu voto, se você votar em branco e a esquerda ganhar, e nós
virarmos uma Venezuela, vou dizer pra (sic) vocês: até eu vou jogar a toalha”,
afirmou na gravação.
Campanha Paulo Teixeira 1398 e Carlos Neder 13999
Haddad 13, em Bauru. no Calçadão da Batista, sofre repressão policial com
material totalmente legal. Ivan Scromov e Cláudio Lago estavam panfletando,
quando os policiais chegaram e apreenderam o material, levando Cláudio Lago.
Através das redes sociais tomamos conhecimento de vários casos graves. Uma
senhora que foi agredida por dois rapazes porque estava distribuindo material
de campanha do Haddad; um homem que teve o seu carro quebrado no estacionamento
porque tinha adesivos do PT no vidro; policiais que invadem carros e
residências de candidatos tomando todo o material de campanha, de forma ilegal;
ameaças pela internet contra conhecidos militantes do PT e da esquerda (inclusive
quem escreve este Informativo).
Na terça-feira (02), a Frente Parlamentar da
Agropecuária, que reúne 227 deputados e 27 senadores da bancada ruralista,
declarou seu apoio ao candidato do PSL. Um endosso esperado diante da
performance de Bolsonaro em estados onde o agronegócio desempenha papel
relevante. Em uma pesquisa Ibope divulgada na semana passada, a intenção de
votos dos presidenciáveis nos estados com maior concentração de áreas rurais e
terras indígenas mostra uma consistente adesão ao capitão reformado do
Exército. Ele chegava a ter 53% das intenções de voto no Acre e 52% em
Rondônia. No Mato Grosso do Sul e Goiás, ele tinha mais de 35%, segundo o
Ibope. Em Tocantins, domicílio eleitoral de Kátia Abreu, também supera 30% das
intenções de voto. E devemos lembrar que nessas regiões a violência armada
contra lideranças sindicais, populares e camponesas é conhecida e assustadora.
Serão essas atitudes uma amostra do que pode acontecer
no Brasil caso essa direita saia vencedora? Quem viveu o período de
autoritarismo, da ditadura militar, conhece muito bem o que é isso.
• “Eles” já bateram o martelo? O resultado das eleições presidenciais ainda não está
definido, mas temos a impressão que o grande capital já dá como certa a vitória
do seu candidato e que o Brasil vai retomar, integralmente, sua submissão ao
mercado internacional e aos desígnios da Casa Branca.
Em matéria divulgada pelo jornal (golpista) O Estado de
São Paulo ficamos sabendo que empresários estrangeiros e brasileiros já estão
fazendo planos e agora sugerem que o Brasil se prepare para negociações bilaterais
com os EUA. De maneira servil, alertam que as críticas feitas por Donald Trump
contra as medidas protecionistas brasileiras devam ser vistas como uma
estratégia da Casa Branca para negociar.
John Denton, presidente da Câmara de Comércio
Internacional (ICC, sigla em inglês), considera que o Brasil precisa se
preparar para negociar com os estadunidenses. “Todas as políticas de governo
que não contemplem negociações bilaterais não estariam fazendo justiça aos
cidadãos do país. Isso deve ser uma opção. E o País deve estar preparado”,
afirmou Denton, que representa seis milhões de empresários em mais de cem países.
Daniel Feffer, presidente do escritório da ICC no
Brasil e vice-presidente do Conselho de Diretores da Suzano Papel e Celulose
S/A, vê os comentários de Trump como um sinal do que pode vir pela frente. “O
que certamente Trump está fazendo neste momento é demonstrando o estilo dele de
negociar perante o novo governo que vai chegar no Brasil”, declarou. “Está
mostrando que é assim que a gente joga, põe o pé na porta e depois entra para
conversar”, afirmou.
Na avaliação de Feffer, Trump também tem suas
dificuldades no comércio com o Brasil. “Vamos ter de mapear, como estão os
subsídios estadunidenses para diversos setores da indústria, explícitos ou não.
Isso vai entrar na pauta”, disse. De acordo com dados da Confederação Nacional
da Indústria, 83,4% de tudo o que o Brasil hoje exporta para os EUA são bens
industrializados.
• Idosos no mercado de trabalho. Ao longo dos últimos anos, a participação de pessoas
com idade superior aos 60 anos vem aumentando na força de trabalho do país.
Além do envelhecimento da população, os idosos estão adiando a saída do mercado
por temerem as perdas na renda com as constantes “reformas” na Previdência
Social ou por necessidade de sustentar a família onde os jovens já não
encontram empregos.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), apesar de os idosos serem o grupo com menor participação no
mercado, este percentual vem aumentando, passando de 5,9% em 2012 para 7,2%
este ano. São 7,5 milhões de idosos na força de trabalho.
