09 DE OUTUBRO DE 2018, 18H00
Vencer o fascismo não é uma questão partidária
Daniela Lima escreve em novo artigo: “O fascismo transforma insatisfação em ódio, ao determinar um inimigo que se torna automaticamente responsável por todas as frustrações de uma determinada coletividade”
Em uma carta aberta publicada ontem, o sociólogo Manuel Castells alerta para o perigo da vitória do fascismo no Brasil. Castells acrescenta que não é mais uma questão partidária, ou seja, de apoiar ou não o PT, mas “da defesa da humanidade”.
Desde a divulgação das primeiras pesquisas de intenção de voto favoráveis ao candidato de extrema direita, a violência vem crescendo nas ruas. No dia 3 de outubro, um cachorro foi morto a tiros na Bahia, após latir para uma carreata que apoiava esse candidato. No dia seguinte, tiros foram disparados em um conhecido reduto de esquerda no Rio de Janeiro. Era um ato de apoio ao mesmo candidato.
Embora as ruas mostrassem uma ascensão da violência legitimada pelo discurso de ódio próprio do fascismo, ainda havia quem subestimasse seu possível avanço. No entanto, na madrugada de 8 de outubro, após a divulgação de uma votação expressiva no candidato de extrema direita, o mestre de capoeira Moa de Katende foi assassinado por ter dito que votou no PT.
Foram desferidas 12 facadas contra o mestre Moa, o que caracteriza crime de ódio. O fascismo traduz conflitos sociais e políticos unicamente em função do extermínio daquele considerado “outro” (e, em uma sociedade racista, machista e homofóbica, sabemos quem é o “outro”).
Esse cenário hediondo se delimitou apenas com o resultado favorável do primeiro turno, uma vitória do fascismo seria uma passagem ainda mais radical para a necropolítica. Ou seja, para o exercício arbitrário do poder que determina quem pode viver e quem deve morrer. Os filhos do candidato, que se elegeram deputado federal e senador, dizem que vão mudar o país “na bala” e divulgam fotos de pessoas torturadas com a hashtag ‘ele não’ no peito.
Domingo à noite, em um dos telejornais mais assistidos do Brasil, o candidato de extrema direita disse que quer acabar com “todo o ativismo”, se referindo aos movimentos sociais que, em sua concepção antidemocrática, dividem o país. Uma das ações que refletem esse discurso aconteceu no Rio de Janeiro, quando dois candidatos aliados do militar destruíram a placa que homenageava a vereadora Marielle Franco. Marielle representava a luta das mulheres, das pessoas de favela e dos LGBTs.
O fascismo transforma insatisfação em ódio, ao determinar um inimigo que se torna automaticamente responsável por todas as frustrações de uma determinada coletividade. Oferece um bode-expiatório em lugar de soluções programáticas para a insatisfação com o estado de coisas. Por isso, é importante ler e comparar programas de governo.
Não se trata mais de questões partidárias, mas da defesa da democracia contra a barbárie. Não se trata mais de orientação política, mas da defesa da humanidade.
O voto do segundo turno é, antes de tudo, um veto ao fascismo.
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