As análises dos dados mostram ainda que, apesar do
preconceito, a aceitação aos idosos está aumentando, já que a população de
maneira geral também está envelhecendo.
Mas há também o agravante de que as dificuldades
financeiras das famílias torna-se um dos motivos para os idosos continuarem no
mercado ou voltarem ao trabalho. “Até pela crise, tem uma maior procura de trabalho
pelos idosos, mesmo aposentados, dada a necessidade de aumentar a renda
familiar”, explicou.
Os dados da Pnad Contínua apontam que, do segundo
trimestre de 2017 ao primeiro trimestre deste ano, 46% dos trabalhadores
ocupados com mais de 60 anos de idade moravam no Sudeste, 56% eram mulheres e
63% se declararam como chefes de família. Apenas 27% estavam no mercado formal,
enquanto 45% atuavam por conta própria. Dentre os setores da economia, o
comércio absorveu 17% desses trabalhadores, 15% estavam na agricultura e 10%
atuavam no setor de serviços relacionados a educação e saúde. Do contingente de
trabalhadores com mais de 60 anos, 67% têm apenas o ensino fundamental
incompleto e 25% têm escolaridade média ou superior.
O resultado é fácil de prever: a participação dos
idosos no mercado de trabalho avança, enquanto cai a da população mais jovem.
Conforme a Pnad Contínua, nos últimos 5 anos, o contingente dos trabalhadores
ocupados com idade entre 18 a 24 anos recuou de 14,9% para 12,5%, enquanto
daqueles com mais de 60 anos passou de 6,3% para 7,9%.
• Desemprego e informalidade crescem na região. Depois dos golpes comandados por Washington,
derrubando governos progressistas na região, a situação da América Latina é
cada vez mais preocupante. Milhões de pessoas trabalham na informalidade, sem
contribuir para a previdência social, o que compromete a arrecadação de uma
futura aposentadoria, advertiu a Organização Internacional do Trabalho (OIT) na
terça-feira (02).
“Há um aumento na incerteza em termos de mercado de
trabalho”, disse Guy Ryder, diretor-geral da OIT, na abertura da Reunião
Regional Americana no Panamá. Depois de um período de avanços sociais, no
início do século, o quadro está novamente deteriorando. No primeiro semestre de
2018, a taxa de desemprego subiu para 8,8% e afetou pelo menos 26 milhões de
pessoas, segundo a OIT. E o relatório diz que 40% dos desempregados da região
são jovens.
“É improvável reverter a tendência negativa dos últimos
anos. Estamos enfrentando uma situação de desemprego que se qualificaria como
preocupante”, disse Ryder. Anunciou ainda que mais da metade dos trabalhadores
(53%) na América Latina trabalha informalmente.
Com esse panorama, de acordo com a OIT, será um
"verdadeiro desafio" atender aos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), um conjunto de compromissos adotados em 2015 por 193 líderes
mundiais para erradicar a pobreza e a desigualdade em 2030.
• OIT se preocupa com a proteção social. Um dos grandes desafios em Nossa América é a questão
da proteção social dos trabalhadores, a maioria dos quais não contribui para a
previdência social, o que compromete seu acesso à aposentadoria. E os dados
demonstram que, na América Latina, quase 71% dos idosos recebem algum tipo de
pensão, enquanto apenas 28,9% das pessoas em idade ativa contribuem.
Na América Latina, apenas Bolívia e Guiana têm
cobertura de aposentadoria superior a 90%. São seguidos por Argentina, Chile,
Uruguai, Brasil, Colômbia, Venezuela, Equador, Costa Rica, Honduras e Belize. A
cobertura em México, Nicarágua, Panamá e Paraguai varia entre 20% e 49%,
enquanto na Guatemala, em El Salvador e no Peru não chega a 20%.
• Desigualdade de gênero. A desigualdade entre mulheres e homens no acesso ao mercado de trabalho
e nas condições de trabalho são ainda a grande preocupação quando tratamos da
América Latina. Os informes foram dados por Alicia Bárcena, secretária
executiva da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal).
As taxas de desemprego entre as mulheres continuam
entre as mais altas (10,7%) e a metade das mulheres ocupadas estão em setores
de baixa produtividade, como o trabalho doméstico, o trabalho avulso não qualificado,
etc. São submetidas a baixos salários, baixa proteção social e longas jornadas.
Em geral recebem salários 16,1% menores do que os homens em igual situação.
• Novo “acordo” (1).
No início do processo de globalização neoliberal vimos e comentamos várias
vezes sobre a política de criação de pactos econômicos entre grupos de países
que facilitavam o controle da produção e do comércio internacionais. Com a não
superação da crise de 2008 que se aprofunda ainda mais, o capitalismo precisa
remodelar esses acordos e fazer frente à ameaça da China e da Rússia no
mercado.
Estados Unidos, Canadá e México anunciaram no domingo
(30) um novo acordo econômico que substitui o Tratado Norte-Americano de
Livre-Comércio (NAFTA). Por motivos que ainda desconhecemos, a participação
canadense só foi confirmada na data limite estabelecida. Mas o novo pacto se
chamará Estados Unidos-México-Canadá ou USMCA (sigla em inglês). Anualmente, as
trocas entre os países totalizam um trilhão de dólares.
A entrada do Canadá no novo pacto trilateral ocorre
pouco mais de um mês após México e Estados Unidos iniciarem as negociações. No
dia 27 de agosto, os dois países acordaram entrar em fase de renegociação, em
sintonia a uma das promessas da campanha do presidente Donald Trump, que sempre
dirigiu críticas ao Nafta.
Após mais de um ano com um histórico de incertezas e
promessas de recuo por parte de Trump, o pacto comercial redesenhado
estabelece, de forma inédita, regras para serviços financeiros e negociações
digitais – ferramentas que surgiram após o NAFTA, criado em 1994.
• Novo “acordo” (2).
Ao contrário do que esperavam alguns analistas depois das ameaças e chantagens
de Trump, o NAFTA não foi rompido, mas mudou um pouco os seus limites
ampliando, é claro, o protagonismo estadunidense entre os três países.
E foram eliminados os termos do acordo anterior que
obrigavam os países a continuar exportando os recursos naturais que tentam
conservar. Em outras palavras, não consta mais do novo acordo o que era chamado
de “proporcionalidade energética” que obrigava o Canadá a exportar uma
determinada quantidade de energia para os EUA. Também não podem mais ser
limitadas as exportações ou importações de combustíveis fósseis. Mas Trump
alcançou uma grande vitória – infelizmente para nós – pois retirou do acordo o
compromisso de cumprir com as metas de luta contra a mudança climática (nova
nomenclatura que criaram para ‘aquecimento global’).
• Novo “acordo” (3).
Não chega a surpreender que a questão climática tenha desaparecido do novo acordo.
Não só era um discurso frequente de Trump como, também, uma exigência das
grandes empresas interessadas em aproveitar a quebra de fronteiras tarifárias
para se instalarem nos outros países.
Mas devemos ficar ainda mais atentos porque, no novo
documento, as cláusulas de proteção trabalhista e ambiental deixaram de ter
normas regulamentadoras. Ou seja, são apenas “indicativos” ou “recomendações”
sem qualquer forma de controle ou de punição.
Mas, atenção! O USMCA traz uma armadilha na questão da
água, já chamada de “ouro azul" por muitas organizações ambientais. O
NAFTA definia a água como um “vem totalmente comercializável” e o Canadá não
tinha como limitar a exportação de sua água para os EUA.
Pelo novo acordo, há uma limitação dessa
comercialização. Mas, como no caso das proteções trabalhistas, não passam de
indicativos, boas intenções, etc. Nada que defina uma garantia contra essa
comercialização. Por exemplo, as “recomendações” referem-se apenas a água em
estado natural. Mas se uma grande indústria (a Nestlé, por exemplo) engarrafar
para a venda a exportação é livre!
• Novo “acordo” (4).
Na questão dos medicamentos Trump parece ter alcançado uma grande vitória.
Canadá e México se conformaram com as novas exigências da poderosa indústria
farmacêutica dos EUA (seis empresas entre as 11 maiores do mundo).
As patentes sobre medicamentos passam a vigorar por 10
anos (eram apenas 5 anos pelo NAFTA). São medicamentos caros (entre os mais
caros do mercado) e vitais para tratamentos de artrites, doença de Crohn e
outras.
Analistas da área já calculam que a mudança sobre o
prazo dessas patentes vai empurrar para cima o preço desses medicamentos que
são fundamentais para doentes crônicos. Em um cálculo rápido, já anunciaram que
essa prorrogação no prazo das patentes vai aumentar os gastos públicos do
Canadá em 800 milhões de dólares ao ano!
• É para preocupar? A
guerra comercial entre EUA e China já se arrasta há algum tempo e o cenário
mundial está sendo muito influenciado por isso. Agora temos a notícia de que o
governo chinês teria ampliado as tarifas alfandegárias de quase todas as
importações dos EUA, mas o petróleo estadunidense não estava entre os produtos
taxados. Porém os compradores de combustíveis locais decidiram não mais comprar
o petróleo por motivos econômicos.
Em outras palavras: o fornecimento de petróleo dos EUA
para a China está completamente paralisado, segundo declarou Xie Chunlin,
presidente da empresa China Merchants Energy Shipping. “Nossa empresa é uma das
principais transportadoras do óleo dos EUA para a China. Antes da guerra comercial,
tínhamos um bom negócio, mas agora está completamente prado”, diz ele em uma
entrevista para a agência Reuters.
O efeito, segundo alguns estudos já feitos, foi a queda
da importação que caiu de 13,9 milhões de barris, em maio, para apenas 0,6 milhões
de barris, em setembro. Certamente um “baque” nas finanças das grandes empresas
estadunidenses.
• 2008 ainda não acabou!
Durante a semana recebemos o relatório da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE) e vimos que a sombra (ou as sementes) da crise
de 2008 persistem e podem demorar a desaparecer. E a “dor de cabeça” já começa
quando vemos que houve uma revisão para baixo da projeção de crescimento do
Brasil neste ano, dos 2% previstos em maio para 1,2%.
Mas as notícias não são boas, como dissemos. O
documento diz que a expansão econômica global, importante principalmente para
os países dependentes da exportação de commodities, parece ter atingido seu
pico, com perspectivas de crescimento divergentes em todo o mundo e intensificação
dos riscos.
Espera-se uma escalada de tensões comerciais, situações
de aperto financeiro nos países emergentes e riscos políticos generalizados. Ou
seja, não dá para ter esperanças sobre um crescimento mundial forte e sustentável
a médio prazo, alerta o organismo. A OCDE prevê que a economia global cresça
3,7% em 2018 e 2019, pouco abaixo dos 3,8% estimados em maio, com diferenças
cada vez maiores entre os países em contraste com a ampla expansão observada no
fim de 2017 e no início deste ano.
Os sinais agora recolhidos indicam a exaustão da
política que associa liberdade sem limites para a iniciativa privada, em
especial para as multinacionais, à derrubada das salvaguardas nacionais,
combinação apresentada sob o título de “globalização econômica”, um dos pilares
do neoliberalismo como solução para o mundo há cerca de 40 anos.
Ao empurrar o modelo de globalização do Pós-Guerra além
de seus limites, economistas e formuladores de políticas negligenciaram o que
havia sido o segredo de seu sucesso original. O resultado foi uma série de decepções.
A globalização financeira acabou promulgando instabilidade em vez de maior
investimento e crescimento mais rápido. Dentro dos países, gerou desigualdade e
insegurança em vez de oportunidades iguais para todos.
O sistema de produção global moveu-se do comércio de
mercadorias e serviços para o de informação, com as corporações multinacionais
tentando obsessivamente evitar vazamentos de propriedade intelectual para os
concorrentes.
• A dívida estadunidense bate recorde! A dívida pública dos EUA bateu recorde ao ultrapassar
a marca de US$ 21,5 trilhões na sexta-feira (28/08), último dia útil do ano
fiscal de 2018. Foi uma alta de US$ 1,2 trilhão em relação ao período anterior.
Não é o único sinal de alerta. No mês passado, o Escritório de Orçamento do
Congresso disse que o endividamento federal nos primeiros 11 meses do ano
fiscal de 2018 atingiu US$ 895 bilhões, US$ 222 bilhões a mais do que nos
primeiros 11 meses do ano anterior.
O déficit orçamentário deve subir acima de US$ 1
trilhão até 2020. Mas o endividamento federal também ocorre fora do orçamento
formal, inclusive para vários programas de empréstimo, e o ritmo de crescimento
da dívida já ultrapassou US$ 1 trilhão por ano.
Em entrevista ao serviço russo da Rádio Sputnik, o
economista do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas da Rússia, Aleksandr
Abramov, explicou que o recorde foi provocado, provavelmente, por problemas
como a reforma fiscal e outros benefícios que cortaram parte das receitas do
orçamento.
Para ele, ao adotar a reforma fiscal, os EUA esperavam
o surgimento de novos rendimentos daqui a algum tempo. Mas isso ainda não
aconteceu. Por isso, o mundo espera dos EUA “explicações mais ou menos claras
do que acontecerá depois”. “Temos que assinalar que, enquanto os EUA forem
capazes de cumprir seu serviço de dívida, ou seja, de pagar sem atraso, é pouco
provável que algum dos investidores possa reclamar quanto ao nível alto da
dívida”.
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